~ Capítulo 9 ~

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Capítulo 9

A semana passou lentamente sob o julgo de um medo compartilhado. As famílias abastadas da região tremiam de medo, mas logo as asinhas começaram a ser colocadas de fora. Julgavam que a mensagem dizia respeito quase que exclusivamente aos Al Bir e que, portanto, era um dever deles destituir a família que há anos estava no poder e formarem um novo poder com uma nova família.

Agora que o sucessor seria Khaled e, por conseguinte, Jamile ao seu lado, as vozes apreensivas com a desculpa de que os sucessores eram muito novos só aumentavam. Os rumores de que alguém tentaria alguma coisa só cresciam. No meio dessa história toda, Jamile só conseguia se lembrar das palavras de Khaled para todos que estavam presentes na festa:

― Seja quem for o terrorista que matou o meu pai, ouçam o que estou falando, eu o caçarei com as minhas próprias mãos. Eu encontrarei o culpado e o matarei com minhas próprias mãos. Vocês ouviram? ― Khaled parecia assustador ao falar. Os olhos caminhavam por todos os presentes como quem não tem pressa de escrutinar os presentes atrás do infeliz. E agora, conforme a semana passava, Jamile percebia que Khaled, de fato, não estava brincando.

Sua promessa parecia mais firme do que nunca.

Jamile sentiu o corpo de Khaled afundar na cama ao seu lado e depois abraçá-la soltando um suspiro. Abriu os olhos só para encarar o relógio digital ao lado da cama e ver que eram quase três horas da manhã. Parecia que aquela era a nova rotina do seu marido. Ir dormir as três da manhã, acordar as seis, continuar procurando sempre. De fato, Khaled não parava de procurar o culpado mesmo que isso esgotasse as suas forças para lutar contra as famílias que ameaçavam um levante.

― Khaled... ― Ela disse tocando-lhe a face já quase adormecido.

Não sabia explicar porque seu peito já apertava ao olhá-lo. Seus sentimentos, de fato, vinham mudando pouco a pouco. Não poderia dizer, não ainda, que o amava, mas a sensação de que queria que ele ficasse protegido, de que queria cuidar dele e aliviar suas dores era grande. Jamile queria que Khaled ficasse bem e isso era tão forte que seu coração batia dolorosamente no peito a simples ideia de que se eles não se defendessem, Khaled seria executado em praça pública pela nova família que conseguisse tomar o poder.

― Dorme, Jamil... Ainda não sabemos se você está grávida, mas se estiver... Precisa se cuidar... ― Jamile concorda ainda que seus olhos continuem bem abertos até ouvir o ressoar baixinho de que Khaled finalmente dormiu.

Jamile decide fazer alguma coisa, por menor que seja enquanto Khaled não tem ideia do levante que aparentemente se forma. Decide que vai colocar suas ideias em ação. Talvez com a ajuda do povo, nada aconteça. Acredita fielmente que o povo os auxiliaria se fossem bem assistidos.

― Não há necessidade disso. ― Diz Khaled quando ela conta o seu plano. Estão tomando café da manhã, mas Khaled já se prepara para sair.

― Por favor, marido, permita-me. ― Khaled a olha. Está muito cansado, mas seu coração amolecido pela esposa acaba aceitando.

― Tudo bem, desde que vá com Isa e chame Fahr e Ji para a acompanharem. ― Jamile abre um largo sorriso ao ver que ele aceitou. Khaled então beija-lhe carinhosamente os lábios e se despede saindo para mais um dia de trabalhos que, sinceramente, pareciam infrutíferos para a jovem.

E então Jamile começa o que julga certo. Começa a distribuir sopa para a população carente, passa a costurar com outras mulheres, dando-lhes suprimento para isso, roupas para crianças de orfanatos e começa a fazer doações volumosas para asilos e orfanatos. Inaugura uma nova ala no hospital da região, que era pobre o suficiente para ter uma área cirúrgica e trabalha incansavelmente como o marido.

Sua próxima ação ela sabe que vai demorar bastante e, para isso, começa a assistir documentários, ler livros e fazer pesquisas. Não quer ser também uma colaboradora para que famílias se entreguem como escravos por falta de condições melhores de vida, tampouco que sejam capturados por indivíduos inescrupulosos.

Enquanto isso, o tempo vai passando.

Sem ter sentido tonturas e enjoos, Jamile demora a perceber que está grávida. Khaled também. Não a procura tantas vezes, pois quase sempre desmaia na cama, mas as vezes que procura não são suficientes para que ele perceba que ela parou de sangrar. Jamile também, vai se dar conta disso com quase três meses de gravidez, quando inaugurando um orfanato, acaba passando mal.

É quando é levada ao hospital e descobre. Khaled vem a sua procura o mais rápido que consegue e a abraça num misto de alegria e felicidade que Jamile compartilha entre lágrimas. Sua vida mudara muito desde quando era uma simples feirante e, embora quisesse ser mãe e tivesse esse sonho, não conseguia deixar de agradecer aos céus por essa dádiva na sua vida.

Mesmo com os protestos de Khaled, que embora assim fizesse, nunca a impedira de continuar, Jamile permaneceu trabalhando em prol dos fracos e oprimidos. E, de fato, sua ideia estava certa. Khaled percebera que as famílias estavam prontas para levantarem-se, mas com o apoio cada vez maior do povo que venerava sua esposa como uma verdadeira anja na terra, o medo de que um levante popular os matasse não permitia que as famílias mais ricas agissem de maneira alguma.

Ainda assim, Khaled sabia que precisava de um apoio mais forte. Precisava do apoio do príncipe regente. O voto que a família real havia feito há muito tempo tinha sido com o seu pai e não com ele. Tomando o apoio do Rei, seria muito mais difícil ainda que o poder saísse das suas mãos.

Khaled, de qualquer forma, nunca se vira tão feliz. Até sua querida mãe agora costurava roupinhas e ajudava e ia em alguns encontros com Jamile. Era, junto das orações, o que estava sustentando sua mãe no caminho, mantendo-a, ainda que em luto, ainda que numa tristeza gigantesca, firme e forte, sabendo que estava fazendo alguma coisa e que sua existência ainda tinha um grande significado.

A tudo isso, Khaled agradecia.

Por isso, ele partiria. Por isso, precisava permanecer no poder.

Beijou os lábios de Jamile sorrindo. A amava agora de uma maneira que ela talvez não entendesse e nunca fosse entender. Queria-a e a venerava porquanto temia também que alguma coisa lhe acontecesse.

― Vou viajar para Muscat hoje, mas volto já amanhã de manhã. Por favor, fique esses dois dias aqui dentro da mansão. Preocupo-me muito com a sua segurança e com a segurança do nosso bebê enquanto não estou aqui. ― Pediu abraçando a sua amada ao seu peito. Jamile inspirou o cheiro do rapaz que lhe acalmava e acalmava o bebê e assentiu.

― Tudo bem. Vou aproveitar para colocar algumas leituras em dia. ― Khaled abriu um largo e genuíno sorriso e anuiu.

O feliz casal só não imaginava que esse seria, talvez, o último encontro deles.

 O feliz casal só não imaginava que esse seria, talvez, o último encontro deles

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Desculpa a demora gente... Estou com alguns problemas pessoas, misturado com o fato de o ENEM estar chegando + minha completa falta de apatia em escrever quando eu mesma me coloco sobre pressão... Acaba que eu demoro para conseguir tempo e inspiração, tudo ao mesmo tempo, para vir aqui atualizar... 

Mas até novembro eu termino esse conto... Faltam cerca de três capítulos só para isso...

Mas... Agora chegamos num momento eletrizante da história... Preparadas?? rsrs

Bjinhoos

Diana.


A bela JamileWhere stories live. Discover now