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O quarto de Justin era bagunçado como o de todo garoto. Ele estava jogado entre os lençóis, de olhos fechado, com a expressão serena ele ficava realmente adorável.

-Hora de acordar, raio de sol – cantarolei baixinho, me deitando ao seu lado.

Ele sorriu preguiçosamente, passando braço ao redor da minha cintura.

-Você demorou, Kat – ele murmurou- já estava quase dormindo.

-São oito da manhã, Jus – beijei de leve sua bochecha- você já deveria estar de pé.

-Passei a noite no hospital com mamãe – ele me fitou, seus estavam olhos avermelhados.

Eu odiava quando ele chorava, me fazia sentir inútil por não poder conforta-lo.

-As coisas estão muito ruins?- perguntei, acariciando seus cabelos bagunçados.

-Eles vão começar esse remédio novo, ainda está em fase de teste, mas...

-Vai dar certo – garanti – sua mãe é forte, vai funcionar.

-Se não funcionar, ela vai...

-Shhh... – abracei ele com força- não pense nisso, ok? Ela vai ficar bem.

-Eu estou tão cansado disso, Kat – ele sussurrou- não sei quanto mais vou aguentar...

-Você é um Voight, amor – acariciei seu rosto – você é forte e não está sozinho. Eu vou estar aqui ao seu lado, não importa o que aconteça.

-Promete?- ele me olhou de modo intenso, quase implorando.

-Eu prometo – toquei meus lábios no seu- agora para de pensar nisso, só por agora, esqueça de tudo. Você pode fazer isso, por mim?

-Por você – ele sorriu fraco- como vão as coisas na sua casa?

-Thom foi embora, mamãe ainda está na mesma – dei de ombros.

-Sinto muito, sei que ele era como um pai pra você.

-Não sinta, foi melhor assim – sorri, garantindo que tudo estava bem – esse é o nosso lugar seguro, Jus. Não tem espaço pra preocupações aqui, certo?

-Certo – ele concordou, unindo sua boca a minha.

De todas as coisas acontecendo na minha vida, Justin era minha única certeza. E uma idéia estava rondando minha mente nas ultimas semanas, eu simplesmente não conseguia evitar. Eu estava pronta, queria me entregar a ele.

Aprofundei o beijo, correndo meus dedos até a barra de sua camisa. Paramos o beijo apenas para passar a blusa por sua cabeça.

Ele sorriu pra mim, dessa vez um sorriso verdadeiro e feliz.

Céus, como eu o amo.

Seus lábios seguiram pelo meu pescoço, explorando a pele exposta.

Coloquei minhas mãos em seu peito, o empurrando de leve para trás. Me coloquei sobre ele, uma perna de cada lado do seu corpo.

Ele riu baixinho, esperando pelo meu próximo passo. Deslizei minhas dedos sobre a sua pele, podia sentir seu coração acelerado sob a palma da minha mão.

Foi então que eu vi. Do lado direito, abaixo das costelas, a marca de nascença em sua pele.

Franzi o cenho, confusa por um momento. Eu tinha a mesma marca, no mesmo lugar. Mamãe me contou uma vez, que eu havia herdado ela do meu pai biológico.

-Kat?- Justin questionou, ao notar que eu paralisei.

Demorei apenas alguns segundos para compreender.

Não. Não. Por favor..

Meu Deus...

Quase consegui ouvir meu coração se partindo.

Sai de perto dele, tropeçando nos meus pés. Me esforçando para não cair aos prantos na frente dele

-Amor? O que foi? O que aconteceu?

Justin se colocou de pé, se aproximando de mim. Seus olhos corriam o meu corpo, procurando por algo errado.

As palavras da minha mãe fizeram sentido como nunca antes.

-Eu vou pro inferno – sussurrei, ainda em choque.

-Não, você não vai – ele estendeu sua mão pra me tocar, mas eu me esquivei- o que está acontecendo Kat?

-Isso não é justo - disse baixinho- você é tudo que eu tinha...não é justo...

-Você ainda me tem, Katy – ele agarrou minha mão, colocando sobre seu peito- sou seu.

Encarei ele, a dor no meu peito me deixando atordoada. Todos os planos, todo o futuro juntos estava desmoronando em segundos.

Ele era meu irmão. Justin Voight era meu irmão. Estávamos ligados por sangue. Ninguém poderia mudar isso.

-Kat...

-Eu amo você Justin – disse, seus olhos castanhos me olharam confusos.

-Você está me assustando, Kat.

-Eu tenho que voltar pra casa, minha mãe está me esperando – me soltei dele, ajeitando minha blusa.

-Não, você não vai a lugar nenhum...

-Preciso ir – me virei em direção a porta – só preciso ir...

-Não – ele me encarou.

Justin nem imaginava o quão terrível era a verdade, mas me conhecia bem o suficiente pra saber que eu estava partindo.

-Não me deixe... – sua voz estava se quebrando aos poucos- por favor...

Eu iria partindo coração dele, mas não chegava nem perto de como o meu estava quebrado. Se dependesse de mim ele nunca saberia. Justin já estava sofrendo tanto pela mãe.

-Eu não vou te deixar, Jus – olhei no fundo dos seus olhos – nunca. Podemos só deitar um pouco? Por favor.

Mesmo sem entender, ele assentiu. Justin não me deixaria sair, não quando sabia que algo estava errado.

Eu queria tanto correr pra bem longe, mas não podia fazer isso assim. Não com seus olhos me olhando daquela maneira.

Nos deitamos lado a lado, apoiei minha cabeça no seu ombro.

As lagrimas desciam silenciosamente, molhando o meu rosto cada vez mais.

-Vai ficar tudo bem, certo?- perguntou baixinho.

-Sim, vai ficar tudo bem- menti.

Mas tarde naquela mesma manhã, quando Justin adormeceu ao meu lado, eu sai do quarto, sem olhar para trás.

Eu tinha que partir, fugir pro lugar mais longe que conseguisse. E com sorte, mesmo que eu estivesse quebrada, ele ficaria bem.

Courageous - Chicago P.DWhere stories live. Discover now