Visitando a Dona Cordélia, descobri que é possível ser imortal.
Veja bem, ela foi casada por muitos anos com um marceneiro, então falecido, o Senhor Arnaldo. Ele foi um artista. Construiu pra ela inúmeros móveis, feitos da madeira de árvores que eles possuíam no quintal. As peças feitas por ele eram incrivelmente bem torneadas, e mesmo agora, 40 anos depois, ainda estavam impecáveis.
Ela retirou do armário diversas gamelas, de tamanhos e formatos variados, todas feitas por ele. Segundo Dona Cordélia, ele fez e refez os utensílios, até que ela estivesse satisfeita com o tamanho, peso e medidas da gamela. Finalizou a frase me entregando uma peça quase maior que eu, a qual ela encarava com orgulho.
Os olhos da senhora brilhavam ao falar de seu falecido marido, e em cada lembrança eu conseguia vê-lo. Não o conheci, tampouco o vi por fotos. Mas a memória do amor dela o trouxe pra mesa. As palavras dela eram carinhosas, como um café na casa da avó. Faz um bem danado.
Sei que enquanto ela respirar, vai falar assim dele. E ele será eterno.
KAMU SEDANG MEMBACA
Pequenas simples coisas.
AcakCausos e contos da minha passagem pelo interior no serrado mineiro.