Parte I- 01. Infância

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Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens
-Carlos Drummond


Com apenas cinco anos de idade já aparentar ter cerca de quinze anos era confuso, mesmo para mim, Renesmee Cullen, cercada de vampiros e lobisomens. Embora para mim fosse natural, já que isso era tudo o que eu conhecia. Os humanos com que tive contato eram vovô Charlie, Billy, Sue, e às vezes as noivas dos lobos. E Claire. Os passeios na cidade (poucos, aliás), não contam muito.

Não tenho certeza se em algum momento de minha curta vida, minha mente tenha funcionado como talvez devesse funcionar a de uma criança. Mas tenho quase certeza de que aos cinco anos, minha forma de ver e compreender as coisas estão muito mais amplas que há dois anos. Toda minha família sempre pareceu ter consciência –desde que nasci– que compreendia muito além do que me explicavam. Mas apenas Edward, meu pai, com seu poder de ler mentes, sempre soube com exatidão como isso era maior.

Cheguei a me perguntar se seria mais fácil ser inteiramente humana. Imediatamente obtive resposta: sim! Não teria tantos segredos a guardar da humanidade e teria mais tempo para me acostumar com as mudanças em meu corpo e em meu humor. Mas nem mesmo assim, me imagino sendo de outra maneira ou vivendo de outra forma. Sem meus avós Carlisle e Esme, meus tios Rosalie e Emmett, Alice e Jasper, meu pai, Edward, e minha mãe, Bella. E claro, meu Jacob. Minha amada família.

Lembro-me, sentindo meu coração apertar, de quando apenas em meu quarto mês de vida corri grande risco de perdê-los. Agarrada as costas de minha mãe, rodeada por minha família e amigos– vampiros e lobos–, assisti vindo em nossa direção, numa sincronia perfeita e pomposa, os mantos escuros dos Volturi.

Depois de uma longa, tensa e ameaçadora conversa, graças ao escudo mental de minha mãe vencemos sem que ao menos houvesse luta. Mas a lembrança da despedida de meus pais é dolorosa como se eu nunca mais os tivesse visto desde então. O lamento do enorme lobo castanho-avermelhado é quase tangível em minha lembrança. Mas tudo acabara bem, repito a mim mesma, espantando a sombra indistinta e sempre presente dos italianos.

O que me faz pensar em Jacob e sua aura iluminada. Ele está em todas as minhas memórias. Sempre com seu sorriso doce, de lobo ou de homem. Lembro de que o mordia quando ele não era rápido o suficiente em me dar comida. Era melhor mordê-lo do que a meus tios; Jake tem um sabor melhor. Tia Rosalie achava hilário quando o fazia.

Eu não fora uma criança difícil. Apesar da juventude e do estado permanente das personalidades de meus pais, não vejo como poderiam ser melhores.

Minha mãe resolveu que eu não deveria ter tudo, pois segundo ela eu nunca me empenharia em conseguir algo. Assim vetou os excessos de mimos da parte da família. Na época, eu não gostei da idéia. Mas a verdade é que sempre tive bem mais do que o necessário e confortável e, bom... ela provavelmente tinha razão.

Mesmo com toda a preocupação com a minha educação e minha mentalidade mais madura, eles não puderam evitar alguns comportamentos infantis. Eu tinha cerca de quatro anos físicos...

Esme, Alice, Jake e eu estávamos em casa.

–Eu não quero!– queixava-me olhando o prato de macarrão à minha frente, sobre a mesa.

–Coma, só um pouquinho! – adulava vovó. –Você está crescendo, sabe que só sangue não pode.

–Vamos Nessie... Macarrão é bom. Este molho de Esme está uma delícia, já até comi o meu– argumentava Jake.

–Não importa! Não gosto e não vou comer! – anunciei decidida.

–A levo para brincar com Claire– Jacob prometeu.

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