Reveille

11- Tentando

"Eu me afastei para enfrentar a dor

Fecho meus olhos e me desvio

Sobre o medo

De que nunca encontrarei uma maneira

De curar minha alma

E vagarei até o fim dos tempos

Arrancado de você"

-My Heart Is Broken- evanescence

-Jacob

Havia bastante tempo em que eu não voltava à forma humana, desde que ordenei ao bando que não me amolassem com nada que não fosse notícias sobre a saúde de meu pai, sempre na iminência de uma piora. Já era bastante que eu nunca fosse capaz de me livrar dela, era mais do que minha tênue sanidade podia suportar que nem mesmo meus instintos mais primitivos fossem o suficiente para impedir que seu rosto me atormentasse, não precisava que eles falassem nela, insistente e inutilmente, tentando com que eu voltasse atrás numa decisão que não era minha. As lembranças e a dor que traziam eram como lâminas rasgando minha pele e, mesmo assim, não era verdadeiro o meu desejo de arrancá-la de mim. Afinal, só estava dando a ela o que queria. Eu ficaria ao seu lado independente de qualquer coisa se pudesse decidir.

Era mais fácil pensar agora... Não que quisesse pensar como homem, ser animal era muito mais fácil e mais aconchegante: correr, sentir fome e comer, sentir sede e beber... no entanto, o fogo tende a apagar com o tempo, o desespero não apaga, ele consome mais devagar... Os primeiros momentos, dias ou meses, foram ruins, realmente ruins. Agora era só o vazio conhecido, parecia mais fácil.

Lembro de correr até estar exaurido e desabar no chão, já longe demais (eu tinha certeza, apesar de não saber onde estava). Lembro de chorar, na forma humana, nu e sem me importar de estar sendo soterrado vivo pela nevasca que caía; sem querer, imaginando que estava no Alaska. A próxima coisa foi a fome ensandecida que contribuía em minha tormenta, me fazendo levantar e apresar um cervo sem sorte que por acaso cruzou meu caminho.

Só há pouco tempo me permiti voltar a consciência humana, mais que a imposta, pelo contato com meus irmãos, desejando tê-la perdido, esperando que tivesse me restado só selvageria: eu estava errado. Humano ou animal, ela corria em meu sangue, precisando de mim ou não, tudo no corpo e no espírito daquele lobo era ela.

A única pessoa que me deixou em paz foi Leah, mas parece que não naquele dia...

"Jake, seu pai não está legal", despejou assim que entrou em minha mente, me fazendo parar a corrida, derrapando na lama e deixando minha presa escapar.

Seth havia dito o mesmo algum tempo atrás. "O que houve?".

"Billy tem tentado ser durão..., mas Rachel chamou minha mãe noite passada".

"Ele está bem?", perguntei nervoso.

"Sua pressão arterial está alterada, ele está preocupado com você, mesmo que não diga".

Suspirei mentalmente e grunhi aflito, vendo as lembranças que ela adquiriu de Embry: meu pai parecia pálido e cansado por baixo da pele avermelhada, mas sorria conversando amenidades enquanto era examinado por Sue. Leah me assistia quieta e eu sabia que apesar de não falar sobre isso também não aprovava minha atitude, embora no momento ela sentisse menos simpatia por Nessie que o resto do bando. Mas não era minha decisão, Nessie dissera para que eu ficasse fora de sua vida e minha casa, todo aquele lugar, era muito dela, a lembrava, a exalava... Parte de mim queria voltar, mas...