Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
-Carlos Drummond
-RenesmeeAcordei estranhamente alerta de um sono conturbado e superficial. Logo saí da cama, sentia-me agitada e sufocada. Depois do ritual da higiene matinal, hesitei em frente ao quarto de Jacob... Eu teria de pedir desculpas, mas ele não estava lá, na verdade não o ouvi em parte alguma dentro de casa. Sabia que meus pais me dariam bronca pelo que disse, e com razão. Na verdade, me surpreendi que nenhum deles tivesse ido ao meu quarto desde a tarde anterior.
Desci devagar me dando conta da energia estranha no ar, provavelmente era só minha consciência pesada.
-Bom dia, princesa! -Tia Rose me beijou no rosto e continuou em direção à escada.
-Quer alguma coisa específica para o café, filha? - embora a voz de Bella soasse calma, algo em seus olhos irradiava urgência. Ela se levantou no sofá para ir para a cozinha.
Vovó estava no colo de vovô, numa poltrona e parecia triste. Tio Emm estava com o controle remoto na mão, para variar. Alice não estava à vista e Jazz estava lendo, no sofá mais distante.
-Não, mãe. Eu me viro.
De alguma maneira que não consegui definir todos pareciam... errados. Atores num palco, pensei, robóticos e forçados. Encenando mal. O que era muito estranho, porque eles eram vampiros que fingiam ser humanos há décadas. Mesmo se fingir não fosse um talento natural, eles tinham muito tempo de prática.
Senti um impulso de correr dali. Como se minha mente tentasse me lembrar de que tinha algo para procurar. Ou talvez fosse algo de que fugir. Não sei. Algo estava muito, muito errado. Sentia uma espécie de compulsão crescendo: eu tinha de sair dali.
Sentei-me no pequeno pátio dos fundos, de frente para as orquídeas de Esme, olhava as árvores. O dia estava quase quente, mas minhas mãos tremiam, parecendo estranhamente frias.
-Renesmee! - meu pai chamou de dentro da casa, mas congelei.
Sabia que não era medo de sermão, mas o chamado de meu pai ativou algo dentro de mim, algo sem foco, começo nem fim. Mais que antes eu senti uma força me puxando para fora, para a floresta. Obriguei minhas pernas a se moverem na direção oposta: para dentro de casa.
Minha mãe me pegou pela mão quando cheguei à sala e me fez sentar numa poltrona.
-Sei que agi mal. Podem me colocar de castigo se quiserem, mas eu acho que devo resolver isso com o Jacob... -adiantei.
-Jacob não está- mamãe me interrompeu, a voz estranhamente monótona.
- Será a primeira coisa que farei quando ele voltar-rebati rapidamente.
-Nessie, ele... dificilmente vai voltar... - meu pai disse. Fiquei encarando-o, esperando alguma finalização mais esperançosa.
Ri sem humor e antes que me desse conta estava discando ao telefone, do outro lado do sofá. Meu pai estendeu o celular de Jacob para mim, no mesmo instante em que coloquei o fone no ouvido.
-Mas... Quando? - quase perguntei por quê.
-Ontem- minha mãe respondeu.
-Por que vocês deixaram? - gritei. -Não, não! Eu... Eu estava com raiva!
-Não achei que ele realmente... Bom, você pediu- meu pai encolheu os ombros, como quem se desculpa. -Nós o seguimos, mas só o que encontramos foi o celular e parte das suas roupas.
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Reveille
FanfictionUma pequena cidade chuvosa e acolhedora na Península Olympic- Washington, família, amigos, o conforto que o dinheiro pode comprar, beleza, a promessa subentendida de um amor a ser descoberto e vida eterna. O que mais alguém poderia desejar? Para Ren...