Capítulo 1

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 Meu corpo se movia com muita velocidade para algum lugar. Não sei bem dizer onde estou, já que só me vejo correndo. Dá para sentir os pingos de chuva caindo em minha pele, e algo estranho acontece, sinto alergia, mas não posso parar para me coçar, tenho que somente correr. Depois de segundos noto que estou em um bosque indo em direção a uma árvore. Tenho a impressão de que vou bater de cara com a mesma, mas não, subo rapidamente e enfim paro em cima de um dos seus galhos e só ouço o barulho de um tiro. Escondo-me nas folhas e vejo de onde o tiro saiu. 

O tiro veio de uma família com rostos borrados, mas que aos poucos vão ficando cada vez mais nítidos. Uma família que estava no começo do bosque saindo de um carro. Percebe-se que são quatro pessoas, uma mulher e três homens, possivelmente uma mãe, um pai e dois filhos. Não sei como não caí da árvore, mesmo estando agitada. Contudo veio o segundo, e depois o terceiro tiro em minha direção. Não sei como fiz para desviar tão rápido, porém, o quarto tiro veio e me acertou, e assim eu acordei assustada, enquanto meu pai adentrava ao quarto perguntando o que tinha ocorrido. Eu não contei o pesadelo, somente respondi que sonhei que tinha perdido em uma prova. Ele fingiu ter acredito e logo saiu. Voltei a querer dormir, mas não consegui, o que era tudo aquilo? Quem eram aquelas pessoas?

Olhei para o lado tentando enfim dormir, mas meu despertador tocou, era hora de me arrumar para ir para a escola, começar um novo ano. Levantei da cama, tomei banho, e fui vestir minha farda. Adivinha que cor é minha farda? Blusa vermelha com um short preto, sério, tô me sentindo uma rebelde. Meu pai entra e olha diretamente para mim, parada em frente ao espelho.

— Porque você está parada ai? — perguntou ele.

— Tava pensando, estou parecendo a Mia Colucci, só que mais fabulosa.

— Eu te disse para você deixar seu cabelo cacheado, tenho certeza que não parecia mais.

— Cabelo cacheado dá trabalho, prefiro colocar produto mesmo... Senhor José, que roupa é essa? — perguntei começando a rir da roupa colorida do meu pai. Ele tinha colocado uma blusa toda colorida, sendo que no final dava para ver sua barriga aparecendo, já que a blusa em si era pequena. Colocou Uma calça roxa(?) e um sapato vinho. Meu pai acha que é estiloso, só que não é, odiava quando eu era pequena e era ele quem me vestia, era uma roupa mais colorida que a outra, eu era uma mini palhaça, bom, pelo menos isso dava uma alegria para ele. Desde quando perdeu minha mãe quase não conseguiu seguir em frente, o acidente que ela sofreu foi muito grave, nem o corpo pudemos ver.

Ela morreu dois anos depois do meu nascimento, quase não temos fotos juntas, mas conheço sua aparência muito bem, seus cabelos cacheados são muito marcantes, a forma como pintava os cachos de loiro, como usava aqueles óculos pequenininhos e seu estilo de se vestir com roupas longas. Meu pai só conseguiu seguir em frente depois de dez anos, quando entrou em um daqueles aplicativos de relacionamentos, só que teve poucos encontros, já que ninguém que está nestes aplicativos quer uma pessoa negra gorda. Hoje em dia, ele é solteiro e professor de faculdade.

— É estilo!

— Estilo, sei.

— Você não irá entender um estilo de um professor. Bom, o café já está na mesa. — disse saindo do quarto, enquanto eu me voltava para o espelho. Queria que minha mãe estivesse aqui, meu pai sempre esteve presente em tudo, mas eu a queria me dando conselhos e dizendo que tudo ficará bem.

Terminei de me arrumar e desci para ir até a cozinha. Meu pai já tinha deixado o meu café da manhã em cima, logo percebi que ele tinha cozinhado banana, o que fez meu dia começar bem. Junto da banana cozida, estava uma xícara de "Eu amo meu pai" com a nossa foto impressa, que ele ganhou de dia dos pais, quando eu tinha nove anos. Dentro da xícara, tem achocolatado, minha bebida favorita. Tomo meu café da manhã, ou, o meu achocolatado da manhã, enquanto olho meu pai na frente do imenso espelho que temos na frente da cozinha, passando um creme de pentear que tinha comprado, um dia atrás. Seu cabelo crespo é muito lindo, já percebi muitas pessoas o olhando com nojo, porém meu pai não se importa, e é isso o que mais amo nele, ele sabe de como gosta de se vestir, de como gosta do seu cabelo, e não se importa se alguém diz algo ruim sobre. Depois de pentear, ele se vira para mim, me chamando para ir à escola. 

VAMPAIAWhere stories live. Discover now