Capítulo 12

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Nós saímos enfim daquela casa que ficava localizada no centro da cidade. Enfim respirando ar puro, enfim sentindo cheiro de comida, enfim fazendo coisas que sempre fiz. Eu e o João estávamos usando as mesmas roupas brancas que usávamos antes, a emoção era tanta que nem nos trocamos. João tinha pegado uma espécie de arma com uma vela na ponta e também um isqueiro, para se alguma ameaça surgir, nos estaremos protegidos. Optamos por ir ao hospital sem se transformar, claro, seria um belo treino para mim, mas também muito perigoso, já que não sei controlar muito bem tudo isso, esse demônio dentro de mim.

Fomos caminhando até o hospital geral. Entramos por uma passagem secreta que eu conhecia, que dava acesso ao fundo dos quartos, todos enfileirados e pintados de branco. Passamos pelos matos diante das janelas com passos silenciosos para não assustar ninguém. Isso me lembrou muito toda a minha vida, já que sempre fugia do quarto em que estava internada, rezando para meu pai não me encontrar, mas ele sempre me encontrava, hoje em dia, eu só queria que ele me encontrasse naquela mata e me desse um abraço, queria vê-lo, porém sei que está bem, ao contrário da Medusa. Paro diante a janela que o Carlos tinha nos enviado via celular e entramos. O quarto não tinha ninguém, estava escuro, e somente tinha a Medusa tomando soro, dormindo. O cheiro do quarto me fez arrepiar, já que logo me remeteu a tudo que vivi. Um silêncio invadiu o quarto, eu só conseguia olhar para ela e pensar: Será que ela se transformou? Será que tem como se transformar?

- Ela se transformou? - perguntei para João, que estava ao meu lado, segurando no ferro da maca.

- Não, foi mordida, mas conseguiram colocar-la no soro rapidamente. - olhei para ele, e ele se virou para mim, a luz da Lua iluminava o quarto, deixando o ambiente ainda mais lindo. - Ela não sobreviveria algum dia sendo uma vampaia, já que não tem descendência ou algum treino.

- Vampaia tem mais haver com descendência?

- A pessoa pode se transformar, mas não aguenta muito, o espírito é muito forte para um corpo sem linhagem. Por isso a única chance dela sobreviver seria por meio de treinamentos pesados.

- Tenho medo.

- Medo de?

- Medo de ficar sozinha, sozinha no mundo, não tenho mais minha amiga, meu amigo não chegou de viagem, já cresci sem família e agora nem trocar uma palavra com meu pai, eu posso... - ele pega delicadamente em minha mão.

- Agora você tem a mim e ao Carlos. Saiba que só está reclusa para sua própria segurança! - olho para seu olho, sinto a energia, e lhe roubo um beijo. É maravilhoso beijar João, é incrível como ele se entrega ao beijo, e como me faz perder todas as vergonhas que um dia eu já tive. Sinto-me protegida, amada, penso que nada pode nos atingir... Até que somos atacados por algo ligeiro, por um vampaia.

Eu logo caio no chão e tento encontrar meu colar, já João consegue se equilibrar, pega uma espécie de arma longa com uma vela no final, e corre em direção ao vampaia, que consegue desviar da arma, e joga João no chão. Grito enquanto procuro desesperadamente pela jóia, mas mesmo assim vou correndo em cima da vampaia, que logo me nota e me joga no chão. Agora comigo no chão, ela vem em minha direção, e de longe vejo João tentando pegar sua arma e acender a vela da ponta, até que a vampaia pega em meus braços e fica cara a cara a mim. É perturbante olhar para aquilo, seu cabelo todo sujo, sua cara suja, seus dentes afiados, seu olho grande, uma língua esquisita, e um cheiro de sangue. A vampaia respira ofegante em cima de mim, até o João conseguir enfiar a arma em suas costas. A vampaia grita, e logo é explodida e desaparece em cinzas.

- Precisamos sair daqui, vai que encontremos outros e... - até que outros dois vampaias entram no quarto e atacam rapidamente João, que se equilibra e com a mesma arma vai em direção aos dois. Eu tento levantar, mas não consigo, parece que estou grudada no chão, parece que estou tendo uma paralisia do sono, parece que não consigo nem mesmo sentir meu corpo, só minhas mãos. Quero gritar, mas não consigo, não consigo fazer nada enquanto vejo o João apanhar dos dois vampaias. Eles batem nele, o jogam no chão e, e, e, hã? Estou vendo mais nada, eu só fechei meus olhos e tudo sumiu.

- Socorro! Socorro! - Agora consigo gritar e sair do chão. Vou correndo em direção a janela, saio, mas não vejo nada, eles levaram o João, ELES LEVARAM O JOÃO! E AGORA? Até que alguém pega em meu ombro e eu me viro rapidamente soltando um gritinho de desespero.

- Não precisa gritar, sou eu! - diz Medusa, me fazendo tremer de choque - Eu vi tudo! O que são aquilo? Parecem comigo!

- O que? Então você também está virando um demônio? Quer dizer, um vampaia? - pergunto assustada.

- Eles sempre me visitam, mas sempre finjo estar dormindo, parecem que estavam esperando por você. O que sou? O que foi aquilo? Porque eles querem tanto você?

- Não creio que você se transformou! - deito no chão cheio de mato, leva as mãos a minha cabeça e concluo que estou sem saber o que pensar. Levaram o João.

- Ainda bem que vocês quase não emitiram sons altos, se não estaria o hospital inteiro acordado.

- Já sei o que podemos fazer! - digo, enquanto fico em pé e vou andando para a saída secreta do hospital. - Você não vem?

- Estou feia e não posso sair, estou tomando soro! E também estou com sono, se bem que quando eu durmo, viro um daqueles demônios, porém deixe isso para amanhã, o café daqui é ótimo.

- Medusa, pare de pensar em você por um só segundo! Vamos! Sei o que fazer!

- Precisamos descansar!

- Precisamos lutar! Ou você quer ser morta?

- Sou linda demais para morrer.

- Então venha! - Grito, enquanto ela me segue até Carlos.

VAMPAIAWhere stories live. Discover now