Capítulo 4 - Steve

1.4K 74 0
                                    

Depois que Hannah foi embora, minha casa nunca mais foi a mesma. Nos primeiros dias, tentei me distrair com o trabalho, mergulhei de cabeça nos treinos, nas reuniões, em qualquer coisa que me fizesse esquecer a falta dela. Mas nada funcionava.

A cada canto que eu olhava, via Hannah. Eu lembrava do jeito que ela ria jogada no sofá, das roupas dela espalhadas pelo quarto, do cheiro adocicado que ainda impregnava meus lençóis. Às vezes, em noites silenciosas e solitárias, eu sentia sua presença como se ela ainda estivesse ali. Conseguia quase ouvir sua voz sussurrando meu nome, sentir seus lábios nos meus, o peso do seu corpo sobre o meu... Mas, quando abria os olhos, só havia o vazio.

Passei meses assim. Sem ânimo para sair, sem vontade de cozinhar. O trabalho já não importava mais, e tudo o que antes me parecia essencial perdeu o sentido.

E foi aí que Danny começou a aparecer com mais frequência. Ele me trazia comida, me obrigava a sair de casa, mas, acima de tudo, me falava verdades que eu precisava ouvir.

— Você pretende continuar assim até quando? — ele perguntou um dia, largando uma sacola de comida em cima da mesa.

— Não enche, Danny — murmurei, sem paciência.

Ele riu, mas não era um riso divertido. Era um daqueles cheios de frustração.

— Cara, olha pra você. Você se isolou do mundo! Não treina direito, não come direito, sua casa parece um mausoléu. E tudo isso por quê? Porque tá longe da mulher que você ama?

Engoli seco.

— Não é tão simples assim…

— Não? — Ele cruzou os braços. — Me diz, Steve, o que te impede de ir atrás dela?

Fiquei em silêncio. Eu já tinha pensado nisso um milhão de vezes. Mas e se ela estivesse melhor sem mim? E se eu só complicasse a vida dela?

Danny bufou, impaciente.

— Para com essa merda de ficar se martirizando. Você ama a Hannah, e ela ama você. Para de agir como se fosse um caso perdido e faz alguma coisa. Seja homem e vai atrás dela.

Fechei os olhos, soltando o ar com força.

— E se ela não quiser voltar?

— Pelo menos você vai ter tentado. Mas se continuar aqui, parado, esperando que o destino resolva sua vida, você nunca vai saber.

Aquelas palavras me atingiram em cheio. No fundo, eu sabia que Danny tinha razão. Eu precisava fazer algo.

Naquela noite, fiquei acordado, pensando em tudo. Relembrei cada momento com Hannah, cada sorriso, cada toque. E então percebi que eu nunca me sentiria completo sem ela.

No dia seguinte, comprei a passagem para o Brasil.

***

Na manhã seguinte, o sol ainda nem tinha nascido quando estacionei o carro na frente da casa da Hannah. Mesmo sabendo que a veria em poucos minutos, meu peito estava apertado de ansiedade. Assim que bati na porta, a mãe dela atendeu com um olhar sério, mas sem hostilidade.

— Pode entrar, Steve — ela disse, abrindo espaço para mim.

A casa estava silenciosa, exceto pelo som baixo de passos no corredor. Hannah apareceu logo depois, segurando sua mala, os cabelos ainda úmidos do banho, vestindo uma calça confortável e um moletom largo. Seus olhos brilharam quando me viram, e por um segundo, pareceu que todo o cansaço dela sumiu.

— Pronta? — perguntei, tentando sorrir, mas o olhar dela para a mãe e a irmã me fez perceber que essa despedida não seria fácil.

Ana Clara, sua irmã mais nova, se escondeu atrás da mãe, segurando o braço dela com força. Quando Hannah se aproximou, Ana correu para abraçá-la, envolvendo a cintura da irmã com os pequenos braços.

— Você tem certeza que precisa ir? — a garotinha perguntou com a voz embargada.

— Eu tenho, princesa... Mas eu prometo que você vai me visitar e que a gente vai se falar sempre.

Ana Clara fungou e assentiu, apertando mais o abraço. Quando finalmente soltou Hannah, olhou para mim com uma expressão julgadora, como se estivesse avaliando se eu realmente merecia levá-la.

— Você cuida dela, moço? - Fiquei confuso, mas a Hannah a traduziu para mim.

— Com a minha vida — respondi sério, e a pequena apenas assentiu, parecendo aceitar minha resposta.

A mãe de Hannah cruzou os braços, suspirando. Ela parecia querer dizer algo, mas se segurava.

— Não tem mais jeito de te fazer mudar de ideia, né?

Hannah sorriu com carinho e segurou as mãos dela.

— Eu preciso fazer isso, mãe. Eu amo o Steve, e ele me ama.

A mulher suspirou outra vez e puxou a filha para um abraço apertado.

— Eu só quero que seja feliz, meu amor.

— Eu sou, mãe.

Quando a soltou, os olhos dela estavam cheios de lágrimas, mas havia um pequeno sorriso ali.

— Vai, antes que eu desista de te deixar ir.

Hannah pegou a mala, deu um último abraço em Ana e, de mãos dadas comigo, saiu da casa. Enquanto entrávamos no carro, olhei pelo retrovisor e vi a mãe e a irmã dela na porta, acenando. Hannah fungou e limpou uma lágrima que escapou.

— Você tá bem, princesa?

— Sim... Só um pouco emotiva.

Eu apertei sua mão e beijei seus dedos antes de arrancar com o carro.

***

A viagem foi cansativa, e Hannah passou boa parte do tempo segurando minha mão com força, especialmente quando sentiu enjoo. Eu me preocupava, mas ela insistia que estava tudo bem.

Ao pousarmos no Havaí, o ar quente e salgado do mar nos recebeu, trazendo uma sensação de lar. Eu estava feliz por estar de volta, mas ainda mais feliz por tê-la comigo.

Quando chegamos à minha casa, fomos surpreendidos por um grupo animado na entrada. Danny tinha organizado um pequeno almoço para nos receber, e toda a minha equipe estava ali. Assim que saímos do carro, todos vieram nos abraçar e dar as boas-vindas.

— Finalmente tomou jeito, hein, Steve! — alguém brincou, me dando um tapa nas costas.

Danny, claro, foi o mais animado.

— Eu vou ser tio! — ele gritou, após eu contar sobre a gravidez.

A reação geral foi de surpresa e felicidade. Hannah sorriu, mas vi que ela estava exausta e comendo pouco. Mesmo assim, acabou correndo para o banheiro algumas vezes por causa do enjoo.

— Você tá bem? — perguntei, preocupado, quando ela voltou da terceira vez.

— Só cansada — respondeu, forçando um sorriso.

Depois de um tempo conversando com a equipe e recebendo mais felicitações, Hannah bocejou, e percebi que ela precisava descansar.

— Acho que já chega por hoje — falei para todos.

A equipe entendeu e começou a se despedir, um por um. Danny foi o último a sair e me deu um aperto de mão firme.

— Se precisar de qualquer coisa, estou aqui.

Assenti, grato, e fechei a porta atrás dele.

Hawaii Five-0 - Uma Nova História de Amor [ CONCLUÍDO ]Where stories live. Discover now