63 § Juntos no amor, distantes na guerra

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< Capítulo anterior: 62§ Assombrado

Tiago ficou manifestamente perturbado com a identidade da nova namorada de Bruno, e decidiu revelar a Eva, um capítulo determinante da infância dele...

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— Eva —

Tiago não me poupa nenhum pormenor da história de adolescentes que separou dois irmãos por causa duma rapariga preversa. 

Quando o oiço descrever Clara, é como ver Érica. O mesmo modo dissimulado de agir, de por outras pessoas fora de jogo, de se vitimizar quando algo não vai de acordo com os seus interesses.

— Esta era Clara! — conclui Tiago. — Uma mulher, da qual os próprios pais tinham medo, dado a sua imprevisibilidade e o modo psicótico com que reagia perante as adversidades.

— Estás a sugerir que eles temiam que a filha lhes agredisse, por exemplo?

— Ou algo pior, Eva! — responde-me Tiago, mantendo aquela expressão reservada. — Entendes agora porque não quero que vás contra esse tipo de gente? Está na cara que essa Kika só pode ser filha de Clara, e quem sabe, até mesmo filha de Bruno.

Aquele comentário deixa-me momentaneamente confusa. De repente não me lembro de ter assistido ou terem-me relatado algum comportamento entre Bruno e Érica, que não se pudesse encaixar na relação entre pai e filha. 

Isso explicaria o tocar de mãos entre ambos no restaurante, a oferta do colar, o modo como Bruno a defendia incessantemente e até mesmo a promoção meteórica. 

E se toda a cumplicidade a que tinha assistido, ao invés de ser adultério, fosse simplesmente um amor puro e fraternal? Durante efémeros segundos acredito nessa realidade alternativa, uma versão da história em que não fui traída, em que tudo não passou dum grande mal entendido.

— Isso é impossível! — digo a Tiago, caindo em mim e obrigando-me a enfrentar a verdade nua e crua. — A Kika está grávida do teu irmão.

As curvas tão expressivas do rosto de Tiago adensam-se, deixando exposta a sua surpresa perante mais uma revelação chocante com a qual não contava.

— A sério? O meu irmão continua assim tão refém do passado a esse ponto?

— Parece que sim. Portante, a não ser que Bruno seja um indivíduo completamente amoral, a ponto de se deitar com a própria filha... Creio que esse parentesco, a existir, só pode ser entre Kika e Clara, e nunca com Bruno.

A minha declaração é algo insegura. Receio que Tiago subitamente me desminta e afirme que Bruno podia chegar a esse ponto, de se envolver amorosamente com a própria filha. 

Não! Recuso-me a alimentar mais esse pensamento abjecto. Simplesmente não posso conceber a ideia de que ao fim de suas décadas de casamento não conheça de todo o meu marido.

Instantes depois, posso respirar fundo novemente, quando Tiago parece resignar-se com o meu argumento, assentindo que também não acredita que Bruno fosse capaz dum ato tão imoral. 

Pelo menos nisso ambos parecemos concordar. Apesar da falta de escrúpulos, estamos de acordo que Bruno tem alguns limites éticos que jamais ultrapassaria.

— Mesmo assim, Eva! Não é seguro ires contra o meu irmão e contra essa mulher. Esquece essa vingança, isso não te trará nada de bom. Tens de confiar em mim!

— Não se trata de vingança,Tiago, mas sim de justiça. Tudo o que me acabaste de contar só me dá ainda mais razões sólidas para lutar pelos meus direitos.

A Esposa PerfeitaWhere stories live. Discover now