79 § O filho pródigo

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O maior medo de Tiago acabou por acontecer: foi descoberto. Estará ele preparado para ouvir pela primeira vez o outro lado da história? 

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— Tiago—

— Sempre fui uma mulher bastante religiosa! Não falto a uma missa de Domingo, por mais cedo que esta possa ser

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— Sempre fui uma mulher bastante religiosa! Não falto a uma missa de Domingo, por mais cedo que esta possa ser. Orgulho-me disso, ainda que seja algo considerado retrógrado à luz dos dias que correm. — afirma a minha mãe. — Contudo, devo confessar que a parábola do filho pródigo continua a ser uma das passagens bíblicas que me custa a aceitar e até entender. Acho-a algo injusta para com o filho que permaneceu sempre ao lado do pai! Não tem ele o direito de ficar irritado ao ver como o pai recebe de volta o seu irmão, com toda a pompa e circunstância? Um irmão que levou uma vida inconsequente e despreocupada, esbanjando de forma irresponsável a sua parte da herança.

Pelos vistos dona Isabel continua com a sua linha de raciocínio inalterada, saindo sempre em defesa de Bruno e vilanizando-me, como se não fôssemos ambos seus filhos.

— Deixa-me acabar! — corta-me ela a palavra, antes de eu conseguir sequer expressar mais do que uma intenção. — Claro que fiquei feliz com o teu regresso depois de uma temporada a estudar no estrangeiro. Que mãe não fica contente em voltar a ter o filho perto dela? Simplesmente não fiquei deslumbrada como o teu pai.

— Porque eu não era o seu predileto, o seu filho preferido. — remato eu.

— Porque percebi imediatamente que algo não estava bem! — contrapõe ela. — Havia algo de diferente, algo de errado com aquele Tiago que regressava a casa.

Dum momento para o outro sou transportado para o passado, igual a uma criança que visita a casa dos horrores pela mão da mãe. Mas esta não é uma mão protetora, antes uma mão que te arrasta com firmeza, obrigando-te a ver e ter contacto com cada uma das memórias desagradáveis que tentaste durante anos manter abafadas num canto obscuro da tua mente.

A minha mãe recorda a criança dócil e ternurenta que sempre fui. Eu, mudamente, complemento com o rapaz que depois da escola fugia para a floresta, para brincar com colegas oriundos de famílias mais carenciadas. A princípio por causa da rejeição do irmão, depois por ter a necessidade de ser diferente e criar a sua própria identidade. 

Era difícil saber quem eu era numa casa regida por inúmeras regras estritas de comportamento. Eu era um rebelde silencioso, que diante da minha família submetia-me aos seus padrões, mas que depois precisava do seu escape para poder ser uma criança livre.

— O Tiago que voltou naquela primavera tinha um olhar ansioso, sobressaltado e destrutivo. — narra dona Isabel. — No começo foram as noitadas até à manhã do dia seguinte, depois começaram a desaparecer uns objetos aqui, um dinheiro da carteira ali, e um par de reações mais exaltadas acolá.

A Esposa PerfeitaWhere stories live. Discover now