Sem escolha

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— Você não está gostando do filme? — Hyunwoo perguntou enquanto encarava seu amigo. Já faziam algumas semanas desde que notou o olhar vago em seu rosto.

— Estou, eu apenas me distrai um pouco. — a resposta veio em poucos segundos.

O mais velho desligou a televisão, recebendo um olhar confuso do outro.

— O que aconteceu?

— Essa é a mesma pergunta que quero te fazer, Kihyun — sua voz saiu forte demais, então diminuiu o tom antes de continuar — Escuta, eu não sei o que está acontecendo contigo, mas você pode me dizer se algo estiver te incomodando, ainda mais se o motivo for eu.

— O que? — Kihyun falou no automático — Claro que não! Na verdade não de uma maneira ruim, bom, mais ou menos.

Hyunwoo ficou em pé, abandonando o sofá macio que os dois compartilhavam.

— Eu sabia! — concluiu por si só — Você se enjoou de mim? Olha, eu vou entender, sério.

— Não, Shownu — chamá-lo pelo apelido o fez focar mais em si — Eu apenas estive pensando em uma maneira de te ajudar.

— Me ajudar com o quê?

Kihyun suspirou, se levantando o suficiente para puxar a mão do amigo e obrigá-lo a se sentar.

— Eu não aguento mais te ver nessa rotina cansativa. Todo dia é o mesmo processo, você vai trabalhar, volta pela tarde e não sai mais de casa. Vive enfurnado aqui dentro, além de não desligar as luzes nem pela manhã.

— Onde você está querendo chegar? Você sabe do meu trauma e nunca me julgou, então por que está me dizendo essas coisas? — Hyunwoo puxou levemente a mão de volta, sentia-se confuso ao ouvir todas aquelas palavras. Kihyun desde o início se mostrou paciente consigo, até mesmo instalou luzes extras dentro do próprio carro para deixá-lo mais confortável.

— Eu não estou te julgando, você sabe o quanto levei a sério desde o começo. O problema é que essa situação te consome diariamente, você já recebeu tantos convites legais e perdeu muitas chances de fazer boas amizades, tudo por medo de esclarecer que sofria de um trauma.

— Eu não preciso de amigos, Ki. Eu tenho você, isso me basta — falou calmo — Olha, eu já passei minha vida inteira tentando fazer amizades, mas todas as pessoas não me levavam a sério. Felizmente eu achei você, ou melhor, você me achou e estou satisfeito.

Kihyun não pôde deixar de sorrir com aquela confissão, mas sua expressão séria logo voltou.

— Você não pode desistir de todos na primeira semana. Eu sei o quanto eu fui compreensível e imagino que isso ajudou muito a nos aproximar, mas quero que você entenda que também é preciso dar chances aos outros. Não é porque eles não entendem algo logo no início, que serão sempre dessa maneira.

— As coisas não são assim, Kihyun.

— Você precisa ter paciência com eles, nem tudo é na base da ignorância.

— Por que eu teria paciência?

— Eu tive paciência com você, em todas as suas crises noturnas, não tive? — perguntou vendo o outro afirmar — Qualquer relacionamento precisa de paciência. É claro que existirão pessoas tóxicas, mas ainda existem aquelas que valem a pena.

— É por isso que você está assim? Por que não me esforço em fortalecer nenhuma amizade?

— Não, eu estou assim porque não aguento mais observar seu rosto sem esperança. Cada dia que passa você se afasta de todas as coisas boas por medo, permitindo que uma força ruim te puxe para baixo.

Hyunwoo suspirou. Admirava a paciência que Kihyun tinha com ele, mas não era fácil mudar uma rotina dessa maneira.

— Eu não tenho como mudar isso agora, Ki. Só me deixará ainda mais sem rumo.

— E é nessa parte que eu entro. — falou animado.

— Como assim? — a expressão confusa do mais velho era nítida.

— Nós vamos tirar férias! — Kihyun abriu um enorme sorriso no rosto.

— O quê? Eu trabalho, sabia? Não é como se eu pudesse tirar férias do nada.

— Está tudo bem, eu conversei com seu chefe. Aliás ele é uma pessoa maravilhosa que também se importa com você.

— Você fez o quê? — Hyunwoo novamente se levantou, começando a andar de um lado para o outro — Eu poderia ter perdido o emprego, Kihyun. Eu sei que você trabalha por conta própria, mas eu não. Dependo dele para me sustentar.

O mais novo se levantou também, forçando o outro a parar de andar daquela forma.

— Calma, eu pedi apenas duas semana. Nós vamos para o interior.

— Desde quando você está planejando isso? — perguntou com os olhos fixos em seu rosto.

— Há alguns meses. Eu apenas estava esperando a melhor época para ir até lá, tenho certeza que você irá gostar.

— Você me escondeu isso durante meses?

— É uma surpresa, não podemos contar surpresas antes da hora, não faz sentido.

— Eu realmente não sei...

Kihyun o empurrou levemente.

— Você não tem nenhuma desculpa, apenas aceite, nós viajaremos amanhã. — o rapaz já ia em direção a saída, pretendendo ir embora.

— Amanhã? — arregalou os olhos, observando-o abrir a porta — Kihyun, isso está muito em cima da hora.

— Passarei aqui às 6:00 am, leve uma quantidade suficiente de roupas. — saiu em instantes, mas olhou para dentro ao ouvir a voz do outro.

— Kihyun, isso é muito cedo! — reclamou.

— Nós já perdemos tempo demais — piscou, logo fechando a porta atrás de si.

— Kihyun! — chamou novamente, mas não obteve resposta.

Hyunwoo suspirou, sentando-se no sofá. Ele não queria sair, muito menos viajar dessa maneira repentina. Claro que sua rotina sugava cada sentimento bom, mas a presença de Kihyun recuperava toda sua energia. Então não era necessário uma aventura daquelas.

Ele não sabia o motivo de tanta insistência por causa da viagem, mas prometeu se esforçar ao máximo para deixar seu amigo feliz, ou pelo menos tentar.

Pequenas coisas (Showki)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin