A constelação

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Acordar com a mesma visão daquele cômodo tornou-se costume com o passar dos dias, mas olhar a outra cama, ainda vazia, de certa forma o incomodou.

Permanecer naquele lugar sozinho durante o dia inteiro distanciou diversas nuvens de sua mente nublada. Mas a situação caminhava à contramão em uma estrada estreita, caso não retomasse o controle, uma hora ou outra iria se deparar com um problema maior.

Já não era mais possível adiar, ainda mais quando se tratava de Kihyun, o único que se esforçou para compreendê-lo sem desistir.

Aquela amizade havia surgido em meio ao caos de sua cabeça, perante ao medo e a vontade de afastá-lo. Kihyun, por mais que também tivesse defeitos, sempre o colocou acima de tudo.

Ele não notava quando agia errado, da mesma forma que não recebia um aviso do mais velho, que apenas engolia cada momentos ruim a fim de evitar uma briga. Pela falta de comunicação de ambos, pequenos problemas se acumularam como neve, despencando lentamente do topo de uma montanha. Uma hora ou outra aquela discussão surgiria, mas o que surpreendeu Hyunwoo foi a forma repentina que tudo se espalhou pelo chão.

Quando desceu as escadas, disposto a resolver aquela situação de uma vez por todas, a cozinha vazia o surpreendeu. Kihyun não estava lá, e pelas panelas com a comida intocada concluiu que ele nem ao menos havia voltado para casa.

Agir daquela forma não era de sua personalidade. Quando um problema o perturbava, ele corria atrás da solução o mais rápido possível. Algo de fato cheirava ruim. Foi então que decidiu trocar de roupa e procurá-lo.

~

Depois de andar pelas ruas conhecidas, Hyunwoo viu a si mesmo sem rumo. Eram poucos lugares que de fato reconheceu, e a lista diminuía ao pensar em qual deles Kihyun poderia estar.

A preocupação em sua mente trouxe certas paranóias. Kihyun não o queria mais como amigo? E se aquela discussão tivesse de alguma forma criado um problema maior do que imaginava?

Hyunwoo amaldiçoava cada pensamento novo que surgia, tentando afastá-los ao máximo e se concentrar em uma outra perspectiva mais positiva. Porém, tudo despencou ao encontrá-lo. Bem ali, no mesmo restaurante, com Jooheon ao seu lado.

Vê-lo sorrindo, despreocupado, como se nenhuma parte da discussão tivesse o atingido de verdade foi a gota d'água. Mesmo querendo se aproximar, decidiu apenas ir embora.

~

Hyunwoo passou o resto do dia deitado de barriga para cima enquanto contava as estrelas pintadas na parede. Ao total eram 120 manchas brancas, algumas com pontas a mais, outras a menos, consequências da falta de atenção de uma criança de 12 anos ou talvez desde o início ele desejava que fossem assim, diferentes.

Na altura no campeonato não esperava que Kihyun voltasse para lá naquele dia, mas ele precisava voltar em algum momento, certo? Ou teria coragem de passar o resto da semana fora?

Hyunwoo não sabia o que pensar, mas decidiu sair novamente ao invés de permanecer deitado como um cão abandonado pelo dono. Se o encontrasse, pediria para irem embora.

~

O sol aquecia sua pele, tirando todos os resquícios de frio que sentia dentro da casa. Não demoraria muito para escurecer, então apertou os passos. Não era como se tivesse uma direção exata, apenas andou por lugares aleatórios torcendo encontrá-lo de novo. Aquela região não parecia tão grande.

Quando virou a esquina de uma rua composta por casas antigas, notou Jooheon caminhando de costas para si. Era o mais perto que havia encontrado em relação ao amigo, então decidiu segui-lo.

Pequenas coisas (Showki)Where stories live. Discover now