Capítulo 7

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Eu não queria me afogar em lágrimas. Não era o meu estilo, mas me dei o domingo para lamentar e sentir pena de mim mesma. No dia seguinte, quando eu acordasse, tudo aquilo ia ser passado e eu ia seguir em frente.

O nó no meu estômago não me deixou sentir fome, o que foi ótimo. Eu nem estava com vontade de tentar preparar nada, muito menos de sair para comer. Ainda mais no domingo, dia universal dos encontros de famílias e amigos nos restaurantes, o que me faria me sentir mais patética, sozinha na minha mesa.

A tarde foi de chuva forte e a energia acabou. Sem muitas opções para me distrair, sentei perto da claridade da janela com meu livro, que apesar de interessante não estava conseguindo prender minha atenção. O barulhinho dos pingos de chuva no vidro eram a trilha sonora perfeita para uma viagem interior e deixei minha cabeça livre para ir onde ela queria.

Claro que relembrar e analisar meu namoro com o Marcelo foi inevitável. Eu precisava entender o que tinha acontecido para não deixar se repetir. Em que ponto eu deveria ter percebido que a nossa atração inicial se estagnou e nos acomodamos num sentimento que nunca ia se transformar naquilo que levava duas pessoas a querer passar o resto de vida juntas?

Difícil saber, mas o fato de que eu sempre tinha tentado transformar o Marcelo numa outra pessoa, como se ele fosse um projeto e não uma pessoa com desejos próprios deveria ter sido a maior pista. Ao invés de mudar alguém para que ele se encaixasse em mim, eu precisava procurar um que viesse perfeito de fábrica.

Pensar na pessoa perfeita me fez lembrar do Luís Cláudio e do quase beijo.

O que será que tinha causado aquela mudança de comportamento nele?

Apesar de tê-lo admirado desde a primeira vez que o vi, nada que pudesse ser considerado como mais do que cordialidade tinha se passado entre nós. Nós só tínhamos ficado sozinhos duas vezes, no dia em que subimos as escadas depois do meu plantão, quando não aconteceu nada de anormal, e hoje. E só podia ser culpa da minha camisola transparente. Ele deve ter achado que eu provoquei de propósito, quando, na verdade, tinha sido minha cabeça ocupada pelos meus problemas com o Marcelo que não tinha me deixado pensar em uma coisa trivial como estar mostrando os seios para o meu vizinho.

E se eu me considerava inocente até ali, não tinha nada para justificar minha passividade e culpa no que aconteceu depois, porque eu o teria beijado não fosse a interrupção da Bruna.

Eu quase tinha beijado o homem mais gostoso, sexy e casado que eu conhecia, e embora meu corpo fosse tomado por uma quentura gostosa quando eu imaginava como teria sido o beijo mais gostoso, sexy e condenável da minha vida, uma pontinha de desolação me machucava lá no fundo. Não por causa do beijo que não aconteceu, de jeito nenhum. Aquela foi a melhor parte. Mas porque o Luís Cláudio não era um homem tão perfeito no final das contas.

E se nem um casal maduro e, aparentemente feliz, como meus vizinhos, tinha um relacionamento livre de tentações idiotas como um beijo na vizinha, que esperança havia para mim?

Uma batida na porta me assustou, até eu lembrar que estava faltando luz e não tinha campainha. Eu continuei sentadinha porque só podia ser ou o Luís Cláudio, que eu não queria ver tão cedo por causa do que tinha acontecido naquela manhã, ou a Bruna, que eu não queria ver tão cedo por causa do que tinha acontecido naquela manhã.

— Camila? — A voz da Bruna foi seguida por mais uma batida na porta. — Eu preciso falar com você?

Ah, meu Deus! O Luís Cláudio contou para ela. E eu ia precisar me mudar. Lógico que ele colocou a culpa em mim! Eu até podia ouvi-lo dizendo: 'Mas amor, ela estava me mostrando os peitos, como eu ia resistir?'.

Sete PecadosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora