Capítulo 48

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A festa estava deixando muito a desejar. A mulher olhou em volta, as pessoas bebendo e rindo e conversando. Tudo bem, o problema era com ela e não com a festa.

Também, como ela poderia estar achando qualquer coisa interessante se, ao invés de estar passando aquela noite com ela, ele estava fazendo sabe-se lá o quê com sabe-se lá quem. Mas ela não era do tipo de ficar em casa chorando as mágoas, e ela podia não estar se divertindo — e ele nunca ficaria sabendo — mas ali, pelo menos, havia uma variedade enorme e farta de álcool, melhor amigo das mulheres rejeitadas e infelizes.

Ela abandonou o grupinho com a conversa que não tinha nada a ver, e depois de encher de novo sua taça de vinho, se juntou a outro grupinho de conversa igualmente desinteressante. Aquelas pessoas trabalhavam na mesma empresa que ela, meros conhecidos de bons dias e boas tardes, no elevador. Quando ele lhe comunicou os planos dele para aquela noite, ela se felicitou pelo golpe de sorte de ter precisado, no outro dia, ir ao departamento dois andares abaixo do seu, atrás de um documento extraviado e ter visto o convite no quadro de avisos.

Duas garrafas de tequila entregues para a dona da casa, e o tapete de boas-vindas lhe foi estendido, e se a Eleni, Helena ou alguma coisa parecida, estranhou sua presença, não deixou transparecer.

E ali estava ela. Um peixe fora d'água. Um clichê patético e triste.

O rapaz ao seu lado deu uma gargalhada escandalosa com a imitação que a moça na frente deles fez do chefe. Não tinha sido tão engraçado, estava na cara que ele tinha esperanças de terminar a noite abaixando a calcinha dela. Alguém devia avisá-lo que ele estava pegando pesado, mulher não gosta de homem óbvio. Mulher gosta da conquista difícil, do homem que a faz sentir um prêmio quando finalmente consegue pegá-la. Mas como ela não podia se importar menos com a vida sexual dos dois, acompanhou a risada, com discrição, só para não parecer antipática.

Quanto tempo mais ela precisaria ficar até sentir que a noite não tinha sido um desperdício total?

Por pior que fossem as piadas e os salgadinhos frios e engordurados, o apartamento vazio e silencioso que a esperava seria o fundo do poço. E como não havia nada que um vinho de qualidade questionável não pudesse melhorar, ela refez o caminho até a mesa de bebidas para cuidar do seu copo vazio.

No exato instante em que o jorro do líquido lilás escuro atingiu o fundo da taça, a energia no ar mudou e a eletricidade que tomou o ambiente fez sua mão tremer. Com determinação, ela terminou de se servir antes de se virar em busca do que havia causado a mudança sutil.

Um casal cumprimentava a anfitriã, mas não foi a mulher recém-chegada, embora ela fosse estonteante, a razão do arrepio que desceu pela sua espinha.

Existem dois tipos de homens no mundo: os garotos que não crescem nunca e morrem aos oitenta anos com a maturidade que tinham aos quinze. E os Homens, com H maiúsculo. Que chegavam e dominavam tudo.

O homem com o braço passado em volta da aprendiz de modelo, pertencia a segunda categoria, sem dúvidas. O rosto de linhas retas e o queixo quadrado lhe roubava o direito de ser chamado de bonito no sentido clássico da palavra, mas aquilo não lhe fazia falta. Ele tinha presença, segurança e aquela arrogância que toda mulher reconhece como vinda do fato de ele ser muito bem equipado, pênisticamente falando.

Ele também correu o olhar curioso pela sala e ao encontrar seus olhos fixos nele, parou por um segundo, um brilho de interesse piscando num flash, que se apagou com a mesma rapidez com que tinha se acendido. A modelo sussurrou algo no ouvido dele, recuperando a atenção do homem, que respondeu com um sorriso que deixava qualquer uma de pernas bambas. E foi mais de um par de pernas afetado naquela sala, afinal não tinha sido só a mulher quem tinha se curvado a chegada do macho alfa, várias outras o admiravam de longe, algumas mais descaradas que outras.

Sete PecadosWhere stories live. Discover now