Capítulo 35

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O táxi parou na frente do hotel cinco estrelas onde a minha cliente me esperava, porque não dava para chegar num lugar daqueles, no meu carro do século passado.

Quando a mulher não queria, ou não podia, usar a própria casa para os encontros, era a agência que cuidava da reserva do hotel. Garantir a privacidade das clientes era uma das principais preocupações da minha chefe, que tinha várias empresas com nomes genéricos para não levantar suspeitas dos maridos ao aparecer na fatura do cartão de crédito.

A escolha final do lugar era da cliente e, pelo ambiente luxuoso, dinheiro não era problema para quem me esperava. Não que elas não precisassem ser, no mínimo, muito bem de vida para poderem pagar pelos nossos serviços, mas algumas precisavam se esconder mais que outras e eu já tinha frequentado alguns lugares de reputação questionável.

Depois de me identificar na recepção e receber permissão para subir, me dirigi aos elevadores. A pressão que eu sentia nos ombros para que a noite corresse tranquila não tinha nada a ver com o ambiente rico ou com a situação financeira da minha cliente. Meros detalhes. O que me importava era que era a primeira vez que a _Impetuosa1422_ usava nossa agência e era minha responsabilidade causar uma boa impressão e garantir que ela continuasse voltando, de preferência, requisitando por mim.

Eu podia encontrar dois cenários, ou a Impetuosa estava acostumada com garotos de programa e estava estreando só na nossa agência, o que significava que seria uma noite como outra qualquer. Ou também podia ser a primeira experiência dela com acompanhantes e aí, eu teria que ser mais paciente, conversar, beber alguma coisa. Quase sempre elas sentiam a necessidade de justificar o porquê de estarem ali e o meu papel era ouvi-las, deixá-las à vontade e conseguir a confiança delas antes de partir para o sexo. Eu torci para que eu encontrasse a última opção. A foda era melhor quando eu tinha a oportunidade de usar meu charme e envolver a mulher antes.

O quarto ficava no último andar e a porta estava entreaberta, mas mesmo assim eu bati. Depois de alguns segundos sem resposta, enfiei minha cabeça pela abertura.

— Boa noite? — eu disse alto.

— Pode entrar. — A voz veio abafada de dentro do quarto. — Eu já vou.

Eu entrei no que era, na verdade, um pequeno apartamento de dois ambientes e tranquei a porta atrás de mim. Uma saleta com um conjunto de sofás de couro branco, um móvel com uma televisão e um bar com garrafas de bebida normais, não aquelas miniaturas que eram praxe em suítes menos luxuosas. Uma porta dupla se abria para o quarto com a cama coberta por lençóis branquinhos. A única iluminação vinha dos dois abajures nas mesinhas de cabeceiras e duas luminárias na parede em cima do sofá, a semiescuridão tornando tudo misterioso e aconchegante. Na perto da cama, uma porta, que devia ser o banheiro, estava fechada.

Fui até a janela enorme para apreciar a vista da orla de São Conrado enquanto esperava. Quando o pai do Sílvio deu a ele a opção entre estudar no Rio ou em São Paulo, eu não pude dar minha opinião, claro, mas fiquei internamente mais satisfeito do que eu tinha direito quando ele escolheu a Cidade Maravilhosa. A primeira vez que fomos à praia, foi também a primeira vez que eu vi o mar e eu fiquei tão de boca aberta que nem liguei para o Sílvio me chamando de 'bicho do mato', 'jeca tatu' e 'caipirão' quando eu provei a água para ver se era salgada de verdade.

A fazenda, o cheiro do mato e a lida dos animais estavam entranhados na minha pele, mas o Rio tinha me conquistado, e eu também me sentia em casa no meio daquele povo descontraído e caloroso. E tudo tinha melhorado ainda mais depois que a Elisa tinha vindo morar com a gente.

Meu coração se apertou ao lembrar da expressão de quem estava aprontando alguma que ela levava no rosto ao avisar ao irmão que estava saindo para comemorar o recém retorno a vida de solteira e não tinha hora para voltar para casa.

Sete PecadosWhere stories live. Discover now