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{ O boneco do irmão ; rugby ; jovens repletos de marcas de puberdade }

↠ Ashton Irwin.

Ainda que o meu despertador tenha tocado, optei por ficar na cama mais uns minutos. O fino e frio cobertor contrastava com o meu tronco nu, provocando-me uma sensação agradável. Gostava de colocar música baixinho mas a minha avó, quando me viesse acordar, iria entender que eu estava unicamente a perder tempo e a fazer nada. Estou apenas no meu segundo dia de aulas e o otimismo e vontade de trabalhar são incrivelmente negativos.

Tal como previa e como é habitual, a porta do meu quarto é aberta de forma lenta, deixando alguma claridade a tomar liberdade de entrar pelo meu quarto adentro. Fecho quase de imediato os olhos para que a minha avó não entendesse que eu já havia despertado. O meu corpo é levemente abanado pela minha avó e o meu rosto recebe um gesto carinhoso dos lábios da senhora.

- Vamos lá, Ashton. Mais um dia de trabalho.

Penso que a minha avó não compreendeu o 'já vou' que murmurei contra a almofada tendo então só aparentando ser uma forma de protesto. Quando as precianas são abertas os meus olhos, que a muito custo tentava manter abertos, são brutalmente fechados.

- Ashton, hoje é terça-feira. Tens que levar o teu irmão à escola, não te esqueças disso.

- Tem mesmo que ser?

- Tem, Ashton. Por isso, vamos lá despachar.

Reviro os olhos e deixo o meu tronco cair mole no colchão. O meu cabelo é despenteado e ainda consigo ouvir a minha avó rir-se baixinho com seu feito. Sorrio, não consigo ficar indiferente ao seu gesto, e deixo-me ficar na cama por mais um pouco, mentalizando-me que tinha de me levantar.

Eu tinha que fazer a barba pois já se começava a notar mas a minha vontade de fazer fosse o que fosse, hoje, era mesmo nenhuma. As memórias da noite passada ainda assombravam a minha mente. Recordo-me de o caminho para casa ser algo tortuoso, visto que as cores iam aumentando à medida que caminhava. Lembro-me de que chegara a parar o meu trajeto, por diversas vezes.

Uma vez que acabo o meu banho, visto algo confortável e caminho pelo curto corredor até chegar à cozinha. Componho o pequeno e castanho tapete, que se encontrava à entrada da mesma, com os pés, sinal que o meu irmão havia vindo a correr até aqui. Pois, a ele a minha avó não diz nada mas se fosse eu já estava a berrar.

- Bom dia, Harry. - Saudo-o, tomando o meu lugar na mesa.

- Ash! Ash! Olha o boneco que a avó me deu ontem!"

- Que giro. - Tento mostrar algum interesse, enquanto despejava uma quantidade exagerada de cereais no meu leite.

- É, não é?

- E tem algum poder especial? - Questiono, levando uma colher de cereais até à minha boca, mostrando-me interessado.

- Sim, ele atrai coisas com o seu íman poderoso.

- Ai sim?

Harry assente com a cabeça, maravilhado com o brinquedo insignificante. Com a mão livre, observo-o levar a pequena fração de pão à sua boca, acabando finalmente o seu pequeno-almoço.

Harry gosta sempre de ver um pouco de desenhos animados antes de ir para as aulas, não o posso culpar pois na idade dele fazia exatamente o mesmo. Já a contar com esse facto, mando-o despachar-se para que, quando eu acabasse de lavar os dentes, ele se encontrasse pronto. Ainda assim, conheço Harry demasiado bem e sei que ele vai fazer tudo vagarosamente.

Odeio os dias em que tenho que levar Harry à escola pois, para além de ter de acordar mais cedo, não posso levar a bicicleta e chego completamente exausto à sala de aula. Felizmente, hoje, cheguei, excecionalmente, a tempo, ou seja, antes do toque.

Parker e Ethan encontravam-se junto aos cacifos, provavelmente para retirarem os livros e os cadernos que iriam necessários às suas disciplinas. Visto que sou apenas um aluno de recuperação, não tenho direito a cacifo mas sintam a ironia quando me obrigam a praticar uma atividade extracurricular pertencente à escola. Por falar nisso, tenho que ir hoje tratar desse assunto na secretária antes que caiam todos em cima de mim. Prometi a mim mesmo ser responsável este ano.

"Eu continuo sem acreditar, Ethan! Como foi possível nós termos perdido ontem. Passei a noite toda orgulhoso e confiante e a meio tudo muda? Não foi justo!"

Rugby. Parker, o rapaz com um estanho vicio de pintar o cabelo, é fanático por este desporto, ainda que não tanto como por videojogos. Rugby é a modalidade mais comentada e mais importante aqui na Austrália e como homem da sociedade que sou não fico à parte desses assuntos. No entanto, sou demasiado preguiçoso para o praticar.

"Então Parker? O que aconteceu?" Questiono-lhe, entrando na conversa.

"Foi uma vergonha o jogo de ontem, foi o que aconteceu! Tu viste aquilo? Estávamos a jogar tão bem e depois parece que ficaram todos fracos!"

Na verdade, havia-me esquecido completamente do jogo. A noite de ontem estava resumida, na minha mente, a cores e sensações agradáveis. Por isso, não, não havia visualizado o jogo e muito menos sabia o resultado. Como podia eu comentar com os rapazes relativamente a isto? Simples.

"Não, passei a noite a estudar."

"Mas e o jogo, meu? Como consegues colocar um jogo, tão importante como o de ontem, à frente de uns meros estudos."

"Se tivesses ouvido o sermão da minha mãe, talvez tivesses feito o mesmo que eu."

"A tua mãe deu-te sermão? É de admirar." Ethan comenta, ao fechar o seu cacifo.

"Ela apenas disse que se eu continuasse a não me aplicar iria, provavelmente, ficar mais um ano a fazer melhorias e eu não me posso dar a esse luxo." Dou de ombros, encostando as minhas costas às portas de metal trancadas a cadeado. Não era lá muito confortável mas com a dor de pernas que me encontrava, chegava-me." Mas qual foi o resultado do jogo de ontem? Perdemos por muito?"

"Por dois, meu! Achas normal?" Parker diz claramente revoltado.

"Pois foi realmente muito mau..." Comento.

"Mau? Foi terrível!"

O toque interrompe o rapaz irritado, fazendo Ethan encolher os ombros assim que o olho. Ajeito a mochila, aborrecido por a mesma se encontrar constantemente a deslizar pelo meu ombro. Hoje apenas irei ter uma aula, o que é bastante gratificante. Eu mereço por ter sido um bom irmão. Assim que o toque deixa de se ouvir, Parker prossegue. "Bem, lá vou dormir para matemática."

"Antes tivesse Matemática." Ethan comenta o que Parker havia dito. "Infelizmente, vou ter Física. Vejo-vos aos dois depois?"

Ambos assentimos e seguimos os nossos caminhos. A minha sala ficava no primeiro piso e não sei como iria aguentar cem minutos de Matemática. Eu gostava de ter ficado na turma do Parker mas, sendo honesto comigo mesmo, estou feliz por isso não ter acontecido ou, caso contrário, as nossas aulas não passariam de risadas e de conversas paralelas.

Esse é o nosso problema. Quando estamos todos juntos parece que voltamos à nossa infância e agimos de modo imaturo, principalmente para quem assiste. Não é por mal e muito menos é opcional. Apenas agimos, é impossível controlar.

Tomo o meu lugar, no fundo da sala de aula, e retiro o caderno do interior da minha mochila cinzenta. A professora entra na sala de aula, com um ar autoritário, mas ainda assim não consegue calar os jovens divertidos e repletos de marcas de puberdade. Reviro os olhos e deito a cabeça na mesa, esperando que o respeito fosse imposto. Algo me diz que não irei fazer grande coisa nesta aula...

Inconsciência  》 irwinUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum