Décima segunda folha

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Jimin batia a caneta sobre o caderno repetidamente, sem emitir um som alto o bastante para que alguém percebesse. Não conseguia prestar atenção na aula, não depois de tudo aquilo que havia acontecido. Seus olhos alternavam entre encarar a porta e depois encarar Jiae, que estava sentada ao seu lado sem mover nenhum músculo. A turma toda estava tensa e quieta depois do ocorrido, causando um estranhamento em todos ali, inclusive no professor.

Estava irritado, na verdade, muito irritado. Sempre soube que seus "amigos" não eram os anjos inocentes que falhavam em interpretar. Muitos deles nem se preocupavam em encenar, mas mostravam suas garras abertamente para qualquer um que quisesse ver. E todos estavam bem com isso, como se fosse normal ser um otário e ser bem visto por todos os colegas.

Idiotas, ele pensava.

Aquilo era como um filme colegial clichê e irritava Jimin até o ponto de ele ter dificuldades para fazer parte desse jogo. Não havia um dia em que ele não se sentisse mal em ser mais um da gangue, mesmo que ele ficasse por fora de todos os planos que envolviam humilhar ou tratar mal alguém. Isso ia contra tudo o que Jimin gostava e acreditava, então ele preferia manter distância e estava conseguindo bem até hoje.

Claro que o doía no peito quando o alvo das brincadeiras – nada sadias – era Taehyung. Quando via o amigo ser incomodado pelos outros, suas unhas cravavam crescentes em suas palmas de tão forte que cerrava seus punhos. Porém, estava de mãos atadas. Sabia que seria pior se ele intervisse, pois sabia o que aconteceria caso o fizesse. Tudo estava interligado por invisíveis linhas, como finas fitas que uniam tudo de um jeito frágil. Não gostava da ideia de Jiae incomodar Taehyung, porém tinha conhecimento de que os outros eram muito piores e que, se tratando de Jiae, ele conseguia ter um certo controle da situação.

Olhou novamente para a garota, que ainda estava parada da mesma forma. Olhos vermelhos por conta das lágrimas e mãos segurando a cabeça enquanto os cotovelos iam apoiados à mesa. Suspirou, nada daquilo precisava ter acontecido se eles fossem mais maduros, mais corajosos.

Todos eles.

Mas Jimin via as coisas de uma maneira mais ampla, graças as suas eventuais conversas com o orientador. Seokjin certa vez o dissera que estavam na escola não apenas para aprender as matérias curriculares, mas sim, aprender como a vida funciona, como as pessoas funcionam e como tudo pode ser uma bagunça as vezes. Jimin sorriu pequeno, se lembrando do mais velho. Seokjin disse que não tinha jeito, as coisas eventualmente dão errado e a única coisa que se pode fazer é seguir em frente, tentar passar por cima da situação de alguma forma.

Havia de tirar – mais – uma lição de tudo aquilo.

Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta da sala se abriu. Taehyung entrou devagar, seguido por Jeongguk e Seokjin. O orientador entrou para dizer algo para o professor, que lhe deu a palavra.

– Eu preciso falar com alguns de vocês. – Seokjin sorriu docemente, como sempre, e levantou os olhos para olhar para a turma. – No Sooil. Kim Jiyeon e Yoo Jiae.

Ao serem chamados, Kei e Sooil trocaram olhares e se levantaram instantaneamente, sabendo exatamente o motivo. Jiae se levantou também, mas sem antes olhar para Jimin por alguns segundos.

Jimin podia dizer que ela estava com medo, senão, apavorada. Era a terceira vez que era chamada pela orientação, sendo a primeira vez por culpa novamente das duas pessoas que foram chamadas junto com ela. Jimin fez a única coisa que podia, mostrou um sorriso fraco de encorajamento e ficou observando os três saírem da sala, acompanhados de Seokjin.

Estava acostumado a ver esse lado de Jiae. Já fazia muito tempo que aprendera a lidar com o lado frágil da garota, que não era nada mais nada menos do que seu verdadeiro ser. Afinal, os dois estavam praticamente no mesmo barco. Obviamente, Jimin sabia que ela merecia todo e qualquer castigo por tratar as pessoas daquele jeito, mas mesmo assim ficava apreensivo. Não gostou do jeito que Sooil e Kei trataram Jiae e, o fato de eles serem todos supostamente amigos tornava a coisa toda ainda pior.

91 dias de OutonoWhere stories live. Discover now