Capítulo II - Um pouco mais comum agora

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Fez-se silêncio por vários segundos.

Lawrence encarava sua cliente, como que refletindo a possibilidade de estar diante de um fantasma ou de um zumbi. Linda não parecia ser nenhum dos dois, no entanto, e a parte sã da mente do detetive lhe dizia que tais seres não existiam.

Carlos e Marie também pareciam surpresos com a fala da mulher, o que poderia indicar que havia algo além do que ela havia dito.

O ruivo pigarreou e voltou à sua pose profissional.

— Não compreendi muito bem a situação, senhorita.

— Perdoe minha irmã — desculpou-se Marie, dando-lhe uma cotovelada. — Ela e sua mania de usar frases de efeito. Não se assuste, senhor Knopp, não foi nada disso que aconteceu. — E, para Linda: — Já lhe avisei para parar com isso.

Linda revirou os olhos.

— O que foi então? — perguntou o detetive, sem entender. Virou-se para Carlos. — Você não deu um pio desde que chegou. Esclareça, por favor.

O sujeito pareceu assustado com a súbita atenção que lhe foi dirigida.

— Ah, não, senhor. Marie saberá explicar melhor.

— Então que ela explique — exclamou. — Pois não estou inclinado a acreditar que sua filha renasceu dos mortos.

— Bem... — Hesitou. — Foi exatamente isso que pensávamos ter acontecido.

Lawrence ouviu, curioso. Firmou os pés no chão e uniu as mãos em forma de triângulo, sob o nariz.

— O que aconteceu?

Carlos pigarreou, um tanto desconfortável com aquela situação, e fez um gesto para que sua mais velha contasse tudo.

Ela se sentou ereta, numa postura adequada para uma bibliotecária, e se pôs a falar.

— Semana passada — começou —, Linda veio nos visitar para nos avisar de uma viagem que iria fazer para Estrasburgo. Ficaria quatro dias lá e precisaria de alguém para cuidar da casa enquanto estivesse fora. Eu me prontifiquei para isso. Pois bem, quatro dias atrás foi o dia da viagem. Linda nos mandou uma mensagem dizendo que estava tudo bem e que em breve estaria de volta.

"Três dias depois, fui até sua casa para regar as plantas. Tinha lido em algum site que, se as molhasse depois de o sol se pôr, aproveitaria melhor a água por causa do frio, assim evitando sua perda com a evaporação. Enfim... Fui até lá. Reguei as margaridas do jardim, as orquídeas e as outras flores que não consegui identificar. Não entendo muito de vegetais. Por fim, contornei a casa para poder molhar as plantas da parte de trás. Foi então que eu vi.

"Minha visão não é das melhores, entende? Deveria usar óculos, eu sei, mas não gosto da sensação de ter algo na frente de meus olhos. Mesmo assim, consegui perceber que havia alguma coisa próxima ao matagal, mas não soube identificar o que era. Caminhei até lá. Deixei o regador no chão e me aproximei, mas quando eu cheguei perto..."

Lawrence viu a mulher estremecer. A lembrança ainda era recente — por mais que sua irmã continuasse sã, salva e viva do seu lado.

— Eu vi um corpo ensanguentado, senhor. — Sua voz tremia e ela fazia pausas para respirar. Estava amedrontada. — Estava jogado no chão e tinha uma faca enorme ao lado. Aquele sangue, aquele tom fúnebre... — Ela parou de falar. — Senhor Knopp, eu tive certeza de que era Linda. Não consegui ver direito naquela escuridão, mas era ela. Na hora, entrei em pânico, larguei tudo e voltei correndo para casa, sem olhar melhor. Avisei meu pai e todos que estavam lá. Foi um desespero, senhor, você precisava ver aquilo.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawDonde viven las historias. Descúbrelo ahora