Capítulo XIX (pt. 2) - Tudo faz sentido

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O espanto foi geral. Todos os presentes voltaram as cabeças para a senhora. Ela? Era ela a assassina?

A reação de Ruth foi curiosa. Raiva, muita raiva, mas fazia o possível para esconder. Ela olhava para Lawrence com desprezo, as narinas levantadas e dilatadas, em um tom desafiador. Uma mescla de emoções perfeita para o fim de um caso com uma mescla de teorias.

O detetive continuou, sob os olhares incrédulos dos demais.

- A senhora esperou seu marido sair para tirar Anastasia de casa. Talvez a tenha convidado para sair, comer alguma coisa... Como o fez não tenho como saber, mas sei que, assim que Roger saiu, a senhora levou Anastasia em seu próprio carro, já sob efeito do sonífero, possivelmente. A levou até a casa de Linda, a assassinou e teve o cuidado de amordaçar a garota para que não chamasse atenção com seus gritos. Após fazer isso e limpar o sangue em seus sapatos, livrou-se do lenço e foi até o mercado para tentar criar um álibi. - Ele olhou para os dois amantes antes de se inclinar sobre a senhora. - Você sabia que nenhum dos dois estaria em casa. Você já sabia da traição, já conhecia o trajeto e já havia seguido seu marido até a casa da amante antes. A senhora, de alguma forma, sabia dos planos de seu marido naquele dia, então sabia que o caminho estava livre para cometer o crime. Enquanto Roger levava Linda até o aeroporto, você deixou o corpo de sua sobrinha próximo ao matagal, em algum lugar à vista, para que alguém pudesse encontrá-lo e, assim, suspeitar de Linda. Conversei com os policiais e quase todos concordavam que a senhorita Barden era de fato a assassina, embora não houvesse provas. Seu plano teria dado certo se não tivessem vindo até mim e pedido para que eu investigasse o caso.

Roger encarava sua esposa, sem acreditar. Todos os presentes, na verdade, embora a sua surpresa fosse maior. E com razão: era casado com uma assassina e não fazia a menor ideia. Os outros não podiam imaginar como uma senhora teria condições de cometer um crime como aquele, embora Ruth ainda estivesse na casa dos quarenta e, como Keplan dissera, Anastasia não fosse alguém difícil de se imobilizar. Era vegetariana, afinal - ainda que insistissem que não tinha nada a ver, Lawrence, além de contra pessoas com barba por fazer, também cultivava certo preconceito contra vegetarianos.

A senhora cruzou os braços e se reclinou no sofá. Ainda não estava disposta a entregar o jogo.

- E por que eu faria uma coisa dessas?

O detetive sorriu. Ela era esperta, muito esperta, não haveria graça se não fosse assim. Lawrence dissera que ela tinha um forte motivo, mas não disse qual era. Não acreditariam, não esperariam por isso, também. O desenrolar das investigações, com a descoberta da traição de Roger, desviaria o foco da esposa, de forma que a possibilidade não seria sequer cogitada.

Lawrence, no entanto, não era um simples investigador. Era Lawrence Knopp, o segundo maior detetive de todos os tempos, segundo seus próprios parâmetros - que, assim como suas teorias, sempre estavam corretos.

Mas seria divertido jogar seu jogo, então resolveu brincar um pouco.

- Chegamos agora a uma incongruência - disse ele, sorrindo para a assassina. - O que levaria uma mulher traída a assassinar a pessoa que descobriu essa traição?

Lawrence aguardou alguns segundos, como que esperando que alguém lhe revelasse a resposta para sua pergunta. Seus olhos saltavam de pessoa em pessoa, incitando-os a mostrar uma saída para a questão que tanto martelara na cabeça do detetive. Ninguém além de Lawrence parecia saber a solução - com exceção é claro, de duas pessoas.

Uma era Ruth Quint, que encarava o detetive com uma postura desafiadora. Esta, entretanto, não mostrava a menor indicação de que iria se pronunciar.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOù les histoires vivent. Découvrez maintenant