Morreu, mas Passa Bem - Série Law

Capítulo XII - Café frio

 O dia amanheceu alegre e ensolarado, em total contraste com o humor do detetive.

Havia encerrado as atividades do dia anterior logo após a saída de Benjamim da sala em que os interrogatórios aconteceram. Não demorou muito a voltar para casa e ir se deitar, mas o intervalo entre esta ação e o ato de dormir em si se estendeu por mais de hora. A mente de Lawrence repassava os detalhes dos interrogatórios, focando nas declarações que aparentavam ser mais importantes e deixando as demais de lado — sem, é claro, descartá-las por completo.

Quanto aos Quint, não havia nada de interessante além dos horários de entrada e saída de ambos. Roger saiu para levar um colega até sua casa por volta das 17h20 e retornou 18h40. Ruth, por sua vez, entre as 18h10 e 18h20 esteve no mercado, segundo a nota fiscal que mostrara ao detetive.

Lawrence ainda não conseguia conceber que alguém guardava notas fiscais, mas, pelo menos, isso provava que ela de fato esteve onde disse estar. Quanto a Roger, só podia contar com sua palavra.

Anastasia, portanto, só poderia ter saído de casa nesse intervalo de dez minutos em que a tia esteve fora, ou então saído antes, sem que a mulher percebesse. De toda forma, a única certeza era a de que a viagem de Linda e o sumiço de Anastasia ocorreram no mesmo dia. Não podia ser uma coincidência.

Quanto aos Barden, havia bastantes anotações interessantes que poderiam ou não ser pistas. O namorado de Linda levou e buscou a mulher no aeroporto — outra coisa que Lawrence não conseguia conceber: Linda ter um namorado! Além disso, havia divergências entre Benjamim e a sobrinha. Ele não gostava dela, o que Lawrence conseguia compreender perfeitamente. Poderia não significar nada, mas também poderia significar algo. Mais um detalhe interessante — ainda que não relativo ao interrogatório da noite anterior — era que Marie viu o corpo de Anastasia na grama quase no mesmo momento em que chegou nos fundos da casa.

Por fim, o que era, sem dúvida, o fato mais suspeito do interrogatório, as duas filhas de Carlos demonstraram conhecer Anastasia Quint — ou, pelo menos, como Lawrence supunha, já ouviram o nome em algum momento. Isso era um indício de que havia, de fato, uma intersecção em algum lugar, e que Anastasia ter sido encontrada na casa de Linda não era um acontecimento aleatório. Isso significava que Lawrence poderia afirmar, com quase total segurança, que um dos seis suspeitos era o assassino.

Mas quem?

Ainda não encontrara a intersecção, mas sabia que havia uma. O que poderia ser? Lawrence teve algumas ideias, mas não conseguia imaginar nada que não excedesse os limites da lógica racional.

Poderia um dos Barden ser o assaltante que tornou Anastasia órfã e retornou para terminar o serviço? Não, provavelmente a polícia o teria reconhecido.

Poderiam Carlos e Lise ser os pais da menina, forjando a própria morte no assalto e começando uma nova vida? Se fosse verdade, Marie e Linda seriam irmãs de Anastasia, e os Quint disseram a Lawrence que esta era filha única.

Poderiam as três, em vez de irmãs, serem amigas íntimas há tempos e a garota morta ter fugido para a casa de Linda? Era quase certo para o detetive que a menina não havia fugido, e, se eram tão amigas a ponto de fugirem para a casa uma da outra, o que levaria Linda a assassiná-la?

Poderia Linda ter matado Anastasia antes de ir viajar?

Lawrence estava voltando a criar teorias para o assassinato em vez de buscar a união entre as famílias — o que seria vital para a solução do caso —, e isso o irritava. O que poderia ser?

Se o tal assaltante não tivesse sido preso — e provavelmente ainda estivesse preso no momento em que o detetive refletia sobre essa possibilidade —, Lawrence poderia até considerar sua primeira ideia. Um assassino buscando a morte de todos os membros de uma família daria uma trama muito mais interessante do que um simples assalto, mas o bom senso dizia a Lawrence que considerar essa alternativa seria besteira, e, pela primeira vez em sua vida, ele seguiu seu bom senso.