A Sociedade do Coração Flamejante (Completo)

Três

A Neve caia constantemente enquanto atravessavam a densa floresta em direção ao palácio, conforme o céu escurecia gradativamente e as primeiras estrelas apareciam no horizonte. O suave som do vento entre as copas das árvores parecia uma sinfonia reconfortante quebrando silêncio que os envolvia, tragando-os para dentro daquela loucura que estavam prestes a cometer.

O jovem Príncipe mantinha seu cenho franzido repassando em sua cabeça o que tinha acontecido desde aquela amanhã, tentando encontrar uma explicação mais lógica para tudo aquilo e falhava miseravelmente vez após vez.

A sua versão alguns anos mais velho continuava calmo, liderando aquela expedição afundando os pés na camada fofa de neve, tão determinado a completar sua missão do exato modo como ocorrera da primeira vez que seu maxilar permanecia travado com ódio por não ter previsto toda aquela reviravolta em sua vida quando era mais novo.

Liena já tinha lido e escutado inúmeras vezes, vezes demais, sobre aquela noite e seus acontecimentos, de modo que se encolheu dentro de seu espeço casaco e se abraçou para se manter quente, conforme a densa nevoa surgia a sua frente ao expirar profundamente. Por mais que compreendesse sua exima função para que tudo ocorresse do mesmo modo, desejava que outra pessoa tivesse sido designada para aquela missão.

Um arrepio subia por suas costas toda vez que se lembrava do que estavam prestes a fazer. Ah, como aquilo era amedrontador! Apenas eles três contra quantos forem que estivessem dentro do palácio naquele hora se preparando para o jantar de véspera de natal.

Seus olhos deveriam estar mais atentos do que nunca, afim de manter a integridade daqueles dois rapazes a sua frente que no final eram apenas um, para que o curso da história se mantivesse o mesmo. Aquele velho discurso que os anciãos proferiam toda vez que uma missão era concedida estava tão arraigada em sua mente que podia ouvi-los naquele exato momento apesar do assovio do vento e o farfalhar dos galhos das árvores a sua volta.

Depois de andarem pelo que pareciam horas intermináveis tendo que esfregar as mãos uma na outra para mantê-las aquecidas e ainda assim sentir as pontas dos dedos gelados, avistaram as altas torres do palácio. Eles pararam no alto da colina onde se encontravam, ofegantes da longa caminhada, admirando aquele lugar que Liena conhecia apenas pelas velhas fotografias. Não seria ela que contaria ao Príncipe o que aconteceria com seu precioso lar no futuro.

Se tudo ocorresse como deveria, no fim daquela semana Vossa Alteza Real, Gael Priezo Corales, seria coroado Rei e Soberano de Alvindor.

Liena soltou um profundo suspiro e se virou para o jovem Príncipe ao seu lado que mantinha seu olhar estático focado na exuberante imagem do castelo em meio àquela imensidão branca e a constante neve que caía com delicadeza sobre os telhados.

"Bem, está na hora." O Rei disse, tendo suas palavras quase encobertas pelo denso vento que assoviava.

"Se seguimos o plano à risca, tudo dará certo." Liena comentou segurando com força seu pingente ao olhá-los com fervor.

O jovem príncipe se virou para sua versão mais velha que carregava algumas marcas de expressão no rosto e uma espessa barba franzindo o cenho. Ele ainda não tinha completa certeza dentro de si de que tudo aquilo de fato estava acontecendo ou se não passava de sua mente criativa lhe pregando uma peça. Mas, fosse o que fosse, alguma coisa dentro de si, algo que ele nunca tinha sentido antes, lhe dizia que podia confiar completamente naquele dois estranhos.

"Digamos que tudo isso dê certo." Ele pôs a dizer. "O que acontecerá com o Reino?"

"Você sabe exatamente o que acontecerá." O Rei lhe respondeu bondosamente pousando sua mão sobre o ombro do Príncipe.

O Príncipe apertou os lábios formando uma fina linha em seu rosto e baixou os olhos para suas botas cobertas pela neve. Ele inspirou voltando a levantar a cabeça e acenou para seus dois novos companheiros antes de voltarem a caminhar pela escuridão em direção ao castelo.

Conforme se aproximavam dos altos murros de pedra, o coração do jovem Príncipe se apertou dentro do peito ao passo que sua respiração pesava ao tentar se lembrar de todas aquelas aulas intermináveis de esgrima que teve ao passar dos anos, acreditando cegamente que jamais precisaria coloca-la em pratica. Se ele soubesse previamente o quão errado estava, teria se empenhado mais a aprender a manejar uma espada com maestria.

Seu corpo se retesou contra a fria parede ao assistir a si mesmo retirar uma longa corda com um gancho de três pontas e se afasta alguns passos olhando para cima ao girar o gancho no ar com agilidade e jogá-lo em direção ao topo do murro. O gancho bate contra a pedra com um tilintar que o faz estremecer e fechar os olhos com força. Ele repete o procedimento três vezes até o gancho se prender e o puxa com força tendo certeza de que poderiam usá-lo.

"Eu vou na frente." O Rei anuncia enroscando sua mão na corda e apoia o pé no murro se preparando para a subida. "Liena vem em seguida e você espera aqui!"

"Mas," o Príncipe tentou rebater antes de ser interrompido.

"Nós temos que seguir o plano com afinco." O Rei o lembrou. "Se algo acontecer comigo lá em cima não há problema. O problema é se acontecer com você. Entendeu? Você fica aqui!"

O Príncipe concordou a contra gosto com um aceno de cabeça, assistindo seu eu começar a subida com dificuldade.

"Se tudo der certo e vai dar, porque senão eu nem estaria aqui, aquela porta vai se abrir." Liena contou apontando para uma pequena porta de madeira quase esquecida no final da extensão do muro. "Nos vemos daqui a pouco."

Ela quebrou todos os protocolos ao abraçá-lo rapidamente, ajeitando sua roupa logo em seguida com aquele pequeno constrangimento criado desnecessariamente e tratou de se enroscar na corda.

E ali ele ficou assistindo seus novos aliados colocando suas vidas em risco para retomar algo que sempre fora seu.

1002 palavras.

**Hello folks! Antes tarde do que nunca e ainda faltam dois capítulos. Haha. Vamos ver se vai dar tempo. Tomara que dê! Bem, é isso. Beijos e desligo.**