A Sociedade do Coração Flamejante (Completo)

Quatro

No alto do muro o já entronizado Rei Gael ofegava sentindo o vento gelado contra seu rosto suado, estremecendo todo seu corpo. Ele ainda se lembrava quase que com perfeição do medo e da revolta de ter sido deixado para trás anos atrás ao ter que ficar esperando pelo que parecia horas naquele frio estarrecedor até que a pequena porta fosse aberta por Liena.

Agora, ciente de que não demoraria mais que alguns míseros minutos, ele pulou na estreita passarela que circundava o murro e se esgueirou rapidamente ao ver o brilho de algumas tochas do outro lado até a escada mais próxima com ela em seu encalço.

Os dois se despediram seguindo caminhos diferentes enquanto ele continuou seu caminho pela passarela até encontrar a escadaria certa que o levaria direto para dentro do palácio, ela desceu rapidamente aqueles degraus escorregadios perdida no breu até se deparar com a pequena porta de madeira.

Ela precisou de um esforço a mais para retirar o pedaço de madeira que fechava a porta, quase a derrubando ao pegá-lo de uma vez para apoiá-lo na quina da parede. Por fim ela abriu uma fresta e fez sinal para que Gael tratasse de adentrar aquela fortaleza.

O jovem Príncipe jamais admitiria, mas naquele momento respirou aliviado ao ver aquele rosto amigo, sacudindo os cabelos cheios de flocos de neve ao guiá-la por aquele emaranhado de corredores escuros em passos ágeis e silenciosos até o pátio do castelo, por onde teriam a chance de se embrenhar outra vez para dentro do castelo.

Desembainhando sua espada lentamente ao avistar dois de seus guardas diante da porta principal, Gael esqueceu como se respirava e se manteve atônito os observando, com seu coração acelerado dentro do peito, com ódio crescendo rapidamente dentro de si sem acreditar que tais pessoas um dia juraram servi-lo até a morte.

Ao trocar um breve olhar com Liena, teve a comprovação de que não havia como passar por aqueles guardas sem serem vistos. Aquele era o momento que queriam evitar, por não causarem grande comoção dentro do castelo para pegarem seu tio de surpresa. Assim, o Príncipe estranhou quando ela guardou a adaga em sua bainha e fez sinal para que ele esperasse ali antes de sair da escuridão em direção ao pátio.

Sob a luz da lua ela caminhou lentamente sem se preocupar com o que poderia acontecer sem desviar seus olhos dos guardas que assustaram ao vê-la. Eles ergueram suas espadas antes de proferirem qualquer palavra, apontando o fio reluzente para ela, fazendo-a sorrir despretensiosamente ao parar por um breve instante antes de correr ferozmente e deslizar no chão escorregadio diante deles mantendo uma das pernas retas, acertando-os e os derrubando.

Liena chutou uma das espadas para longe, criando uma vantagem para si, girando no ar e acertando o primeiro que ousou se levantar, levando-o outra vez ao chão e golpeando o segundo com o punho fechado sem ao menos sair do lugar. Ela pegou uma espada, a analisando e depois a outra, perdendo-as em seu cinto antes de fazer sinal para que o Príncipe por fim se aproximasse.

"Me ajude a amarrá-los." Pediu rasgando uma faixa de sua camisa, causando espanto em Gael. "Deixemos o constrangimento para depois, tudo bem? Precisamos deles bem quietos e imóveis nos próximos minutos."

O Príncipe fez o mesmo com suas vestes, amarrando as mãos do guarda em suas costas, arrastando-o para uma em uma das colunas adjacentes, sem se esquecer de amordaçá-los. Com o pequeno trabalho feito, Liena lhe entregou uma das espadas adquiridas e circundaram vagarosamente o castelo em busca de uma janela entreaberta que o rei deveria deixar assim que passasse por um dos corredores internos.

E não ficaram nem um pouco felizes ao descobrirem que a janela que os esperava ficava no segundo andar.

"Só pode ser brincadeira!", o Príncipe reclamou incrédulo.

"É melhor começarmos a escalar. Vá na frente." Liena o encorajou. "Basta encontrar apoio para os pés e pequenos vãos onde encaixar as mãos."

"Nós vamos morrer antes de chegarmos lá dentro." Ele resmungou enfiando sua mão em uma brecha entre os blocos de pedra se impulsionando para cima.

Liena esperou ter uma pequena vantagem para segui-lo.

Gael a procurou abaixo de si, com seu estômago se revirando, mal acreditando no que estava fazendo, quando avistou alguns guardas se aproximando correndo, apontando para eles. Ele aumentou o ritmo em desespero, com seus dedos raspando nas pedras, criando fissuras em sua pele que ardia com aquele vento gelado que levantava suas roupas tornando difícil respirar.

Faltava pouco para alcançar a janela entreaberta quando Liena se desprendeu da parede, caindo um pouco desajeitada, puxando sua espada rapidamente e apontando-a para o primeiro guarda que se aproximou diminuindo o passo, criando um alto tilintar quando as lâminas se encontraram no ar.

Sem esperar pelo fim daquela luta ou mesmo de uma confirmação de que deveria seguir adiante, o jovem Príncipe grudou na beirada da janela e quase sem forças deixou seu corpo despencar para o lado de dentro, tratando de se levantar e correr para o local combinado.

Tanto seu eu mais velho e rabugento quanto Liena foram claros em mencionar aonde seu tio traidor se encontraria naquela bela noite fria. Gael segurou com força o cabo de sua espadas, tendo-a junto se seu corpo, atravessando aqueles longos corredores com o rancor enuviando sua visão. Sua cabeça mal raciocinava àquela altura e não se importava mais com o que teria de fazer quando ficasse frente a frente com aquele verme que um dia fora parte de sua família.

Ao empurrar as pesadas portas de madeira entalhada da sala de jantar grunhindo de raiva, ignorando o baque das mesmas ao se chocarem contra as paredes laterais, Gael se deparou com seu tio rindo do outro lado da sala, sentando no lugar que era seu, com uma taça de vinho nas mãos, usando a coroa que lhe fora prometida e seu eu mais velho ao lado com a espada em mãos apontando para a garganta.

1001 palavras.

**Hello folks! A pessoa aqui do outro lado tá ralando e suando para o último capítulo sair antes de domingo. Será que rola? Vamos torcer pra que sim. Só basta torcer para que o trono e o natal sejam salvos. Beijos e desligo.**