Capítulo 4.

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Dayane P.O.V.

Estava sentada nas escadas, no estado mais humilhante que já estive. Se alguém passasse por ali, veria que eu estava na pior fase da minha vida. Se eu me importava com isso? Não, visto que a dor que habitava meu peito nesse instante era maior do que qualquer vergonha ou algo do tipo.

Recebi uma ligação, e peguei meu celular. Como eu sempre gosto de me humilhar mais um pouco, ao escutar o toque, meu coração acelerou, esperando que fosse Carol. Que ela iria dizer desculpas, que não queria dizer nada do que disse. "Porra Dayane, eu te amo. Foda-se tudo, vamos ficar juntas.". Consegui projetar a voz dela dizendo isso na minha cabeça. Tudo isso em questão de uma fração de segundo.

Mas ali estava a realidade cruel me massacrando mais uma vez. O nome na tela indicava que a ligação vinha de Sarah. Eu deslizaria e rejeitaria a chamada, mas como sabia que ela iria insistir, acabei facilitando as coisas.

— Oi? – Falei, com a melhor voz que consegui fazer. Não chegou nem perto de alguém que não estivesse fodidamente triste, naquele momento.

— Oi, Day. Como foi com a Carol?

— Nada bem, Sarah. Eu ainda estou no prédio dela. – Respondi, me segurando pra não desabar naquela ligação.

— Está com ela? Ou vindo embora?

— Mais precisamente na escada, com a cara toda inchada e tentando não chorar enquanto falo contigo. – Assumi, suspirando profundamente. Sarah havia acompanhado boa parte de tudo o que havia acontecido comigo em relação à Caroline, então não havia porque mentir ao todo.

— Oh, meu bem. Olha. Vou te buscar, ok? Vou cuidar de você. Em alguns minutos estou aí, te ligo e você desce. Se recomponha.

Sarah falou e se despediu mais que rapidamente, desligando o telefone. Entendi a pressa, ela estava preocupada. E eu era grata, quantas vezes Sarah já não havia me salvado? Eu não podia contar nos dedos.

Ela nunca fez questão de esconder que me amava, mais do que como amiga. E sempre entendeu que esse não era meu momento de tentar amar alguém de volta. Se contentava com nossa relação meio conturbada, ao meu ver: uma amizade que alternava entre sexo por conveniência e comigo deitada em seu colo, chorando pela... ex.

Quando estava me preparando para levantar, escutei vozes se aproximando e fiquei olhando pra baixo, na expectativa de não ser notada. Quando reconheci uma das vozes, aí sim percebi que não queria ser notada. Mas era impossível. Ela já tinha me visto.

Eu te amo, meu bem. Sua voz sempre tão suave, com palavras que poderiam aquecer até mesmo o coração mais frio. Eu tive a sorte de ser a escolhida.

Sim, eu tive. Agora, essas palavras eram direcionadas à outro. E isso me matava em mil e uma maneiras.

A confirmação de que ela realmente o amava muito veio de sua boca, o que havia me soado tal como um soco no estômago. Havia sido bem no momento em que eles desceram o degrau o qual eu estava sentada. Minha minúscula e humilhante presença ali havia sido completamente ignorada, como se eu fosse um nada.

Talvez seria melhor se eu realmente fosse.

Assim que eles desceram, meu telefone tocou. Sarah avisou que havia chegado pra me buscar, e eu estranhei a rapidez, mas desci as escadas.

— Oi, meu amor. – Ela murmurou assim que eu sai pelas portas de vidro do prédio. Caminhou em minha direção e sem nenhum aviso, selou nossos lábios. Retribui por mínimos segundos, mas me afastei.

— Desculpa, não estou no momento. Me leva embora? – Perguntei, vendo ela assentir calada.

Caminhei até seu carro, aonde adentrei. Não trocamos mais palavras, e eu estava com a cabeça encostada no vidro quando o destino, mais uma vez, resolveu brincar comigo, já que Sarah ligou o rádio, e eu logo pude reconhecer a canção que tocava.

"Mas eu não sei qual a razão, não entendi porque ela foi embora..."

É... talvez eu nunca fosse entender.

Perdoar • DayrolWhere stories live. Discover now