Capítulo 08

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Valentina

   O clarão invadia as enormes janelas, atravessando as cortinas, refletindo o desenho das flores pelo chão. Talvez, eu tivesse assimilando as coisas, há um bom tempo ainda deitada na cama, pegando em meus devaneios, enquanto o vento bate em meu rosto, afastando os fios longos do cabelo para trás da orelha. 

   Desde que cheguei nessa casa, eu não faço outra coisa, a não ser questionar para Deus, se realmente esse era o meu destino. E me pergunto, se é pecado, pensar dessa forma, mesmo que eu já tenha pedido várias vezes, perdão, por julgar antes de saber do futuro.

   Não me passa na cabeça, aceitar as condições, bom, se é que Apolo me propôs alguma, já que ainda não sentamos para conversar, aceitar o que ele quer de mim. Mas pensar que esse tempo todo, eu que fui enganada e Ícaro também foi a peça principal, disso tudo me iludindo, pra mim, é mais difícil acreditar nas pessoas. Ainda mais na minha própria família. Mas eu não vou deixar, que Apolo faça de mim, o que quer. Nem que eu tenha que fazer da vida dele um inferno.

   Me levanto da cama e ando em direção a porta do quarto, quando ouço o motor do carro se aproximando pelo lado de fora. Me aproximo da janela, me escondendo entremeio as cortinas e vejo a tia de Apolo, mais a prima Bruna e Thomas, tio de Apolo. Recuo para trás e dou de ombros para a sacada, caminhando até a porta, saindo do quarto.

   Sigo o corredor, quando ouço de longe, Apolo que parece cumprimentá-los, assim que adentram na casa. Dou mais dois passos a frente, observando-os pelo topo da escada e Apolo faz sinal, pedindo para que eu desça. Faço o que ele pede, afinal, preciso que a família dele, saiba que somos um perfeito casal, quando, na verdade, estamos em pé de guerra.

— Valentina! Como é bom, vê-la outra vez. Assim que soube do acidente, eu fui correndo para o hospital. Mas já está melhor? — Sarah pergunta, me abraçando com um gesto de carinho.

   Assinto, com a cabeça sorrindo. Realmente, eu não imaginava a reação da tia de Apolo ao me ver. Ela me trata como se realmente eu fosse da família. 

— Sim, estou. Obrigada, Sarah. — Agradeço, apenas desviando o olhar para Apolo.

   Ele coça a barba, me olhando atravessado e ergue a sobrancelha esquerda, como sempre faz, em um gesto de autoridade. Volto a olhar para Sarah, mas a minha atenção, se volta para Bruna, que me abraça, mas logo depois, recua me olhando nos olhos.

— Nós estamos muito felizes, que você esteja bem, Valentina! — Bruna afirma, erguendo o cenho. — Eu até pedia para Apolo vir embora, para que eu passasse a noite com você no hospital, mas como é de família, ele recusava. Porque é um teimoso!

   Novamente, desvio o olhar para Apolo não acreditando que ele ficou o tempo todo comigo desde quando cheguei ao hospital, até o último dia. Mesmo assim, não me convém, aceitar tudo isso pelo que passo, ainda mais, nas mãos desse monstro que diz ser meu marido.

   Apolo se aproxima, enlaçando o seu braço na minha cintura e sinto o mesmo arrepio pela espinha, quando ele me toca.

— Valentina, eu e o meu tio, vamos partir agora. A minha tia mais a Bruna, ficarão aqui na nossa casa, até que eu volte. — Ele diz, apenas me fazendo olhar me seus olhos.

   Balanço a cabeça em negação e sorrio, sem graça, afastando uma madeixa do cabelo atrás da orelha, quebrando o silêncio.

— A-Apolo, não precisa! Não quero que a sua prima mais a sua tia, se incomodem... — Sarah me interrompe, sorrindo.

— Ah! Sobrinho! A sua esposa, realmente não me conhece! — Ela afirma, balançando a cabeça. — Valentina, você já é da família. É uma verdadeira Carmona. A legítima. E saiba, que sempre, pode contar comigo, para o que você precisar, meu amor.

   As palavras da tia de Apolo, me confortam, me fazendo sentir leve por dentro como se eu a conhecesse de longas datas. Sarah não é apenas uma mulher. E sim, uma dama de bom porte. Tão delicada, e, ao mesmo tempo, sedutora, mas ela mostra ser uma pessoa humilde. Que me faz lembrar da minha mãe.

— E conte comigo também, Valentina. Minha priminha

   Eu e Bruna, sorrimos ao mesmo tempo. Thomas se aproxima e pega na minha mão, quebrando o silêncio.

— E eu prometo,que cuidarei do seu marido, a viagem toda. — Thomas fala, convicto.

   Me estremeço toda, ao ouvir a sua voz, que é tão familiar, tanto quanto a voz que soou atrás de mim, ameaçando os meus pais, caso que não me casasse com Apolo. Engulo em seco meio assustada, e apenas concordo com a cabeça com os olhos arregalados.

   A mesma voz que ameaçou os meus pais na igreja, é a esma que estou ouvindo outra vez. E dessa vez, dentro da casa de Apo... Da nossa casa. Será mesmo, que Thomas, teria dito aquilo pra mim, enquanto segurou o meu braço, disfarçadamente? — Penso, em silêncio pegando em meus devaneios. 

— Eu voltarei, o mais breve possível. — Apolo diz, sorrindo em linha reta.

   Assinto, com a cabeça erguendo as sobrancelhas, quando sou surpreendida com um beijo demorado na boca. Mesmo que eu queira me afastar, há algo que me prende, dizendo para que eu fique. E segundos depois, Apolo recua para trás ainda pegado na minha mão e eu o sigo, andando ao seu lado até a porta. Sara se despede de Thomas e em seguida, Bruna faz o mesmo, se despedindo do seu pai. Novamente, Apolo e eu, nos entreolhamos e ele ergue as sobrancelhas, beijando a minha mão.

— Sentirei sua falta. — Ele diz, penetrando os seus olhos nos meus.

   Penetro os meus olhos nos seus, em total silêncio, apenas o observando.

   Pois eu preferia mil vezes, que ficasse o mais longe de mim. — Penso, em silêncio olhando em seus olhos com os lábios entreabertos.

   Apolo se aproxima e toma os meus lábios em um beijo envolvente e quente, sem ao menos se importar, que os seus tios e a sua prima, nos vejam se beijando. Me envolvo, sem querer, mesmo que eu não queira sentir o gosto de sua boca, que ainda, é o mesmo sabor desde que o beijei pela primeira vez em frente ao altar.

   Ponho as mãos em seu peito delicadamente ainda com os olhos fechados, sendo punida pelos seus beijos ardentes. Não posso negar, que Apolo beija muito bem, mas é impossível sentir alguma coisa por ele, sendo que não estou apaixonada. Eu não o amo.

   Ele recua, abrindo os olhos e eu faço o mesmo. Apolo abre um sorriso de alegria no rosto e ergue as sobrancelhas, surpreso pela minha reação. Ele pega as minhas mãos e as beijam carinhosamente, quebrando o silêncio.

— Eu voltarei o mais rápido possível. Só pra roubar vários beijos de sua boca. — Apolo cochicha, baixinho e pisca para mim, sorrindo em seguida.

   Engulo em seco, apenas o fitando com os olhos e Apolo dá de ombros, seguindo em direção ao carro.







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