DÉCIMO

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Ele entrou e fechou a porta rapidamente, como se ninguém pudesse vê-lo ali, e eu realmente creio que ele nem devesse estar próximo de mim.

" O que está fazendo aqui? E se alguém te ouvir!" Eu sussurro.

" Os quartos são a prova de som." Ele fala e me sorri parecendo divertido. " E então? Como foi sua adaptação? Gostou das acomodações da casa? " Ele zomba.

" Não é das piores. " O garanto, não tão séria como devia estar. Eu estava no meu pior pesadelo e soltava risinhos para um dos vilões? Qual é, ele já tentou me matar antes.

" Você parece triste. "Ele me sondou, sentando ao meu lado na cama.

" Não tanto quanto você parece sempre. " Falei o encarando. Sinto que fui um grosseira, mas não digo nada.

" Não sei como explicar, não consigo me separar de tudo isso." Ele começou, me olhando profundamente nos olhos, mas parou e encarou o chão. " Não sei como me afastar da tristeza, ela é como uma namorada invisível. " Um sorriso fraco aparece no seu rosto com a sua piada.

" Bom, fale-me mais sobre a sua namorada. 'Tristeza' o nome dela não é? Acho que talvez eu a conheça. " Sorrio e me sento mais confortável na cama.

" Começou quando eu e Jane éramos crianças, nós... éramos esquisitos demais para o nosso vilarejo e todos costumavam nos temer, desde crianças. Até que um dia quando tínhamos dezessete, nós e nossos pais... nós fomos condenados a queimar na fogueira por acusação de bruxaria. " Ele continua a olhar para o chão enquanto eu o olho com olhos arregalados. " Aro conseguiu intervir e salvou-nos, mas nossos pais não... não tinha como salvá-los."

" Isso ainda te incomoda? " Pergunto mas pareço idiota. Eu me incomodaria mesmo depois de um milênio se alguém tivesse assassinado meus pais.

" Bom, já faz muito tempo e não dou mais importância a isso, Aro não nos transformou logo no momento da dor, então tivemos um tempo pra raciocinar sobre o que tinha acontecido, mas logo quando nós nos tornamos vampiros, Jane fez questão de descobrir quem levantou falsa acusação e nós matamos a família dele inteira e deixamos ele por último, só pra sentir a dor que sentimos. " Ele sorri convencido. Tremo com suas palavras e me lembro de nunca duvidar da sua capacidade.

" E o Aro? " Perguntei de cabeça baixa.

" Consigo driblá-lo com facilidade, e consigo até moldar suas memórias ao meu favor. " Ele falou. " Centenas de décadas de convivência nos fazem perceber a fraqueza dos outros mais facilmente, só precisamos manipular o que achamos sobre algo e tornar àquilo a nossa verdade, então quando formos mostrar a ele, ele verá a nossa visão sobre aquilo."

" Bom, o lado bom é que ele também não duvida devido ao seu comportamento." Eu ironizo.

" Me perdoe. Sou frio e você deve se acostumar com isso. " Ele diz com um meio sorriso.

" Não será fácil ter você me odiando o tempo todo. Na verdade parece que todos me odeiam por aqui. " Falei, lembrando de hoje mais cedo. " Alec, gosto da sua amizade." Sorri sincera. Eu gostava dele, havia uma espécie de ligação se formando entre nós por algum motivo estranho.

" E eu estou satisfeito com isso." Ele disse, sem me olhar nos olhos, com um sorriso desafiador nos lábios, o que cortou meu sentimento de alívio concedido por suas palavras anteriores " Pelo menos por enquanto." Disse e se levantou bruscamente. O que? E o que ele irá querer depois?

" O que... o que eu devo esperar para amanhã? " Pergunto-lhe enquanto ele se dirige para a porta.

" Eu não deveria te dizer mas..." Ele esfrega a parte de trás do pescoço. "Você  já deveria imaginar que ele faria isso. Deverá se desapegar daquilo que aprendeu a gostar e conviver." Ele disse com seu costumeiro tom sombrio.

-  𝐑 𝐄 𝐍 𝐀 𝐒 𝐂 𝐄 𝐑  -  A  SAGA CREPÚSCULOWhere stories live. Discover now