Capítulo 6

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        Acordo com o barulho do despertador alto. Demoro um pouco pra perceber que eu não estou em minha casa e na minha cama macia.
Sento no colchão e passo as mãos pelo rosto e cabelo. Alguns segundos depois, me levanto e ouço April resmungar quando abro as cortinas.
Ela se senta e fica imóvel, como se estivesse dormindo, mas acordada.
Reviro os olhos quando ela me xinga por acordar cedo demais.

— A gente pode entrar na segunda aula, você sabe disso, né? — pergunta e limpa os olhos. Seus cabelos estão uma bagunça, seu rabo de cavalo está frouxo e a máscara de cílios borrada.

— Eu sei, mas estamos na primeira semana de aula e é melhor não abusar muito — digo e puxo sua mão, a ajudando a levantar — Você pode me emprestar um de seus uniformes? — questiono. Ela tem vários, pois está sempre rasgando alguma parte do tecido — Ah, e desculpa por não pedir para pegar um pijama seu ontem, mas eu odeio dormir desconfortável — falo quando ela boceja e se levanta.

— Você sabe que eu não me importo. Tem um uniforme extra na segunda gaveta do armário, pode pegar. Vou pedir para minha mãe uma toalha pra você tomar banho — ela declara, com a voz sonolenta e sai do quarto em seguida, me deixando sozinha.

Pego o uniforme no lugar onde ela disse e aproveito para separar o dela também, assim não há motivos para ela enrolar e nos atrasar.
Enquanto espero, pego o celular para ver as mensagens. Há várias da minha mãe e uma de Lola, pedindo desculpas mais uma vez por ter me deixado na mão. Eu respondo apenas a da minha recente amiga com um "tudo bem" e me preparo para o que minha mãe tem a dizer.

Cadê você? 11:28 PM
Sophia, volte pra casa. 11:50 PM
Está me deixando preocupada. 12:17 AM
São uma da manhã e eu ainda não dormi. 01:02 AM
Acabei de ligar para Loren Di Laurent e ela me disse que você dormiu na casa dela. 01:21 AM
Estou decepcionada com você, filha. 01:21 AM

Leio e bato a mão na testa. Merda, Sophia. Esqueci de avisar pra minha mãe que ficaria na casa de April. Vou levar o maior sermão quando chegar em casa e provavelmente a pouca confiança que ela tinha em mim vai se dissipar. Adeus festas, adeus novos amigos, adeus último ano do ensino médio com vida social.
Mando uma mensagem me desculpando e prometendo que nunca mais faria isso, mas ela não visualiza, então jogo o celular na cama e coloco a mão no rosto, me xingando mentalmente.

— Minha mãe est... — April começa, mas para de falar quando vê minha situação emocional — está tudo bem? — pergunta, passando a mão pelas minhas costas. Estou prestes a chorar. Foi uma grande mancada, e eu entendo a minha mãe.

— Esqueci de avisar pra minha mãe que viria pra cá. Ela estão muito brava comigo. Estou ferrada em suas mãos, você sabe como ela é — esclareço. Ela apenas murmura um "pois é" e me conforta enquanto falo sobre a nossa má relação. Não tenho uma boa comunicação com a minha mãe desde que ela se separou do meu pai. Sinto falta dele todos os dias, e anseio para que as férias cheguem logo para podermos passar um tempo juntos e eu me livrar da pressão em ser a bailarina perfeita, uma aluna exemplar e uma filha boa.

Pego a toalha de banho de sua mão e entro no banheiro enquanto ela arruma sua mochila e faz a atividade de espanhol de última hora.
A água quente parece acalmar meus nervos; Preferi não lavar meus cabelos, então os prendi em um coque para que não ficassem feios e piorasse mais o meu dia.

O uniforme de April fica um pouco folgado e largo quando visto, mas não é ruim. O fato de ela ser alguns centímetros mais alta que eu e por ter mais massa corporal não ajudam muito, mas eu consigo dar um jeito.
Faço uma trança e saio do banheiro abafado, usando o mesmo sapato de ontem a noite.

April ainda está tentando terminar a atividade, e quando vejo que faltam poucos minutos para o portão da escola abrir, fico eufórica.

— April, vai logo. Termine a atividade nos primeiros horários — digo, tentando fazer com que  pareça mais fácil.

Forte como o Sol [✓]Where stories live. Discover now