0.4 - Com outros olhos

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xX Oi gente! Tudo bem? Então, pra quem já percebeu, a trilha sonora da fic é instrumental. Isso é porque Lena toca piano e o som que vem dele é profundo, é sincero, então eu faço a proposta de vocês escutarem algumas das canções. Pra quem não gosta, tudo bem! Mas pra quem nunca ouviu, apenas deixe a música guiar o ritmo da leitura de vocês. Sintam o capítulo... Xx

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LENA

Depois de algumas dias juntas, conversando antes dos professores chegarem pra abrir as salas descobrimos muito em comum. Principalmente sobre os gostos musicais, ela tinha o mesmo bom gosto que eu. Era raro achar alguém que gostasse exatamente das mesmas coisas, se alguém me dissesse que Kara existia, eu jamais acreditaria nessa pessoa.

Se a Kara não for gay, eu não sabia ler as mulheres de jeito algum. Sério. Ela me mandava mensagens fofas, se desculpava toda hora por não poder me dar a atenção que queria e eu achava isso tão sincero e cuidadoso.

Ela trabalha também então nós só nos vemos na faculdade. Ainda sim, era muito bom ser amiga dela: compartilhar dos mesmos gostos, falar sobre arte em geral. Era bom ter alguém que me entendesse. Acho que finalmente estou compreendendo os pontos positivos de ter uma real amizade.

Pergunto-me se ela soubesse meu sobrenome, também me trataria do mesmo jeito?

Resolvi dar uma chance a ela, esquecer meus princípios de ficar sozinha ou não confiar nas pessoas. Estava disposta a mudar se fosse por alguém que valesse a pena. E inevitavelmente, acabamos nos tornando amigas.

Ela era mais velha dois anos que eu, ela tinha vinte e um e eu dezenove. Achava seu estilo bem simples e elegante: sempre usava uma camisa social branca, jeans e tênis. O cabelo preso em um rabo de cavalo perfeito e maquiagem leve. Sempre fico sem palavras ao vê-la. 

Kara adorava escrever coisas. Quando era pequena queria ser jornalista. Ela não me disse o porque de ter mudado de ideia, no entanto, um dia ela me diz. Espero.

E falando nisso, ela passou a me escrever pequenos bilhetinhos com frases parecendo poesia. Simplesmente achava muito fofo o jeito dela escrever e também sua caligrafia milimetricamente desenhada. O de hoje estava escrito:

"Mostra-me o que teu olhar significa, fala através dos teus olhos o que tua boca não consegue dizer."

Sorri ao ler tudo. Será que ela gostava dos meus olhos? Confesso que eu gostava do fato dela tentar se aproximar mais de mim. Quem sabe ela gostasse de garotas também? Fui embora pra casa pensando o dia inteiro no bilhete como uma tola. 

É cedo demais pra pensar nisso, Lena, não crie expectativas!

***

No dia seguinte, estávamos na aula de desenho: Expressão Gráfica. Ao meu lado, estava Kara. Tentei permanecer focada, controlando minha ansiedade em querer fitar sua beleza, fazendo a atividade que estava no quadro sobre vistas e perspectivas. Porém uma leve fitadinha ao lado - não resisti —percebi que alguém me observava. 

Era a Kara.

Então franzi o cenho meio confusa e ela sorriu abertamente. Lembro-me de ficar desnorteada com aquele sorriso, branco e tão leve que parecia me tranquilizar de qualquer coisa. Tão magnífico que eu poderia olhar por horas e horas.

- Eu tava encarando sua beleza — ela se justificou e em surpresa arregalei os olhos. 

Tudo que consegui fazer foi sorrir da mesma maneira com o elogio e ruborizar. Ninguém n-u-n-c-a me elogiou de modo tão verdadeiro assim, tão subitamente espontâneo (tirando minha família, claro). 

Ficamos nos olhando um pouco até ela ser a primeira a desviar, também corada. Voltei a me concentrar no desenho, no entanto, as palavras dela ecoavam na minha cabeça. De modo que fez eu sorrir como boba no meio da aula com os olhos focados no papel. Tentei disfarçar, todavia o sorriso não saía da minha feição de  modo algum.

Quando largamos daquela seção, não tínhamos mais aulas e eu a procurei na saída. Queria dizer algo. Qualquer coisa, prolongar a conversa, pedi-la para ficar mais um pouco, ou até mesmo a acompanhar a caminho do ônibus. Qualquer coisa. 

Mas aí eu a vi beijando um garoto na portaria. 

Meu sorriso se desfez.

Meus olhos despencaram.

Meus ombros encolheram. 

E eu perdi a coragem. 

Que idiota, Lena, é claro que ela seria hetero. Fala sério, acha que só porque ela te chamou de bonita você significa algo a mais pra ela? Idiota.

Xinguei-me uma dúzia de vezes, mentalmente, e saí da universidade a passos apressados. 

***


SAD EYES - SupercorpWhere stories live. Discover now