0.8 - Oportunidades

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LENA

—Ei, conheço você. Por que está tão agitada? — meu irmão perguntou enquanto caminhávamos em direção a universidade. 

Pegamos ônibus hoje e a parada ainda ficava a dez minutos de caminhada.

—Eu não estou agitada! —murmurei.

—Anda, eu te conheço, fala ou eu vou ficar implicando — Lex empurrou meu ombro de leve. 

Revirei os olhos, eu sabia que ele iria fazer exatamente o que disse se eu não o contasse.

—Tem uma garota...

—Minha irmã está apaixonada!

O louco praticamente gritou no meio da rua me fazendo arregalar os olhos e dar um forte tapa em seu ombro. Idiota.

—Anuncie para o Japão também, tenho certeza que eles não te ouviram —ironizei sorrindo de canto, ele sorriu também. 

—Fala, conta tudo! —pediu.

—Não é isso maninho, ela só é minha amiga — suspirei.

—Ué, qual o problema? —ele franziu o cenho —Invista nela! Dê logo um beijo nela, Lena, o que está esperando? —encorajou.

Contrai as sobrancelhas confusa.

— Acha mesmo que devo fazer isso? —indaguei baixinho, insegura.

— Ué e por que não deveria? Na pior das hipóteses você leva um não apenas, tente! — ele disse parando de andar visto que finalmente chegamos a porta da universidade —confie em mim, se ela corresponder será a melhor coisa que acontecerá para você.

Ponderei a questão internamente, no entanto logo fiz questão de negar com a cabeça. Havia riscos demais.

— E se ela não corresponder? Vai doer muito... — reclamei cruzando os braços —prefiro deixar as coisas assim.

—Lena, entenda uma coisa —ele me fitou fixamente e respirou fundo — se você não tomar uma atitude, outros tomarão por você. Você tem uma chance, você nunca vai saber se vai valer a pena ou não se continuar a viver com medo!

— Hm... - resmunguei ainda cética.

 Não acho que fosse uma boa ideia.

— Nossos erros não nos limitam, Lena, os nossos medos sim — voltou a argumentar — tenho que ir agora, boa aula maninha.

Ele me puxou para um abraço rápido e se foi.

— Até mais maninho — despedi.

Adentrei a universidade em passos vagarosos, parecia que eu pisava em ovos. 

Foi então que eu parei de caminhar subitamente, visualizando uma Kara incomum sentada sozinha na área de fora, o pátio, curvada e sem vida. Passava as mãos sob os olhos e uma linha se formou sob minha testa, ela estava chorando? 

Somente de imaginar isso, instintivamente, eu fui correndo até ela.

— Kara? - perguntei a loira.

Ela ergueu o olhar em minha direção, virando seu rosto para o lado. Sua maquiagem estava borrada, os olhos azuis marejados dentro de um borrão negro, sujos de lápis e os lábios trêmulos.

— O que aconteceu? — sentei-me ao seu lado, preocupada.

— Não, Lê, não quero que me veja assim, depois eu explico — resmungou, sua voz estava embargada.

— Que besteira! anda, conta logo o que aconteceu! — pedi pegando uma de suas mãos sem permissão. 

Ela fitou o meu ato com curiosidade e em silêncio, cuidadosamente entrelaçou nossos dedos antes de fitar-me mais uma vez.

— Meu namorado terminou comigo...— explicou, suspirando — ele é muito ciumento. 

— Eu sinto muito... — lamentei chateada. 

Que idiota, esse cara é muito burro! pensei mas não o disse em respeito, claro.

E agora, o que eu falaria? Não sou exatamente o melhor exemplo de pessoa para incentivos e estímulos motivacionais.

— Ah, tudo bem... obrigada por estar aqui.

Kara sorriu de canto brevemente e me puxou para um abraço. 

Não era mais surpresa nossos abraços e foi fácil amolecer sob seus braços, cedendo naquele conforto tão peculiar. Eu retribui a abraçando de volta, desejando que ela não derramasse mais uma lágrima sequer por quem não a merece, querendo seu bem verdadeiramente mais do que tudo. 

Abracei-a como se pudesse dizer que estaria ali para ela sempre, que se ela precisasse de mim eu seria seu apoio quando desejasse. Abracei-a porque eu a considerava demais, tinha um carinho inestimável por sua essência. Abracei-a porque embora eu quisesse mais, eu era sua amiga acima de tudo. 

Sorri torto quando nos desvencilhamos. Limpei suas lágrimas com os polegares, minuciosamente, descendo e acariciando brevemente as bochechas roseadas. Ela sorriu de canto elevando as mãos sob as minhas, como se aproveitasse o carinho lento. 

Nos encarávamos olho a olho, sem vontades de recuar, sem precisar recuar. O olhar dela refletia o que estava sentindo. E eu o entendia bem: dor.

Depois do despertar da hipnose, ofereci uma mão para irmos em direção ao banheiro, ela aceitou e nós fomos para que pudesse limpar o rosto antes de ir para a aula.

Pela primeira vez, aprendi como consolar alguém.

Às vezes não eram necessárias palavras.

Um simples abraço já expressava tudo.

***

SAD EYES - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora