Capítulo 09 - Kara é uma espécime rara

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- Muito obrigada. - Kara jogou o pano de prato na pia e encarou a esposa.

Lena lançou-lhe um olhar fulminante e voltou a esfregar o fogão. Como este estivesse muitíssimo limpo, afinal, Kara já o havia limpado, não entendeu a razão de tanto esforço.

- Como pôde subir de novo ao telhado, Kara? Sabia como eu me sentia a respeito. Mas não, precisava bancar a idiota!

- Não devia tomar cuidado com o que fala, mulher? Só Deus sabe que efeitos isso pode ter sobre minha mente abalada! Achei que sua tarefa era ser diplomática e delicada!

- Delicada?! Que piada! Bem, tudo para você é uma grande brincadeira, não é? Esse é que é o problema. Subir no telhado, fazer amor, até a amnésia deve ter muita graça.

Kara tentou se controlar.

- Concordamos em não levantar discussões antigas, Lena.

- Esta discussão não é antiga, é nova. Você poderia ter morrido naquele dia. Ou ter quebrado a coluna. E agora sobe lá de novo!

- Não aconteceu nada, querida.

- Mas poderia ter acontecido. E agora age como se fosse um tipo de jogo.

- Sei que não é, mas você parece pensar que devemos congelar nossas vidas até minhas lembranças voltarem. Não tenho a intenção de fazer isso.

- Sam falou que levaria apenas alguns dias até que voltasse ao normal, Kara.

- Pelo que os médicos dizem, ninguém sabe muito sobre perda de memória. Talvez eu a recupere, talvez não. Enquanto isso, vou consertar aquele telhado.

Lena olhou para Kara, quase em pânico. Era a segunda vez que ela falava em não voltar a lembrar. Se fosse assim, tudo seria diferente.

Poderiam chegar a ter um casamento de verdade...

"Não!" Ela engoliu em seco e cambaleou na direção da pia. Acontecesse o que acontecesse, não podia se apropriar da vida de Kara. Mais cedo ou mais tarde, ela teria de saber a verdade: que não a amava. Não do modo como imaginava.

- Sam falou que existem outros tratamentos, Kara.

- De que tipo?

- Por exemplo, hipnose. E existem terapias com drogas que poderiam ser tentadas. Sam não lhe falou porque não achou que fosse necessário.

- Seria assim tão terrível se eu não recuperasse a memória? Maggie falou que pareço a mesma. Gosto de você e do bebê, como sempre gostei. Nada precisa mudar.

Lena fechou a torneira e enxugou as mãos. Esperou um longo instante antes de se virar. Encarando-a, fez um gesto impotente.

- Tudo muda, Kara. Mas não precisamos tomar nenhuma decisão. Esta situação é temporária. Não vai durar.

- Não sei por que isso não me tranquiliza.

- Quando voltar a se lembrar, vai entender.

- O que entendo é que você está me repelindo sem explicar a razão. Por quê, Lena? Somos casadas de verdade? - perguntou Kara, à queima-roupa.

- Claro que somos! Tenho a certidão, se quiser ver.

- Claro? - repetiu Kara, por entre os dentes.

Agarrou uma toalha de papel e enxugou o suor do rosto e do pescoço. Não queria dizer nada de que pudesse se arrepender. - Então me explique uma coisa, anjo. Por que fica mexendo o tempo todo na aliança?

E por que ela parece tão nova?

Lena abriu os braços, tomada de sentimento de culpa.

- Eu... sempre me esqueço de colocá-la. Tiro para cozinhar ou lavar a louça, e a deixo no balcão. Não gosto de anéis.

Uma esposa, e grávida? - SupercorpWhere stories live. Discover now