Capítulo 2

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A distância entre o meu local de trabalho e o apartamento não é muito grande, facilitando que eu vá embora andando tranquilamente. Eu amo a sensação de caminhar na cidade e poder observar as pessoas, coisa que eu não fazia tem muito tempo. Anne está me ajudando muito nesta fase de adaptação, me fez um favor enorme me ajudando a conseguir este emprego já que uma amiga da família dela trabalha lá, então acho que isso facilitou um pouco.
Quando chego no apartamento, o sol já está se pondo. Procuro por Anne, mas não a encontro. Me deito na cama concentrando meu olhar no teto branco e deixando minha mente fluir em pensamentos. Essa volta para casa me trouxe boas lembranças, passei por vários lugares que ja frequentei com pessoas especiais, eu não tinha muitos amigos na época do colégio, a maioria era colega, só tinha um que eu sentia que podia contar de verdade. Daniel e eu nos conhecemos ainda no ensino fundamental, lembro que ele era uma criança muito agitada, problemática e um ano mais velho que eu. A forma que ele usou para tentar se aproximar de mim foi arremessando uma pedra em minha direção, o que me rendeu um hematoma roxo no quadril por alguns dias, não teve nada de diretoria ou algo do tipo, ele se aproximou de mim rapidamente pedindo desculpas e tentando não me fazer chorar a todo custo e foi assim que tudo começou. Tenho tantas lembranças com ele, foi a única pessoa que sempre quis me ajudar independente de qualquer coisa, sem dúvidas o meu melhor amigo.
Pensar nisso tudo me dá vontade de procurá-lo, mas eu nem sei por onde começar, não sei como é a vida dele agora, talvez nem tenha espaço para uma velha amiga, e eu não julgo pois se passaram mais de anos desde a última vez que nos vimos, pode ter acontecido muita coisa nesse tempo, talvez ele possa ser comprometido, ou um solteirão que adora curtir a noite.
A minha rotina da noite nunca muda, então agora eu só preciso me levantar, fazer algumas coisas e finalmente poder dormir pelo resto da noite, pessoas da minha idade talvez diriam que a minha vida é parada? é mesmo, mas eu amo isso. Depois que me levantei da cama, dei uma arrumada no apartamento, e sim, isso faz parte da minha rotina já que Anne e eu somos um pouco desorganizadas, mas nada muito exagerado.
Quando finalmente estou pronta para dormir, sinto que isso não vai acontecer já que a minha cabeça prefere relembrar muitas coisas do passado antes de finalmente se render e desligar.

***

Acordo ouvindo batidas na porta do quarto, isso significa que eu com certeza não ouvi o despertador tocar ou esqueci de programa- ló. Estico os braços, aproveitando esse momento maravilhoso por alguns segundos até me levantar e abrir a porta ainda meio grogue de sono.

— Você é sempre o melhor despertador, estou muito atrasada? - pergunto, em seguida tapando a boca quando começo a bocejar.
— Na verdade, não. Eu resolvi te acordar vinte minutos mais cedo para isso não ter risco de acontecer - ela diz, com um sorriso no rosto parecendo a pessoa mais feliz do mundo que eu já vi durante a manhã.

Vinte minutos é muito tempo, e é muito tentador a ideia de poder deitar e dormir por mais alguns minutos. Balanço a cabeça afastando esse pensamento, se eu dormir agora com certeza só levanto daqui algumas horas, o que não pode acontecer de maneira alguma.
Assim que termino de me arrumar, vou para a cozinha pegar algo para comer no caminho. Dou um sorriso em direção a Anne que está de pé apoiada na parede tomando uma enorme xícara de café.

— Uma mesa faz falta né? Eu acho que recebo hoje, então talvez possamos resolver esse problema depois do trabalho, está disponível essa noite? - pergunto, enquanto coloco uma maçã dentro da bolsa.
— Com certeza, juntei uma grana do mês passado e um pouco desse mês, vamos ver o que conseguimos com isso.

***

Depois de passar praticamente a manhã toda ocupada, atendendo ligações, agendando consultas, anotando recados, finalmente está na hora da pausa. Confesso, nessas minhas pausas eu nunca me alimento muito bem, tem uma lanchonete bem aqui do lado que serve o melhor hambúrguer que eu já comi.
Assim que chego no local dou um suspiro de decepção, nesse horário sempre está lotado, se eu não tivesse trocado meu horário com Dominic talvez eu conseguisse pegar meu pedido mais rápido.
Dominic é o meu colega de trabalho, é ele quem me ensinou grande parte das coisas que faço hoje em dia já que eu não era muito antenada a tecnologia. Quando nos mudamos, mamãe decidiu cortar qualquer tipo de comunicação que tínhamos, sem telefone, internet e tudo mais. Papai sempre me mantinha ocupada com lições já que meus estudos passaram a ser domiciliar, então era isso que fazia a maior parte do tempo, ou ajudava na horta e a cuidar dos poucos animais que tínhamos ali.
Apesar de tudo que aconteceu tínhamos dias bons lá, e isso me fazia relembrar de como as coisas eram melhores quando mamãe ainda tinha sanidade. Eu queria poder ajudá-la, poder cuidar dela, mostrar que está tudo bem e não precisa se manter alerta o tempo todo, quem sabe um dia eu possa ajuda-la a sair dessa bolha que ela mesma criou...

De volta para você, amor Where stories live. Discover now