Capítulo 3

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Depois de finalmente conseguir comprar o melhor hambúrguer da cidade, caminho em direção a saída do estabelecimento, mas em questão de segundos alguém se esbarra em mim fazendo com que eu quase caia no chão senão fosse por uma mão segurando meu braço e impedindo a queda, respiro totalmente aliviada por isso, a vergonha iria ser grande. Viro me para olhar a pessoa que me impediu de passar um mico enorme, e é impossível não ver o olhar de surpresa do rapaz direcionado a mim. Daniel.
Isso é uma grande obra do destino, eu jamais iria esperar encontrá-lo aqui, na verdade isso nem se passava pela minha cabeça. Depois do choque de surpresa misturado com mais algumas sensações que eu nem sei se consigo descrever, um sorriso se forma em meus lábios e finalmente sou capaz de dizer;

— Ainda não sei se isso é real ou se estou sonhando - ao terminar a fala, me aproximo do rapaz entrelaçando meus braços envolta de seu pescoço e o abraçando apertado, em uma forma de tentar demonstrar a saudade de todos esses anos afastados.
— Por Deus, eu quem deveria estar dizendo isso! Aonde você estava? Por que você sumiu? Eu senti tanto a sua falta - é impossível não notar uma pontada de decepção no final da frase, mas eu posso entender o porque.

Não é hora nem lugar para eu contar tudo o que aconteceu, então talvez seja melhor eu apenas mudar de assunto? Quando vou abrir a boca para falar, uma garota muito bonita aparece ao lado dele com um enorme sorriso em seus lábios, entrelaçando sua mão na dele. Desvio o olhar, voltando minha atenção para o rapaz na minha frente e só agora consigo reparar em seus traços e ver como ele mudou, balanço a cabeça em uma tentativa de parar com estes pensamentos. Ele é seu amigo, ou era. E com certeza é comprometido. Coloco uma mecha do meu longo cabelo castanho atrás da orelha, e digo;

— É, aconteceram muitas coisas nesses últimos anos, mas falaremos disso em outro momento - digo, dando um sorriso sem graça. — Eu preciso voltar ao trabalho, quem sabe não nós encontramos em outra hora?


Após dizer isso eu me afasto e começo a me sentir um pouco patética, talvez eu devesse ter falado mais alguma coisa, como vamos nos encontrar depois? Eu não sei nada sobre a vida dele agora e muito menos ele sobre a minha, somos praticamente desconhecidos um pro outro. Empurro a porta de saída, dando uma espiadinha para o onde o casal estava, e logo me arrependo quando encontro o olhar de Daniel em mim, acho que estou meio sem reação agora e tudo só piora quando percebo o olhar da mulher ao lado dele me fuzilando, saio pela porta sentindo o vento frio bater contra o meu rosto arrancando de mim um suspiro, enquanto meus cabelos voam sobre o vento.

O restante da tarde passou bem rápido, a parte da manhã sempre é mais cheia de afazeres, tornando assim a tarde mais tranquila. Já estou em casa tem mais de uma hora e nada de Anne, quando eu fico muito tempo sem fazer nada tudo que me vem na cabeça são lembranças do passado, e hoje acabou vindo de uma pessoa que foi muito especial pra mim, quer dizer, talvez ainda seja. Eu o conheci quando ele se mudou para a casa ao lado da minha, de início não achei que fosse dar em nada, era só uma nova família no bairro, porém no primeiro dia em que eu o vi já senti uma coisa meio estranha, não sei explicar o que foi aquilo, eu só queria me aproximar.
A nossa primeira conversa acabou sendo no colégio, na verdade na saída do colégio, nós dois íamos andando e como era o mesmo caminho nós íamos juntos. Ele sempre foi uma pessoa que me apoiou em tudo, não que eu precisasse tomar muitas decisões naquela época, mas ele me fortaleceu muito, e eu nem pude avisá-lo que estava indo embora e que talvez nunca mais fosse encontrá-lo...
Eu sei que pode parecer patético, afinal isso aconteceu quando eu era apenas umas adolescente e desde então eu não tive mais ninguém, mas tem algo que ainda me faz pensar nele, ainda me faz querer encontrá-lo algum dia e cumprir todas as promessas que fizemos juntos. Quando nos mudamos eu escrevi algumas cartas, e sempre pedia para meu pai enviá-las, mas acho que isso nunca aconteceu, ou aconteceu e ele não quis responder, eu não o julgo por isso. Estávamos em um momento tão bom, era uma sensação tão boa ficar perto dele, nunca tinha sentido isso na vida antes, e hoje em dia eu não espero encontrá-lo, mesmo querendo muito eu não tenho esperança que isso vá acontecer. Respiro fundo, ao ouvir o barulho da porta abrindo e agradeço mentalmente por Anne ter chegado.

— Está com uma carinha triste, tudo bem? - ela diz, com a expressão facial bem preocupada.
— Claro que sim! Eu só estava pensando demais - digo, com um sorriso, aceno para a porta e continuo - vamos?

Anne e eu ficamos em uma loja por quase duas horas, apenas para escolher uma mesa e uma tv, mas confesso que foi bem divertido, passamos um tempo juntas e conversamos bastante sobre várias coisas, principalmente sobre o passado. Quando fomos para o carro, a conversa não parou.

— Você estava me falando que já namorou na adolescência, como foi? - ela perguntou, mantendo seu olhar fixo para frente.
— Eu era bem jovem, foi antes da mudança, eu mal pude avisá-lo. Não sei nem aonde ele está hoje em dia...
— Nem tentou procurá-lo? Quando você citou esse namoro enquanto estávamos na loja eu vi um brilho no seu olhar, tem pessoas que a gente nunca esquece, não importa o tempo...

Não pude deixar de notar a tristeza dela ao falar disso, sempre que entramos nesse assunto de namoro ela foge quando eu faço perguntas, mas espero que algum dia ela consiga falar sobre isso, seja lá o que a assombra.

— Eu tinha apenas dezesseis anos, já se passaram três anos, ele com certeza já seguiu a vida dele e tudo bem né? - digo, forçando um sorriso e torcendo para que ela não comente mais nada sobre isso.

Ela apenas balançou a cabeça e me deu um olhar que me fez entender que ela discordava daquilo, eu preferi não continuar no assunto e o nosso caminho para casa foi em silêncio.

De volta para você, amor Where stories live. Discover now