10 • Quando Chove

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Lembre-se: a realidade é uma ilusão, e o universo, um holograma.

✿✿✿

•Dipper

Se passaram uns 3 dias desde que o tivô me contou sobre o sonho bizarro dele. As coisas em Gravity Falls têm estado tranquilas, por enquanto. Os tivôs me contaram várias histórias sobre as aventuras que tiveram em suas viagens ao redor do globo. A Mabs saiu várias vezes com a Pacífica, e as duas parecem estar se dando muito bem.

Soos e Melody estão muito felizes porque Melody descobriu que está grávida de 4 meses. Apesar da grande alegria que o novo membro da família já está trazendo, o casal ficou muito preocupado, pois logo Melody vai ter que ficar afastada, e não tem ninguém para substituí-la no atendimento.

Quer dizer, eu me candidatei para trabalhar ali, mas nem eu nem Mabel sabemos se vamos ficar tempo o suficiente em Gravity Falls para poder cobrir o posto de Melody até ela dar a luz.
De todo modo, provisóriamente eu fiquei no posto de caixa, tanto para que Melody já fosse me ensinando o ofício quanto para me manter ocupado.

Bill parou de me visitar em sonhos, e eu não sei dizer se isso é bom ou ruim. Acho que sinto um pouco a falta dele, mas não quero pensar muito nisso. Na verdade, agora que sei o que é que Bill quer que eu faça, é como se ele estivesse respeitando o meu espaço, apenas observando qual decisão irei tomar. Isso é legal, até.

Desenvolvi a teoria de que ele ainda está preso de alguma forma na cabeça do tivô Stan, porque desde a manhã seguinte à que eles chegaram, o Stanley não para de reclamar de dor de cabeça. Ele já tomou vários remédios para diminuir a dor, mas ela não vai embora.

Ele disse que se ela não sumir, amanhã ele vai no médico. Fico imaginando se, de alguma forma, ele vai descobrir que tem uma alma viva dentro da mente dele.
Só me arrependo de não ter perguntado sobre o que ele se lembra dos momentos finais de Bill. Eu saí da sala brigado com ele e o deixei falando, e isso o deixou muito irritado comigo. Agora não sei se de fato Bill invocou o Axolotl pouco antes de morrer.

Se eu soubesse, tudo seria tão mais fácil! Acho que, de certa forma, a profecia ia se provar verdadeira para mim, e eu poderia acreditar nas palavras dela.

"Para anular seu crime, um só jeito.
Uma nova forma, em outro tempo."

- Dipper? Ouviu o que eu disse? - Melody chamou.

- Ahn? Ah, sim sim. Se me perguntarem se eu troco notas de cinquenta, eu digo que só se o cliente comprar alguma coisa.

- Isso mesmo. Você está pegando o ritmo rápido, e isso é bom. Está dispensado por hoje, okay? Deixa que eu me viro por aqui.

- Beleza, valeu Mel. Se precisar de ajuda, me chama - Eu saí da loja avoado.

Está tudo tão pacífico e bom. Parece que estou vivendo a vida que eu sempre sonhei ter, quando fui embora de Gravity Falls. Não tive notícias de Wendy, mas tudo bem, porque nesses 3 dias tive tempo para perceber que não é por causa dela que estou me sentindo carente.

Ao mesmo tempo em que tudo parece tão bom, eu fico tão ansioso. Essa vibe se parece mais com a calmaria que antecede a tempestade. Eu sinto isso em mim. E sinto também que tudo depende somente da minha decisão.
Me lembro dos sonhos. Eu num parque de diversões, conversando com um desconhecido, que desconfio ser Bill. Eu com a pá na mão, quebrando a estátua. Bill Cipher, respirando perto demais.

Merda, merda, merda. Sinto que vou me arrepender.

✿✿✿

Já é quase meia noite, e a casa está silenciosa. Das janelas, uma luz azul bruxuleante ilumina os cômodos, e o barulho da chuva preenche a casa com uma melodia de ninar estranha.

Droga, tinha que chover justo agora que estou prestes a fazer... aquilo? Nos meus sonhos parecia tão fácil. Não tinha chuva para me incomodar, e eu não estava tremendo tanto.

Eu não sei se é o vento que entra pela porta aberta ou se é meu medo, mas meu corpo não consegue parar quieto. Mesmo com um guarda chuva, a água que cai furiosamente do céu encontra um jeito de me atingir. Munido com a pá, deixo a casa para trás e me embrenho na floresta de bétulas que se ergue diante de mim.

Está escuro e os sons dos animais selvagens me forçam a mudar constantemente a minha rota. Tenho medo de me perder, mas logo encontro a famigerada estátua de Bill Cipher. O triângulo petrificado exige seu olhar vago e a mão levantada em um último acordo mortal.

Mesmo ali, com o guarda chuva jogado no chão e a pá levantada pronta para dar o golpe, ainda temo me arrepender depois. Flashes de Bipper se automutilando furtam minha mente. Bill transformando Stanford em uma estátua de ouro. Perseguindo em e Mabel dentro do seu castelo.

Preciso de muita força de vontade (e força literal) para golpear o material duro. Não sei se é por causa de estar há tantos anos exposta ao clima e à natureza, mas a pedra não resiste muito, e uma rachadura cresce no lugar onde bati com a pá. Bato mais algumas vezes, e a rachadura se torna um sulco. Por causa da chuva torrencial, tudo fica mais difícil. Até mesmo enxergar.

Com um último golpe, a superfície cede e quebra, revelando um buraco vazio dentro da estátua. Por uns segundos, nada acontece, e eu chego a achar que estava mesmo ficando louco, mas então um pó dourado sai voando de dentro da estátua e começa a formar uma silhueta luminosa de um ser humano em pé.

Você sente uma presença ominosa lhe observar.

Sei que é Bill ali brilhando antes mesmo de ser capaz de ver seu corpo. Bem... isso porque nos sonhos eu meio que notei que ele é um pouco mais alto e mais forte que eu, hahah. Não que eu estivesse reparando e tal.

Quando enfim a silhueta para de brilhar, é revelado um garoto com mais ou menos a minha idade. Sua pele parece ser alguns tons mais escura, embora seja difícil de julgar no meio do escuro.
A princípio ele está petrificado em uma pose T, de olhos fechados, mas vindo da direção da cabana do mistério surge em meio às árvores uma névoa de um dourado muito intenso. Ela entra então pelo nariz e boca do garoto, e some lá dentro.

Tudo fica escuro de novo, e de alguma forma, silencioso. É como se o mundo tivesse prendido a respiração, aguardando o próximo passo de Bill Cipher.

O garoto, quero dizer, Bill toma um fôlego sôfrego, como se fosse a primeira vez em que estivesse respirando. Talvez fosse mesmo.
Ele abre os olhos e olha para a terra lamacenta, e no mesmo instante um trovão ribomba no céu.

Eu não consigo evitar conter um grito de susto, mas permaneço no mesmo lugar. Bill então olha para mim e sorri. Não um sorriso maldoso ou sádico. Apenas um sorriso, e parece sincero.

Nesse momento, sinto que fiz a decisão certa.

✿✿✿

Wow. Bill está solto. Depois de 4 anos sem existir, Bill está finalmente de volta. O que estão achando da história até aqui? Não se esqueçam de votar e comentar, hein! ^^

Chuva de Verão ✿ BilldipWhere stories live. Discover now