eight

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Dei espaço para que ela entrasse em minha casa e assim o fez. Ela parecia menor do que o normal; não como se seu tamanho tivesse diminuído, mas como se ela tivesse passado por algo que a deixasse mais fechada, mais reclusa.

-Desculpa a demora -ela disse, fazendo carinho em Oli -Eu posso entrar?

-Claro -respondi depois de algum tempo, estava levemente desconsertada com a presença da ruiva em minha casa.

-Cheryl! Oi! -ouvi Jug dizer assim que voltei com ela pra sala -O que você 'tá fazendo aqui?

-Eu precisava falar com a Toni, na verdade -me surpreendi com a informação e a fitei de rabo de olho.

O que ela poderia querer comigo?

-Nesse caso -o Jones comentou colocando sua mochila sobre os ombros de novo -É melhor eu ir, até mais, meninas. Cuidem-se.

[...]

-O que aconteceu? -indaguei ao voltar para a sala com um copo de chocolate quente para ela.

-Tive uma briga com a minha mãe -a ruiva admitiu, pegando a caneca de minhas mãos.

-Pensei que vocês tivessem uma relação boa -foi a única coisa que se passou pela minha cabeça.

Blossom não respondeu de imediato, a mesma ficou olhando para baixo, os cotovelos apoiados nos joelhos, provavelmente direcionando sua atenção ao copo em suas mãos.

-Tem alguma coisa que você não contou? -apoiei uma mão em suas costas, cautelosamente -Se não quiser contar, tudo bem também. Você não precisa.

-Lembra de quando eu falei que ainda tinha uma boa relação com os meus pais? Então, isso não é bem verdade -ela começou, sucinta -Eu devia ter uns 14 anos quando eles descobriram. Lembra que eu namorava? De algum jeito, alguém tirou uma foto minha com a Heather, lá na escola mesmo, e mandaram para os meus pais -a ruiva engoliu em seco para depois continuar -Quando eu voltei pra casa naquele dia, meu pai já 'tava com uma mala que tinha a maioria das minhas roupas. Ele me levou pra casa da minha avó e no caminho eu ficava perguntando o porquê dele estar fazendo aquilo, mas ele só sabia dizer que eu iria acabar
me arrependendo de ter escolhido ser daquele jeito e que eu o envergonhava...

Fiquei parada no lugar, encarando a pequena mesa a nossa frente. Cheryl tinha passado por uma coisa tão horrível na vida dela e nunca deixou que isso fosse aparente para os outros, mas agora ela estava contando tudo isso para mim.

Aquilo, no mínimo era estranho.

-Desculpa descontar toda a merda do meu passado em você, Toni -ela coçou a cabeça, parecendo envergonhada -É só que... Você parece ser a única pessoa que se importa.

Continuei em silêncio, sem a mínima ideia do que responder. Nunca tinha visto Cheryl tão frágil como naquele momento. Minha única vontade era de abraçá-la, mas sabia que ela poderia não gostar ou me expulsar.

-O que acha de passar a noite aqui hoje? -perguntei e a ruiva me lançou um olhar de dúvida -Se a sua mãe ainda estiver na sua casa, sabe. Você não precisa voltar para lá se não quiser.

-Não... Não precisa -ela respondeu -Ela já foi embora, só não queria ficar sozinha lá.

Concordei com a cabeça e fiquei a observando, tentando adivinhar o que ela faria em seguida. Quando terminou de beber do conteúdo da caneca, a colocou sobre a mesa e se levantou.

-Acho melhor eu ir embora -concluiu.

-Já 'tá tarde. -comentei e ela me olhou como se eu estivesse apenas falando o óbvio -Não é meio perigoso?

-Eu saio de noite todos os dias, Topaz. Não tem perigo nenhum, pode confiar.

Me levantei e fiz questão de acompanhá-la até a porta.

Quando Blossom estava prestes a
sair, finalmente a puxei para um abraço.

Ela estava de saída e essa seria uma forma de me despedir, nada de estranho, certo?

De qualquer maneira, o ato pareceu pegar a ruiva de surpresa, já que sua primeira reação foi tentar se afastar, mas depois de um momento ela voltou a se aproximar e envolveu seus braços em minha cintura.

-Obrigada...- Cheryl agradeceu baixinho assim que me soltou, com os olhos marejados e sorriso torto -Até amanhã, Toni. Se cuida.

PuppyWhere stories live. Discover now