2 - Chegando na cidade

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Ainda escondido entre aquelas plantas, as palavras de resposta quase ficaram trancadas na garganta de Luvian devido ao susto.

- Á..água? C..claro, água!

O menino de cabelos vermelho rapidamente se levantou, sua mão direita permaneceu atrás de suas costas enquanto a esquerda desamarrava, de forma desleixada, um cantil de bambu que o garoto carregava na cintura.

- Aqui! - Disse Luvian, enquanto seu braço esquerdo alcançava o cantil em direção ao homem.

O homem estendeu seu braço magro e segurou o cantil com a mão, logo ele já estava tomando grandes goles, totalmente despreocupado.

Luvian pôde se acalmar um pouco nesse momento, seu braço direito escondido ainda segurava firmemente a faca e o homem parecia estar dentro da distância de um possível ataque, a situação parecia ter ficado sob controle.

Foi só então que o garoto olhou com mais detalhes e curiosidade o sujeito a sua frente, na sua vida até aqui ele nunca tinha tido contato com nenhuma pessoa além de seus país e alguns poucos vizinhos. Mesmo seu pai já havia lhe contado histórias de como as outras pessoas teriam personalidades e vidas totalmente diferentes.

Esse parecia ser um homem simples, seu rosto carregava uma expressão extremamente cansada e claramente não era um jovem, mas também não aparentava ter uma idade avançada, por isso, o fato dele continuar referindo a si mesmo como velho era um pouco estranho. 

Seu cabelo era castanho e curto, seus pés não eram acompanhados por um sapato e sua túnica era carregada de rasgos e sujeira, a única coisa que podia ser chamada de especial na aparência dessa pessoa eram seus olhos.

Seus olhos não pareciam ter só uma cor, em alguns momentos pareciam existir todas as cores do arco-íris e em outros momentos pareciam que aquele par de olhos não tinha cor alguma.

Antes que o menino pudesse perceber, alguns goles de água já haviam sido consumidos e agora um braço magro segurando um cantil de bambu vinha em sua direção.

O homem encarou o jovem por alguns momentos e disse - Meus olhos não esquecem a gratidão que enxergam, mas este velho anda por ai com bolsos que só carregam sujeira, se no futuro o pequeno amigo pedir por água, esse velho certamente não vai negar.

Terminando de falar o homem começou a caminhar novamente, seus passos pareciam sincronizados e sua figura se afastava lentamente.

- Ah... fazia tempo que eu não pensava nessas coisas... - murmurou o garoto. A última história para dormir que Luvian escutou de sua mãe, narrava a vida de homens que foram mais inteligentes que seus semelhantes e por conta disso alcançaram grandes feitos.

Por anos terem se passado desde o tempo em que Luvian escutou essa história, o garoto não conseguia lembrar detalhes, mas o comportamento desse homem parece ter levado Luvian de volta para aquela noite.

Então o menino continuou andando seu caminho usual, algumas dúvidas ainda estavam na sua cabeça, como aquele homem conseguiu ver através do esconderijo de Luvian? Por que ele fala daquela forma? Sera que todos que não vivem no campo são estranhos daquele jeito? 

Obviamente, Luvian não tinha nenhuma resposta, tudo que o garoto podia fazer era continuar andando, e foi isso que ele fez.

Depois de mais dois dias seguindo sua rotina, o garoto finalmente começou a ver algo diferente de plantas e terra. Um muro enorme guardava algo que dali não era visível, existia também um grande portão com as palavras "Seita Mil Dragões" gravadas.

Tudo aquilo assustou o garoto até a alma, nem nos seus sonhos mais insanos ele imaginava que alguém pudesse construir algo daquele tamanho, em sua pouca experiencia de vida ele pensava que as armadilhas para animais que seu pai construía eram o auge da habilidade humana.

- Droga, será que todo mundo nessa seita é tão gordo ao ponto de precisar fazer algo tão grande assim? - pensou o garoto enquanto ele continuou a caminhar. Foi só após alguns minutos que Luvian conseguiu enxergar que existia uma cidade perto daquele grande portão.

Aquela era uma cidade simples, até um vilarejo não ficaria tão pequeno comparado com essa cidade, mas para Luvian, aquela parecia ser uma capital luxuosa.

Ali existiam edifícios, casas, armazéns, e incontáveis pessoas andando por todo o lado.

Luvian já tinha escutado por meio do seu pai que existiam cidades com milhares de pessoas, de que existiam edifícios maiores que as arvores da floresta, mas olhando tudo isso com seus próprios olhos foi realmente um choque.

- Q..quantas pessoas vivem aqui? Como pode existir comida pra alimentar essa gente?! E mais importante... onde será que eles colocam o coco de tanta gente assim?!?

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