C A P Í T U L O XXVII

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Querida Londres,

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Querida Londres,

Imagino que tenham sentido minha falta.

Eu senti falta de escrever para vocês (em demasia), mas contive-me por razões de minha própria consciência. Hoje já não mais. Estou de volta, minha amada sociedade, e desta vez pretendo ficar, entretanto não mais como a Srta. Silewood.

Vamos, antes de tudo, ao ponto inicial. Todos sabem de que fui afastada de minha coluna por razões de segurança. A verdade simples e sincera era que estava recebendo ameaças de morte por lord Whitby (o visconde que aparentemente será marquês em breve, uma pena). Uma carta em que ele explicitamente ameaçava a Srta. Silewood, no caso eu, chegou a nossas mãos na cede do jornal. Devo dizer que hoje sou grata pelo cuidado que fui tratada, especialmente pelo próprio Julian Stanley, que se preocupou imediatamente com meu bem-estar. Doeu deixar de escrever para vocês, doeu perder meu único meio verdadeiro de expressão, doeu voltar a ser apenas uma dama calada e sem voz, mas resisti. Resisti o máximo que pude antes de ser impossível continuar.

Porém Stanley proibiu-me expressamente de continuar com a Srta. Silewood. Tenho respeito por ele e pela amizade de longa data com minha família, assim seguirei suas ordens. Consideram a partir de hoje a Srta. Silewood oficialmente morta. (Vocês podem enterrar esse jornal simbolicamente se for vosso desejo. Não julgo necessário). Deste momento em diante falarei como eu verdadeiramente, sem pseudônimo algum, e tentem não se assustar por minha identidade.

Antes de tudo imaginei que fosse óbvio o fato de que eu era uma dama da sociedade. Não haveria como saber tantas coisas (além das que eu sei, mas nunca publiquei) se fosse alguém de fora. Estive por seis anos, quase sete, frequentando esses salões assiduamente. Sempre fui uma observadora, um ser a parte, quase invisível, e por isso nunca levantei suspeita alguma. Passava a maior parte de meu tempo com a Srta. Duncan (Samantha, uma moça realmente agradável e gentil) e a Srta. Hawkins (Bridget, a pessoa mais mesquinha, insegura, mimada, desagradável e inoportuna que tive o desprazer de conhecer). Nunca me destaquei por minha beleza, simpatia ou graciosidade. Já ouvi mais de uma vez, inclusive, falarem que minha maior qualidade era meu dote.

Julian Stanley foi a primeira pessoa que viu um potencial em mim. Ele me acolheu como uma filha em sua vida e seu jornal. Apoiou-me em minhas inseguranças de uma maneira casta e respeitosa, negando até o inegável (que ninguém mais parecia acreditar em mim). Por essa razão me escondi com medo de todos os julgamentos que poderia vir a receber. A vida social já era difícil sendo uma dama comum, a Srta. Silewood agravaria tudo. Escondi-me mais de uma vez com medo. Escondi-me atrás desse pseudônimo e dessa coluna para falar o que sempre tentaram calar em mim. Hoje digo que não tenho mais medo. Qualquer um de vocês, especialmente lord Whitby, está convidado a resolver nossas diferenças pessoalmente. Estou a disposição para conversar, discutir e, quem sabe, escutar sugestões para meu próximo artigo nesse jornal.

Em todo final há um recomeço. E eu renasço em minha própria ruína.

Lady Eliza Gunning (antiga Srta. Silewood) Stanley Journal

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora