Um Reencontro Desagradável

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Se não fosse pelos traços mais maduros daquele rosto, seria impossível distinguir se Serena olhava para sua própria foto ou de sua mãe.

O sorriso inocente que sempre contemplava os lábios de Serena, dessa vez estampava os lábios de Rachel na fotografia que a filha contemplava remansamente.

Não era difícil reconhecer de quem Serena havia herdado aquela beleza donzel. Além de todo seu gracejo, esse era também um dos motivos pelo qual Andrew se derretia de amores e cuidados pela filha. Era como se ele ainda tivesse Rachel dentro de seus dias.

- É uma pena que não possa estar aqui, minha estrela. - Os dedos miúdos escorregaram pelo contorno de Rachel desaceleradamente conforme suas pálpebras se comprimiam.

Sua mente divagou pelos ruídos que sondavam seus ouvidos e dentro daqueles sons quase inaudíveis relembrou dos dias que sua mãe era a razão dos barulhos naquela casa silenciosa.

Não demorou muito para que despertasse de seu transe. Deixou a fotografia sobre o criado mudo ao lado da cama conforme se levantou sorrateiramente.

Reconheceu a voz de seu pai após abrir a porta do quarto e desceu as escadas em pulos como quem tinha pressa.

- E o que sua mãe acha disso? - Andrew pesou um pouco a voz ao questionar Alana. - Não quero que tenha problemas com ela. - Resmungou enquanto pousava seus lábios sobre a xícara e bebericava um gole de café.

Alana sentiu as palavras serem engolidas quando a presença de uma loira com duas mechas grossas suspensas por laços acerejados e de vestimentas com cores semelhantes ao apetrecho no cabelo irrompeu no cômodo.

- Pai! Estava na galeria até agora?

Serena entrou na cozinha com avidez e parou ao lado de Andrew, dando-lhe um abraço pelo quadril. Seu corpo se aconchegava contra o dele como em um ninho.

- Oi filhinha. - Andrew envolveu um de seus braços ao redor de Serena enquanto segurava a xícara com a outra mão - Essa semana teremos uma exposição, por isso precisarei ficar até mais tarde para me assegurar de que tudo vai correr a tempo da data marcada. - Alisou as costas de Serena com um certo peso sobre os movimentos - E você? Como foi seu dia?

- Foi bom papai. - Sentiu-se consternada pelos sorrisos discretos de Alana e retrucou com a voz rija - Qual é a graça dessa vez?

- Dançou muito? - Alana descansou as mãos sobre a velha bancada que ficava centralizada na cozinha enquanto tentava afagar com os lábios crispados sua vontade de rir.

Serena semicerrou as pálpebras e franziu seu semblante, sentiu seus dedos contraírem ao fechá-los em um punho. Respirou com uma certa pujança, fazendo com que os lábios de Alana tremessem ainda mais com o contentamento em vê-la zangada.

Alana achava comicidade na maneira como Serena se dedicava a algo tão pueril.

- Vocês já vão começar? Eu acabei de chegar. - Constatou com a voz penosa.

- Eu só perguntei se ela treinou muito. - Alana soltou um conciso riso enquanto articulava com as mãos.

- Tudo bem papai. Não se preocupe.

Serena esticou o cropped de malha e ajeitou a saia pacientemente.

- Se você quiser me assistir pode ir no jogo de ‪sábado à noite‬. Mas se não chegar cedo vai perder sua chance de me ver dançar.

Um sorriso zombeteiro delineou a curvatura da boca de Serena.

A moça de fios castanhos, por sua vez, destampou seu sorriso branco enquanto a ponta de sua língua empurrava a carne interna da bochecha.

A figura dela se deleitando com sua provocação era ultrajante. Outra vez Serena cedeu para o sentimento hostil, empinou o nariz e cindiu os lábios.

Virou-se para Andrew e anuiu que o dulçor de suas palavras bosquejassem uma súplica.

- Você vai, né?

Os luzeiros do homem grisalho residiam inquietantes sobre o relógio em seu pulso enquanto sua boca se encarregava de secar a xícara de café com um único gole.

- Sábado é a exposição, não posso remarcar. - Colocou a xícara sobre a bancada e selou um beijo sobre a testa pálida da filha - Você sabe que a galeria faz as maiores exposições aos sábados. - Afagou a cabeça de Serena com carinho antes de apanhar sua pasta acinzentada sobre a bancada - Eu vou tomar um banho e estarei no meu escritório lendo algumas correspondências eletrônicas, qualquer emergencia sabem onde me encontrar.

- Você quer dizer e-mail, né pai? E-mail. - Serena o corrigiu dando ênfase em suas palavras com um tom de represália.

Antes que seu sapato social pudesse lhe trespassar pela porta da cozinha, Antônio apontou seu dedo indicador com um leve tom de ameaça.

- Tentem não brigar por hoje, preciso de silêncio.

Serena estalou a língua e revirou os olhos desconfortável com a situação. Encostou-se contra os armários de madeira revestidos de ciano atrás de si e enlaçou os próprios braços.

- Eu estou presenciando uma rebeldia nascendo dentro dessa barbie malibu ou é impressão minha?

- Você não tem que ir embora? Já está ficando tarde. - Não pôde conter o cinismo em seu semblante antes de oferecer-lhe as costas.

O Verão Em White Lake CityWhere stories live. Discover now