Vendetta

Capítulo 2

Não consegui dormir. Não me lembro se cai no sono algumas vezes, mas acho pouco provável.

Terça-feira, o sol já estava nascendo. O que eu menos queria agora era ter que ir ao colégio e olhar as pessoas com essa cara de zumbi, mas fazer o que, não tenho escolha. Só espero que Alison não falte justo hoje. Preciso da sua paciência. Preciso dos seus conselhos. Preciso dela.

Levantei da cama e liguei o chuveiro na temperatura mais quente. O dia estava frio e nublado. Bem a minha cara. Deixava a água cair sobre o meu rosto e observava o vapor subindo até o teto. Isso era praticamente meu ritual diário. Parecia que a água levava os problemas junto com ela e limpava a minha mente.

Não podia demorar o tempo que queria no banho, então sai para não me atrasar. Peguei minha toalha que estava pendurada do lado de fora do chuveiro e sai do banheiro. Me arrepiei com o choque térmico e corri para colocar a roupa que estava jogada em cima da cama.

Desci as escadas em silêncio. Meu pai não acordava tão cedo pois trabalhava a tarde e a noite. Minha mãe não trabalhava. 

Comi o resto de um cereal que estava no armário, escovei os dentes, peguei minha mochila e sai de casa para caminhar até o colégio. 

Alison morava um quarteirão depois de mim. Geralmente ela me esperava no banco da sua varanda até as seis e quarenta e cinco, se até essa hora eu não aparecesse, ela ia sozinha. 

Seis e quarenta e sete. Talvez ela já estivesse a caminho e se eu me apressasse conseguiria alcançá-la. Não precisei me apressar muito. Quando virei a esquina pude ver sua mochila vermelha cheia de bottons logo a frente.

- Aly! - Tentei chamá-la sem fazer muito alvoroço na rua que ainda estava adormecida. Ela parou de andar e procurou quem estava chamando seu nome. - Alison! - Agora ela me viu e deu um pequeno sorriso. O mesmo sorriso de sempre quando ela me via. Sutil porém lindo. 

- Bom dia! - Ela disse enquanto eu a abraçava com força - Você está bem? - Seu olhar desconfiado me arrancava palavras que nem eu sabia que teria coragem de falar. 

- Muito bem. - Minha voz falhou. Merda. 

- Você pode enganar a todos, mas a mim você não engana Max... - Ela disse se virando e continuando o caminho até o colégio.

- Tudo bem... - Me apressei um pouco para caminhar junto com ela. - Eu não estou cem por cento bem. - Ela sorriu como quem dizia "eu sabia".

- O que aconteceu dessa vez? - Ainda andando ela virou o rosto para poder me olhar, mas eu não queria olhar nos seus olhos acinzentados. - Eu não dormi bem essa noite sabia. - Seu tom de voz parecia ligeiramente triste. - Geralmente quando eu durmo mal alguma coisa aconteceu com você.

- Tive um pesadelo...

- E como foi? - Fechei os olhos por um segundo e pude sentir o fogo na minha pele. Fiquei tonto. - Max! - O grito de Alison me acordou antes que eu pudesse cair. - Você está bem? Não prefere voltar para casa e descansar? Olha, você está pálido, - Ela parou de andar e segurou meu rosto em suas mãos. - precisa descansar. 

- Eu não consigo descansar. Não consigo! - Senti meus olhos marejando. Não podia chorar. Não na frente dela.

- Olhe para mim... - Não queria olhar para ela. Ela já me viu mal diversas vezes, mas gostaria de poupa-la do meu sofrimento pelo menos uma vez. - Olha pra mim! - Uma lágrima. Duas. Tarde de mais. - Max... - Ela não sabia o que falar, então fez o que sempre faz quando me vê assim. Me envolveu em seus braços e se aconchegou em mim. Ela era tão pequena, mas conseguia me fazer sentir seguro. - Eu não sei o que está acontecendo com você, mas se falar vai te fazer ficar assim, eu espero quando você estiver melhor para poder me explicar. - Sua voz estava abafada, mas pude ouvir o que ela disse. 

- Obrigada... - Não sabia o que dizer a ela. Não tinha como retribuir tudo o que ela já havia feito por mim. Ela não disse nada por um tempo, até que levantou o rosto para me ver melhor.

- Você não vai à escola hoje. O dia está lindo, - Olhei para o céu nublado e fui obrigado a rir. - e tenho outros planos para você. - Ela sorriu e fiquei curioso. Muito curioso.