Capítulo 3

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Alison era realmente louca. O tempo ameaçava chover e se alguém nos visse, eu estava ferrado.

Mas pensando bem, até que não era má ideia fugir um pouco. Fugir da minha mente. Fugir dos meus pensamentos. Fugir de mim.

Enquanto estava nesse devaneio Alison me puxou na direção de um bosque que eu já havia visto da janela do meu quarto, mas nunca tive a curiosidade de ir até lá.

Ela começou seguindo por uma trilha de terra com algumas marcas de pneu, mas então virou a direita bosque a dentro ao invés de continuar seguindo o caminho normal.

- Mas o caminho...

- Shhh. -  Me senti uma criança sendo repreendida. - Não confia em mim?

Tenho que admitir que fiquei com medo pois não fazia ideia de onde estava, mas se tivesse que ficar perdido com alguém, Aly seria minha primeira opção. 

O bosque estava em completo silêncio, exceto pelo canto de alguns pássaros e da minha respiração ofegante. Então percebi que a concentração de árvores havia diminuido e consegui avistar um chalé. Ele era quase inperceptível. Não pelo seu tamanho, mas pelo fato da madeira da construção se unir quase que perfeitamente as árvores ao seu redor. 

- O que é aquilo? - Minha surpresa estava mais do que evidente. 

- Você já vai descobrir. - Ela acelerou o passo e logo chegamos a escada que dava para a entrada. - Preparado?

- Claro...

Ela subiu as escadas depressa como se já tivesse feito aquilo milhares de vezes e então pegou um chaveiro que só continha uma chave, velha por sinal. 

Alison colocou a chave na fechadura e a virou. O som não soou enferrujado, pelo contrário, a fechadura parecia ter sido usada recentemente. 

- Bem-vindo ao meu refúgio... - Ela disse virando o rosto para mim e sorrindo antes de abrir a porta.

O chalé era adorável. Digno de ser chamado de refúgio. Não era grande, mas também não era pequeno. Era do tamanho ideal. As paredes eram da mesma madeira do lado de fora: escura e levemente, bem levemente, avermelhada. Havia uma rede de descanso do lado oposto da sala na frente da porta de correr. As paredes eram cheias de quadros, mas não reconheci nenhum. Exceto por um que estava no chão. Aquele desenho não me era estranho... Então cheguei mais perto para poder ver a assinatura do artista. Alison Clark.

- Você que fez essa pintura? - O quadro era realmente bom. Não estava elogiando só pelo fato de ser dela. 

- É só uma besteira... - A modéstia não era falsa. Ela não se orgulhava de fato. 

- Essa é a vista da janela da nossa sala de aula correto? - Ela assentiu. - Você estava desenhando durante a aula, o desenhou voou e foi parar perto da minha mesa. Não foi isso? - Ela assentiu novamente. - E as outras pinturas? Não reconheço nenhuma delas... - Me aproximei de uma das pinturas penduradas na parede. Uma criança com cabelos escuros, pele branca e um sorriso sujo com chocolate. Poderia ser qualquer criança, mas a covinha na bochecha esquerda não mentia. Era Alison. Mas quem teria feito uma pintura dela? Desci os olhos até a assinatura. Melissa Clark. Olhei para Aly com os olhos transbordando de curiosidade.

Ela deu um sorriso tímido que demonstrava saudade.

- A arte está no sangue... - Ela riu. 

Cada um tem o sangue que merece. 

VendettaWhere stories live. Discover now