Visita Inesperada

13.9K 1.3K 339
                                    

A silhueta foi se aproximando até que a azulada pudesse ver Chat Noir nitidamente. O herói sorriu ao ver a garota na varanda, parecia até que o estava esperando.
— Você por aqui? Que eu saiba não apareceu nenhum outro vilão tentando me capturar. — Disse Marinette e o loiro sorriu.
Ainda não. — Enfatizou a primeira palavra e a garota revirou os olhos. — Estou louco para saber qual será a próxima vítima da ladra de corações mais famosa da cidade.
Marinette estranhou o modo que o herói falava, eles não costumavam se encontrar muito, pelo menos não como Marinette e Chat Noir, para ele aparecer em sua varanda do nada e conversar como se fossem velhos amigos. "Ah, Marinette, qual é? É Chat Noir! Ele deve falar assim com todo mundo", a garota pensou. Porém, o comentário do loiro a fez recordar o estranho sentimento de mais cedo, quando ele disse a frase que ficou rondando a mente dela durante a batalha.
— Então por que você veio? — Ela perguntou com um leve tom de irritação na voz. Não estava irritada com a aparição dele, mas estava estranhando aquilo. O que teria levado o garoto a se transformar e ir até sua casa sem convite? Ela esperava que fosse importante, porque não gostava que os heróis usassem seus poderes por motivos pessoais.
— Nossa, depois dessa acho que vou até embora. — Ele fingiu se preparar para sair, mas ela continuou no mesmo lugar. — Não vai… me impedir?
— Não, eu sei que você não vai embora até dizer o que veio fazer aqui. — Disse como se realmente fossem bem próximos, mas logo lembrou que não estava com seu traje de Ladybug. — Quer dizer… — O gato soltou uma leve risada e ela o seguiu. — Pode falar. — Ele a encarou com um olhar confuso — O que aconteceu para eu receber sua… incrível visita? — O garoto sorriu e se aproximou dela.
— Na verdade não aconteceu nada. — Ele recebeu um olhar surpreso. — É que eu estava assistindo a um filme e lembrei de você.
— Dizem que eu pareço com muitas atrizes por aí… — Falou, pois não sabia o que dizer. "É sério que ele se transformou e veio até aqui só por isso? E a Tikki fala para eu não usar meus poderes à toa…", ela pensava.
— Na verdade não foi por isso que eu lembrei de você. — Ele se sentou em uma das cadeiras e, como se a casa fosse dele, apontou para a outra cadeira, pedindo para a azulada ficar ali. — Bom, o filme era sobre dois amigos, um garoto e uma garota. Ela era apaixonada por um cara de outra turma e o amigo dela era apaixonado pela colega dele da aula de inglês. Depois de tantos fracassos dos dois com seus amores secretos, e depois de ouvirem várias vezes que parecem um casal de namorados, o garoto tem a ideia de ele e a amiga inventarem um namoro falso para chamar atenção das pessoas que eles gostam.
— E… — Ela esperava o gato continuar. Ainda não entendia o que aquilo tinha a ver com a visita de Chat Noir e muito menos o que tinha feito com que ele se lembrasse dela.
— Só vi até essa parte. — Marinette riu.
— Não sabia que você gostava desses romances clichês. Já assisti a uns cinco filmes com essa mesma história que você contou.
— Sério?
— Vai me dizer que nunca viu nada parecido?
— Não. — Ela riu sozinha e os dois ficaram em silêncio.
— Ainda não entendi por que você veio aqui.
— Não está óbvio? — Marinette ficou alguns segundos o encarando até entender.
— Ah não! — Ela levantou — Você não está sugerindo que a gente… — A azulada nem precisou terminar a frase, o olhar do loiro já dizia tudo. — Chat… — Lembrou, pela expressão de surpresa dele, que não o chamava pelo apelido sem a máscara de Ladybug — … Noir, você está brincando, não é?
— Por que estaria?
— Ai, você não existe! — Disse para si e riu.
Imaginando que a menina não sabia que estava falando sério, ele se levantou e a seguiu.
— Espera, é verdade mesmo? — Marinette perguntou e ele assentiu.
— Fala aí se não é uma ideia genial? Seu pai já achou uma vez que a gente…
— Chat, eu não acredito que terei que te explicar isso. — Ela nem percebeu que o tinha chamado da mesma forma que Ladybug fazia. Tinha até esquecido que estava sem a máscara.
— Explicar o quê? — Ela revirou os olhos, o gato parecia querer irritá-la de propósito.
— Tem tipo… um milhão de razões para dar errado.
— Tem? — Ele falava com um sorriso nos lábios, como se realmente quisesse vê-la irritada.
— Nem nos filmes dá certo. Ah, esqueci que você não assistiu até o final. Desculpa aí pelo spoiler, mas acontece o óbvio: os dois amigos se apaixonam.
— Você acabou de estragar minha experiência. — Ela ignorou o comentário — Não me leve a mal, princesa, mas eu gosto muito da minha lady e não me apaixonaria por você caso a gente colocasse essa ideia maluca em prática.
A garota ficou em silêncio, segurando-se para não gritar que esse era mais um dos motivos pelos quais o namoro falso maluco que ele inventou não daria certo: ela era Ladybug.
O loiro interpretou aquele silêncio como uma indecisão
— Sei que você já disse que gosta de mim e deve ser difícil querer me ajudar com outra pessoa. — Disse Chat Noir e Marinette lançou um olhar confuso para o garoto, tentando lembrar quando tinha dito aquilo.
— O quê? — Como um estalo, a memória daquela noite na varanda veio à sua mente.
Desesperada ao achar que o parceiro tinha descoberto sua identidade, ela inventou a primeira desculpa que lhe veio à mente. "Eu sou… apaixonada por você!", disse e abraçou o herói no momento em que Tom abriu a porta e os encontrou juntos, pensando, é claro, que eles realmente namoravam. Felizmente tudo se resolveu depois que salvou seu pai do akuma de Hawk Moth.
— O quê? Não! Eu já… superei isso aí. — "Eu não acredito que ele ainda lembra disso", pensou.
— Então me fala algumas daquelas milhões de razões. — Ele jogou-se na cadeira novamente, parando em uma pose um pouco engraçada.
A azulada riu levemente e começou a andar de um lado para o outro na frente dele. Como se estivesse trajada de Ladybug, ela começou a listar.
— Bom… Você é um super-herói, tem noção dos perigos que vamos correr? Hawk Moth pode achar que eu sei sua identidade, pode me usar para te atingir, aquelas coisas típicas de filmes de super-heróis. Você é famoso, tem várias fãs por aí, imagina se você simplesmente assumir o namoro comigo? Ou pior… com alguém que não seja a Ladybug? Sabe que praticamente todo mundo nessa cidade shippa LadyNoir, né?
— Errados não estão. — Ela revirou os olhos e voltou a listar as razões que achava que convenceriam o gato a tirar aquela ideia da cabeça.
— O Chat Noir está aí para defender Paris, você não deveria usar os poderes por motivos pessoais.
— Você parece a Ladybug falando.
— Vou tomar isso como um elogio.
— Mas é. — Ela desviou o olhar e os dois ficaram em silêncio por um tempo — Foram só três.
— O quê?
— Só três razões, você disse que tinha um milhão. — Marinette revirou os olhos. — Está parecendo a Ladybug de novo.
— Então eu te convenci. — Ela sentou na cadeira ao lado dele novamente.
— Do quê?
— De que essa ideia sem noção não daria certo. — O loiro sorriu para ela como se dissesse "não me convenceu não". — Ah, qual é Chat? Você não pode estar falando sério. Não tem uma chance de isso funcionar. E, outra coisa: eu tenho certeza de que um namoro falso não te ajudaria a conquistar a Ladybug. — A azulada se afastou dele e voltou o olhar para as luzes de Paris.
Adrien sabia que ela estava certa, tanto sobre os perigos quanto sobre Ladybug. Lembrou que uma vez tinha dito para a joaninha que estava namorando e, ao contrário do que tinha imaginado, ela não ficou com ciúmes, mas se mostrou feliz por ele. Acabou sentindo um pouco de vergonha de si mesmo e da sua decisão de falar sobre aquela ideia maluca para Marinette. Nem sabia ao certo o que o tinha levado até ali.
Assim que a protagonista do filme aceitou o namoro falso com o amigo, o loiro não conseguia prestar atenção em mais nada do que acontecia na tela de sua televisão. A imagem de Marinette tinha tomado sua mente desde o momento em que havia escutado a frase "ela é apenas uma amiga". Lembrou que havia dito aquilo várias vezes para seus amigos e para Plagg quando diziam que ele gostava de Marinette, ou quando achavam que eram um casal, assim como acontecia com os protagonistas do filme. Então uma ideia um pouco insana surgiu na sua mente. "E se eu e a Marinette…", interrompeu seus próprios pensamentos ao perceber o quanto aquilo seria uma loucura. Teria que mentir para seus amigos e não gostava disso. Ainda tinha seu pai. Era óbvio que ele não gostaria nada daquilo. E ainda tinha Kagami. Eles não estavam juntos nem nada, mas ele não queria magoá-la. E ainda teria que convencer Marinette a participar daquilo. Eles eram amigos, mas não tão próximos assim. Não sabia se a garota aceitaria ajudá-lo com aquela ideia maluca, ou se os dois aguentariam fugir dos fãs dele e dos repórteres. Na verdade, nem fazia ideia de como conversaria com ela e explicaria aquilo. Foi então que ele percebeu que Adrien não poderia e nem faria algo assim, mas Chat Noir sim. Afinal, queria que Ladybug se apaixonasse por Chat Noir, e não por Adrien.
Sem pensar nas consequências que um namoro falso com um super-herói poderia ter para a amiga e para ele próprio, nem no que falaria para a garota, ele se transformou e foi até a varanda dela. No fundo, esperava que a azulada já estivesse dormindo, e que aquela ideia — que ele sabia que era meio sem noção — saísse de sua mente. Mas, ao encontrar a menina na varanda olhando para as luzes da cidade, ele não conseguiu evitar. Estranhamente, sentiu que talvez aquilo pudesse dar certo.
Mas agora percebia que realmente tinha agido por impulso e, ao encarar a expressão de Marinette, ele sentiu uma enorme vontade de ir embora e pedir para a garota fingir que aquela conversa nunca aconteceu. O loiro suspirou e foi até ela.
— Eu estava brincando, queria ver sua reação. — Sabia que Marinette não tinha caído naquilo, ela parecia conhecê-lo mais do que ele mesmo. — Tá, eu não estava. Eu nem sei por que vim aqui e te falei isso.
— Relaxa, eu não estou com raiva de você.
— Não? — Ela balançou a cabeça e os dois ficaram em silêncio por um tempo.
— Sabe, sua ideia até seria divertida se você não fosse um super-herói. — "E se seu alvo não fosse a Ladybug", ela completou mentalmente.
— Mas você disse que essa coisa de namoro falso nunca dá certo.
— Talvez desse se os amigos não se apaixonassem.
— E isso não aconteceria com a gente, né?
— É exatamente isso que os protagonistas dizem antes de se apaixonarem. — A garota riu. — Sério que você nunca viu nenhum filme desses até o fim? — Ele negou com a cabeça — Precisamos marcar uma tarde para você assistir a alguns filmes clichês comigo. — Os dois riram, mas ela percebeu que ele parecia um pouco desapontado. — Olha, eu até queria participar disso, me sentir dentro de um filme e tal, mas a vida real é mais complicada. E acho que a Ladybug não se apaixonaria por você dessa maneira. — Ele voltou o olhar para as luzes da cidade — Eu queria te ajudar, mas… não dá, entende?
— Tudo bem, eu já esperava essa resposta. Sabia que essa ideia maluca não fazia o menor sentido.
— E veio aqui mesmo assim?
— Estava me sentindo meio sozinho em casa.
— Olha… se quiser, pode aparecer aqui mais vezes. É muito bom conversar com você. — Ele a encarou — Eu estava meio… desanimada hoje e aí você aparece do nada falando de filmes clichês para alegrar minha noite.
— Você também alegrou a minha. — Os dois voltaram a olhar para as luzes de Paris em silêncio. — Bom, já está tarde e eu não quero que seu pai apareça aqui no nada e pense coisa errada igual da outra vez. — Ela riu. — Boa noite, princesa. — O loiro beijou a mão da menina antes de sair, assim como costumava fazer com Ladybug.
— Boa noite.

***

Naquela manhã de domingo, Marinette voltava da visita que tinha feito à casa de seu avô quando percebeu olhares nada discretos na rua. Imaginou que estava com farinha no rosto, o que era bem provável, já que havia preparado alguns pães com o avô e tinha derrubado a farinha em si mesma sem querer. Passou as mãos rapidamente pelo rosto e continuou andando para casa.
A azulada pegou o celular só para conferir se tinha alguma mensagem da Alya falando sobre o cinema que tinham combinado, mas quase derrubou o aparelho quando viu aquela foto.
Ela e Chat Noir abraçados no que parecia ser sua varanda.
Tentou não se desesperar, várias pessoas tinham foto com ele e aquela devia ter sido tirada durante a batalha do dia anterior. Mas ela não estava preparada para a legenda da foto, que, de forma extremamente sensacionalista, dizia que a foto tinha sido tirada por alguém que não queria se identificar e que a imagem se tratava da namorada secreta do herói. O texto era tão absurdo que dizia que Chat escondia a namorada para não magoar Ladybug e nem suas fãs. Mas agora o segredo tinha acabado e ali estava a não mais secreta namorada do herói.
— Ah, isso é tão ridículo! Não dá nem pra ver o meu rosto na foto e a história da legenda não faz o menor sentido. Ninguém vai cair nessa! — Ela disse antes de ver a enorme quantidade de comentários que a tal foto tinha. E muitos deles com o nome Marinette marcado.

Um Plano IrrecusávelOnde histórias criam vida. Descubra agora