I hate me

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Foram semanas e semanas tendo que ouvir o Sr. Jauregui me fazendo sempre o mesmo convite:

"O que acha de aparecer lá na minha igreja? Permita que eu ore por você minha filha". 

Eu não queria e ainda não quero aparecer por lá, mesmo que seja apenas uns minutinhos. Não tenho boas recordações da igreja. Fujo dela como diabo foge da cruz. 

O por quê? É bem simples! Desde que me assumi como homossexual não recebi o apoio que esperava dos meus pais. E ainda não tenho, mas aprendi a conviver com isso. Enfim, meus pais também são crentes e depois que descobriram que eu tinha interesse em garotas e não em garotos como a maioria. Ficaram enfurecidos e começaram a me tratar com indiferença sempre dizendo a mesma coisa:

" Isso é coisa do diabo, vamos te levar para a igreja que o pastor vai tirar esse mal da sua vida, minha filha. "

Isso me machucava tanto, poderia ser vindo de qualquer pessoa, menos dos meus pais. Mas com o passar do tempo, fui me acostumando e eles pararam de dizer tais coisas, e eu até me sinto aliviada. Pois do contrário não seria capaz de me conter e os xingaria de todos os idiomas possíveis, em uma tentativa falha de tirar a raiva que estava entalada. 

Desde que Lauren e sua família se mudaram nos tornamos boas amigas. Ela até começou a estudar na mesma escola que eu, mas é uma pena que não é na mesma sala — Porque aí eu teria mais desculpas para vê-la com frequência.  

Hoje seria um dia normal, se não fosse sua visita surpresa à minha casa. Eu realmente não esperava a ver tão cedo, já que só nos víamos bem tarde da noite. 

Costumávamos nos ver pela noite por conta de seus horários, ela sempre estava ocupada com alguma coisa e por mais que o pastor Michael demonstrasse afeto por mim, isso era só uma mera atuação que ele encenava na frente de meus pais. Longe deles ele mostrava quem realmente era, sempre proibindo Lauren de me ver porque acreditava ele que "sapatice" era contagioso — pensamento mais ridículo —, e o único tempo que tinhamos era no período noturno mesmo. 

— Camila, está ocupada? — perguntou, encarando o piso da entrada de minha casa. 

— Não, por quê? — me encostei na batente da porta, a olhando. 

Ela estava mais linda que o normal, se possível for. Seus cabelos estavam perfeitamente arrumados e usava um traje diferente do que sempre vestia. E se tem uma coisa que admiro em Lauren Jauregui é seu perfeccionismo. Sempre gostando de causar uma boa impressão. E, ah, se ela soubesse que foi mais que uma boa impressão que causou em mim... 

— Meus pais estão querendo viajar, e eu não queria ir... — desviou o olhar para meus olhos e os fitou aflita. — E eles pediram para eu vir aqui te perguntar se você meio que pode ficar na minha casa comigo para que eu não fique sozinha durante o tempo que eles estarão fora.. 

Arregalei os olhos e engoli em seco, nunca esperei que ouviria isso, logo dela. Mas que pergunta tentadora, é claro que eu iria aceitar, além do mais já é uma desculpa para ficar perto da mesma. E eu também não saberia dizer não a ela, olha esse rosto, olha esses olhos verdes. Quem diria não a uma coisa tão perfeita quanto Lauren?

— Claro! — afastei tais pensamentos e me concentrei na garota à minha frente, que agora sorria. 

— Obrigada, Camila. — se aproximou e me abraçou, retribui de imediato. 

Nos separamos e ela me encarou sorridente, e logo seu sorriso foi desaparecendo. Ela se afastou e continuou a me olhar. 

— Até à noite então, Camila. — acenou e saiu, voltando à sua residência.

 Fiquei um tempo ali tentando processar tudo que acabara de acontecer. Não dava pra acreditar, devo uma ao pastor por esse favor que ele me fez sem saber. 

Fui em direção à sala e me joguei no sofá meio receosa. Talvez seja uma péssima ideia ficar no mesmo lugar que Lauren Jauregui. O perigo não é ela e sim eu, não sei se vou saber controlar meus instintos. 

Ela parece tão inocente, não quero ser a garota que a corrompeu. Eu simplesmente não posso fazer isso, não ainda. 

Ainda 

Não acredito que tenho a capacidade de pensar que aconteceria algo entre nós. Não existe o "nós". Só uma garota pervertida, apaixonada por uma garota inocente que mal sabe dos sentimentos da mesma e é filha de um pastor. 

Pastor. 

Me odeio por isso, me odeio por achar que a amo. Me odeio por saber que não poderei tocá-la. Apenas me odeio. E me odeio mais ainda por ter aceitado o que ela propôs. 

Sou completamente trouxa. 

A Filha Do PastorWhere stories live. Discover now