Capítulo Dois

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  Depois de uns 30 minutos avisto um Corcel azul claro se aproximando, ao mesmo tempo que começa a chuviscar. O carro para em nossa frente e abre o vidro do passageiro.

- Cheguei antes da chuva, entrem rápido! - meu avô fala e logo depois minha mãe abre a porta do passageiro e eu faço a mesma com a de trás. Sentados e com cinto de segurança, meu avô acelera e depois de alguns minutos a chuva começa a engrossar e logo pingos gordos e grandes caem na janela.

- Mas então, o que aconteceu? - meu avô pergunta, estou muito cansado então deixo que minha mãe responda a pergunta do senhor de cabelos grisalhos e olhos absurdamente claros, a cor oposta dos olhos de meu pai; que eram um azul marinho escuro e profundo, iguais aos meus.

-Foi um assalto, quando achei que o mundo era seguro... - minha mãe começa a contar a história, mas não presto nem um pouco de atenção. Fico observando melancolicamente os pingos cada vez mais grossos baterem e escorrerem pela janela, e lá fora, onde antes havia apenas árvores, algumas casas aparecerem, dando forma gradualmente a uma cidade interiorana de médio porte.

A casa do meu vô era em estilo de subúrbio-urbano-rústico (ao menos eu acho), com dois andares, um revestimento branco-creme, uma varanda e várias floreiras logo abaixo das janelas.

-Entre rápido para sair da chuva!! - minha avó abre a porta e todos entram, já tirando os casacos e pendurando em seus respectivos ganchos. - Fiz uma torta de carne com milho para vocês!

Não entendo como todos conseguem ser tão animados, com uma morte assim tão recente. Às vezes me sinto no meio de crianças animadas. Subo direto para o meu novo quarto, que não é tão ruim, já que tem uma Demi suíte com o quarto da minha mãe e um closet grande que não será necessário no momento que eu não tenho roupas além da do corpo. Me deito na cama e sinto meus músculos relaxarem, não tinha percebido o quanto tinha ficado tenso com tudo que ocorrera na última hora, quando estou quase dormindo escuto minha vó me chamar para comer torta, desço contra minha vontade e me sento na mesa onde está a torta e uma fatia já cortada para mim.

- Mas meu Deus Ed! Você ainda está com essas roupas molhadas. - minha mãe diz, com um vestido azul turquesa comprido que definitivamente não pertence a ela.

- Mas minhas roupas não estão molhadas. - digo, comendo um pedaço da torta.

- É melhor você trocar, pode ficar resfriado. - minha vó diz com um avental sujo de farinha. Reviro os olhos e percebo minha mãe me reprendendo com o olhar.

- No antigo quarto do seu pai deve ter alguma roupa que te sirva. - sinto uma pontada no peito quando escuto minha avó mencionar meu pai e mais ainda quando me toco que o antigo quarto do meu pai é o meu quarto atual. Minha avó se vira pra mim e sorri com ternura, colocando um copo de suco de laranja na mesa.

Depois de comer, subo para o quarto novamente e minha cabeça dói só de pensar que era ali que meu pai dormia quando era mais novo. Tentando esquecer a atmosfera triste que estava ali, abro o closet e procuro alguma coisa que seja do meu tamanho, depois de achar uma calça jeans e uma camiseta ridícula de algum personagem animado que parece um esquilo, caminho para sair do closet mas acabo esbarrando em uma caixa de papelão no chão.

Como a curiosidade matou o gato, deixo as roupas no chão e me ajoelho na frente da caixa, abrindo-a, me deparo com várias polaroides do meu pai em diversos lugares, uma parece ser no colégio, outra é no rio que corta a cidade e uma ele está abraçando com uma moça de cabelos castanhos longos e soltos com um sorriso encantador, antes que me dê conta meus olhos estavam cheios de lagrimas enquanto via meu pai e minha mãe jovens a sei lá quantos anos atrás. Escuto três batidas na porta e rapidamente seco meus olhos e pego as roupas jogadas no chão.

Através do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora