Capítulo Três

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  Entro na casa da minha avó e dessa vez ligo a televisão no History Channel, onde está passando "óvnis, investigação secreta". A verdade é que eu não estava nem ouvindo do que se tratava esse programa, a minha cabeça inundava de pensamentos aleatórios sobre o garoto que acabei de conhecer, por que ele falou comigo? Geralmente o meu jeito afasta as pessoas, ou talvez ele só seja educado e depois vai agir comigo como um colega qualquer que me chama para trabalho em dupla só para eu fazer tudo sozinho, espero que não, "Albert Park Public School, tenho que falar com minha mãe."

-O passeio foi bom filho? - minha mãe se senta ao meu lado no sofá - está tão sorridente... - me dou conta de que eu estava com um gigantesco sorriso de orelha a orelha, e me lembro de prontamente fechar a cara.

- Foi normal, em que escola eu vou estudar?

- Tem duas escolas por aqui, eu pensei em te chamar amanhã para ver isso. - ela continua desnecessariamente empolgada

- Eu vi uma escola que parece interessante no passeio, quero dizer, parece um bom lugar e é perto de casa. - eu não fazia ideia se era perto de casa, mas algo em mim dizia para ir especificamente naquela escola.

- Então, qual vai ser? - ela pergunta, estava feliz demais, talvez pensasse que eu escolher a escola que eu quero estudar fosse um passo dado.

- Albert Park Public School – por alguns segundo ela faz uma cara desanimada.

- Uma escola pública? Você sabe que posso pagar por uma privada.

- Não mãe, você não pode. Acha que eu não sei dos nosso problemas financeiros? E que esse é um dos muitos motivos que fizeram a gente se mudar pra cá? Além de que a gente precisa de uma casa e isso eu bem sei que custa dinheiro, um bom dinheiro. - Não estava desmerecendo seu antigo trabalho, que era administrar uma pequena livraria ou sua decisão de vir morar em Lismore, mas as vezes achava que ela me tratava como uma criança, o que eu não era e não digo isso só por ter 16 anos, mas porque depois de 3 mortes na minha vida, eu tinha amadurecido um pouco, com certeza mais do que muitos adolescentes da minha idade.

O sorriso no rosto dela diminui, chego a pensar que ela vai chorar, mas não dá pra chorar por causa da verdade né?

- Ok... então vamos matricular você na Albert Park, iremos lá amanhã. - ela se levanta e seca os olhos, dando as costas e indo para a cozinha. "Porra, parabéns Edward, você fez sua mãe chorar, seu bosta" subo furiosamente para meu quarto, estava bravo comigo mesmo e também cansado de tudo. Desabei na cama, recapitulando o dia todo e antes que pudesse impedir, começo a chorar, me sentindo horrível de todas as formas, não bastava ter perdido pessoas, agora tinha perdido literalmente tudo: minha casa, minha família, meus livros, meu celular, meus sentimentos, minha felicidade e cada dia que passava sentia minha vontade de viver diminuir também.

Olho para o relógio no criado mudo, "Como podem ser só 15:00??" penso, estava cansado e não tinha nada para fazer, mas com certeza não conseguiria dormir a tarde toda para passar a noite acordado. Me levanto da cama e dou uma volta para o quarto, nada de interessante, então resolvo conhecer um pouco a casa. O corredor estava silencioso e tudo que escutava era a voz da minha mãe e da minha vó da cozinha, então caminho silenciosamente, analisando as fotos de família penduradas na parede "Eu realmente tenho os olhos do meu pai" e inesperadamente um sorriso surgi em meu rosto, ao menos isso eu ainda tinha dele!

Caminho mais um pouco até a janela no final do corredor e observo a vista, que dava para um parque, uma rua movimentada e um pouco mais adiante o rio que cortava a cidade. Dando um suspiro penso em voltar para meu quarto e quando me viro, percebo um pequeno quadrado no teto "como não percebi isso antes?" Cautelosamente, puxo uma alça de ferro e a pequena porta se abre, revelando uma escada que puxo até o chão.

Na esperança de achar um lugar sujo, empoeirado e bagunçado, acabo achando um lugar limpo e organizado, com um pouco de luz natural entrando graças a janelinha redonda no alto da parede. As caixas empilhadas me chamam a atenção e quando me aproximo delas, vejo que todas estão separadas por datas e seções.

- Com certeza é coisa da minha vó - penso alto, impressionado com a organização que minha avó tem com tudo. Uma caixa aparentemente sem seção se destaca entre as demais, tudo que está escrito em cima dela é "Livros do Eric" na caixa

- Livros do meu pai? - acabo sussurrando e delicadamente abro a caixa, vendo uma pilha de livros empoeirados em pilhados em duas fileiras, tem alguns sobre arte renascentista, muitos sobre matemática e os três primeiros da fileira maior são os únicos que não são sobre esses temas. Pego eles e coloco no chão, analisando-os. " O Senhor das Moscas", " O mito de Sísifo" e " O guia do mochileiro das galáxias" os títulos me chamam a atenção e por puro interesse, coloco os livros debaixo do braço e desço a escada do sótão, a empurrando para cima para guardá-la e dando de cara com meu avô.

- Ei, Ed! O que estava fazendo lá em cima? - ele pergunta, ele vestia um macacão azul sujo de graxa.

- Achei esses livros e queria ler – mostro os livros e seus olhos se arregalam um pouco.

-Ah, os livros do seu pai... me lembro que ele sempre carregava esse aqui para todo lugar. - sua voz se enche de ternura e ele aponta para o " O guia do mochileiro das galáxias".

- Então será o primeiro que vou ler. - dou um sorriso e ele assente com a cabeça, pelo visto eu não sou o único afetado pela perda recente.

Depois de me sentar confortavelmente na cama começo a ler e quando me dou conta a lua brilhava no céu e o relógio já marcava 8 horas da noite.

- Ed? Venha jantar, querido – minha vó diz do outro lado, com a cabeça concentrada no livro, janto sem nem escutar a conversa na mesa e vou dormir exausto.

*mais um capítulo ae!! votem e comentem.

flw*

Através do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora