Ato II, Cena II: Uma rua

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Entram Viola e Malvólio, vindos de portas diferentes.

Malvólio – Não estava o senhor agora mesmo com a Condessa Olívia?

Viola – Agora mesmo, sir. Num passo moderado, acabo de sair de lá e cheguei até aqui.

Malvólio – Ela devolve este anel ao senhor, sir. E o senhor teria me poupado esta trabalheira, não o tivesse deixado lá. Ela acrescenta, além disso, que o senhor deve assegurar ao seu amo a desesperança: ela não quer saber dele. E mais uma coisa: o senhor que não seja temerário a ponto de voltar com mais incumbências de seu amo, a menos que seja para relatar à Condessa como ele recebeu a resposta dela. E o senhor receba isto junto com essas recomendações.

Viola – Ela aceitou o anel de mim, e eu não vou aceitá-lo de volta.

Malvólio – Ora, vamos, sir: o senhor jogou o anel em cima dela, com grande impertinência. Esta é a vontade dela: que o anel seja devolvido. Se vale a pena abaixar-se para apanhá-lo, aí está ele, bem debaixo de seus olhos; se não, será de quem o encontrar.

[Sai.]

Viola – Não deixei anel nenhum com ela. O que será que está querendo essa dama? Não queira o azar que ela se tenha encantado com minha aparência! Ela bem que me avaliou com o olhar, e de fato tanto que cheguei a pensar que tinha perdido a língua, porque ela ficava falando aos arrancos, como se estivesse distraída. Ela me ama, é isso. E a astúcia de sua paixão me envia um convite por este mensageiro tosco. Ela não quer o anel de meu amo? Ora, ele não mandou nenhum anel. Sou eu o homem que ela quer. Se é assim, e pelo jeito é, pobre mulher! Seria melhor se ela se apaixonasse por um sonho. Disfarce meu, agora vejo que tu és uma perversidade, por onde o coisa-ruim muito pode, grávido de imaginação como ele é. Como é fácil, para um homem bonito e mentiroso, imprimir suas formas na cera de que são feitos os corações femininos. Ai de mim! Nossa fragilidade, e não nós, é a causa de sermos como somos, pois é disso que somos feitas. E agora? Como é que isso vai terminar? Meu mestre, ele a ama demais, e eu, pobre monstro, sou louca por ele, e ela, equivocada, parece que está louca por mim. O que vai acontecer depois disso? Visto que sou homem, meu estado é desesperançoso pelo amor de meu mestre; posto que sou mulher (ai de mim, quando?!), quantos suspiros vai a pobre Olívia suspirar para nada? Ah, tempo, tempo, tu precisas desenredar isto, não eu; é um nó apertado demais para eu desfazer.

[Sai.]

Noite de Reis (1602)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz