Ato IV, Cena III: Nos jardins de Olívia

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Entra Sebastião.

Sebastião – Aqui, o ar; lá, o sol, glorioso. Esta pérola ela me deu, pérola que eu sinto e enxergo e, embora seja deslumbramento o que assim me envolve e aconchega, também não é loucura. Mas, então, onde está Antônio? Não o encontrei no Elefante, mas ele esteve lá, pois lá me disseram que ele percorreu a cidade procurando por mim. O conselho dele agora bem me pode valer ouro. Embora minha alma questione isto tudo, de comum acordo com o meu bom-senso, como um provável equívoco, mas não loucura, ainda assim este incidente e esta maré de boa sorte excedem em tão grande medida toda e qualquer instância precedente, toda e qualquer argumentação razoável, que estou pronto a não acreditar no que veem os meus olhos, e pronto a duvidar da razão que me vem persuadir de que não há outra conclusão: ou estou eu louco, ou a dama é que é louca. Mas, se assim fosse, ela não estaria comandando a casa, dando ordens aos criados, conduzindo os negócios de maneira tão estável, discreta, serena como estou percebendo que ela o faz. Tem alguma coisa nisso tudo que é enganadora. Mas, eis que vem chegando a dama.

Entram Olívia e o Padre.

Olívia – Por favor, não censure minha pressa. Se são boas as suas intenções, acompanhe-me, a mim e a esse santo homem, até a capela aqui perto. Lá, diante dele, e sob teto sagrado, empenhe a sua palavra, prometa-me sua total fidelidade, para que minha alma, tão ciumenta e tão insegura, possa viver em paz. Ele saberá manter isso em segredo, até que você esteja disposto a anunciar o fato, quando então poderemos celebrar nossas núpcias mais de acordo com minha estirpe. O que me diz?

Sebastião – Acompanho de bom grado esse bom homem, e vou consigo, e, após jurar-lhe fidelidade, eu lhe serei para sempre fiel.

Olívia – Então mostre-nos o caminho, meu bom padre, e que os céus resplandeçam com bons auspícios sobre este meu ato!

[Saem.]

Noite de Reis (1602)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora