Nous - Capítulo 2

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Daisy observou em silêncio enquanto os meninos se afastavam e fechavam a porta, mantendo seus astutos olhos cravados na porta, como se eles pudessem retornar a qualquer instante. Eu esperava sinceramente que eles não o fizessem. Meu rosto permanecia quente, constrangida com a cena que se desenrolou e saiu do meu controle por poucos segundos, porém podia ser fatal.

Afinal, essa era a primeira impressão que eu passaria.

— Daisy, eu...

Ela arrastou os olhos até mim e pendeu a cabeça para o lado, esperando que eu dissesse algo. Mas, o que tinha para dizer que não estava óbvio? Passei os dedos por meu rosto e vi que o jogo, fora das quatro paredes, não era algo tão natural.

— Olha, Vega...? — ela pausou em dúvida se tinha acertado o meu nome. Assenti. — Não precisa se preocupar. — disse sincera e pôs uma mão no meu ombro. Tirei as mãos de meu rosto, estranhando o modo como ela me encarava. Quase como se fosse cômico o modo como estava reagindo. — Você tem dois namorados e daí? Eu sou só sua colega de quarto, não o governo que vai fiscalizar com quantos caras você transa. — ela deu um meio sorriso e se afastou, sentando-se em sua cama. — Portanto que não seja na minha cama...

Arqueei as sobrancelhas.

— Então você não acha esquisito?

Ela bufou.

— Tem homens que tem quatro namoradas e ninguém julga. Você, pelo menos, faz isso as claras.

Aquele tipo de conversa era estranha por dois motivos: Estar debatendo meu relacionamento poligâmico e esse debate ser com a minha colega de quarto que tinha acabado de conhecer. Sentei na beirada da minha cama e a observei por mais alguns segundos antes de dar prosseguimento aquele assunto.

Daisy tinha sotaque, não algo forte que denunciasse de cara que ela não tinha nascido em Vancouver, mas algo que escapava em frases longas. Quase como se não estivesse no seu controle. Seus olhos azuis eram grandes e claros, como duas bolas de gude. Seu cabelo curto e colorido me dava uma impressão de diversão, consegui identificar algumas cores como azul, verde, rosa e amarelo. Era mais baixa do que eu, possivelmente um ano mais nova, mas, com certeza, mais esperta.

Talvez o casulo que vive com Oliver tivesse me cegado para outros convívios sociais e eu estava sempre com a guarda levantada. Era horrível pensar que mesmo sem estar mais com aquele status de relacionamento, ainda carregava suas marcas. Engoli a seco, percebendo que talvez fosse o momento de sair da defensiva com todos que conhecia.

— Eu não vou transar na sua cama. — garanti dizendo as palavras com lentidão, insegura. Forcei um sorriso sem mostrar os dentes.

Ela sorriu de volta, levantando-se e esticando a mão na minha direção.

— Então temos um acordo, Vega.

******

Tinha momentos que me perguntava o motivo de ser amiga de Ellie por tanto tempo. As pessoas passavam ao nosso lado no shopping e nos encaravam com estranhamento por conta da gargalhada escandalosa de minha amiga. Havia lágrimas nos cantos de seus olhos e seu corpo estava parcialmente torcido para frente.

— Nunca mais te conto nada. — reclamei com o rosto quente.

Ela pôs a mão no corrimão e parte de seu cabelo loiro tampou seu rosto vermelho e risonho. Cruzei os braços e esperei que ela se cansasse de tirar sarro. Alguns homens pararam a alguns passos, observando minha amiga. Eu só não sabia se era pra ter certeza de que ela não estava passando mal ou para tentar algum tipo de flerte.

TroisWhere stories live. Discover now