Trois

Nous - Capítulo 3

Em menos de duas semanas de convivência consegui perceber detalhes importantes sobre Daisy baseado em sua rotina. Primeiro, ela era bem reservada, não somente comigo, mas no geral. Eu sabia que ela tinha amigos na faculdade com quem ela festejava aos finais de semana – e fora deles também –, porém nunca os convidou para ir ao quarto ou deixava que alguém entrasse ali. Via que seu olhar caloroso mudava discretamente quando me aproximava de um objeto que lhe pertencia, por mais que ela fingisse não se importar. Mal notei comunicação dela com seus pais e quando aconteceu, ela se esforçava para que fosse breve. Se Ellie estivesse ali, certamente já teria desvendado o grande segredo por trás da minha colega de quarto, enquanto eu apenas me contentava em ficar em silêncio para curtir os momentos que não era interrogada.

Essa era a segunda coisa que reparei: como ela desviava a atenção de si para mim. No começo foi discreto, uma curiosidade depois de flagra de Calum e Jesse me beijando no quarto, algo que julguei natural. No entanto, evoluiu para uma observação um tanto incômoda, com perguntas de como nos conhecemos e como tudo aquilo iniciou, ainda que eu evitasse tocar no assunto. Chegou ao ponto de que eu não sabia se ela era invasiva ou eu era muito tímida.

— Dia de encontro? — ela indagou quando me viu arrumando a bolsa.

Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios.

— Mais ou menos. — encarei-a deitada em sua cama folheando uma revista. — Hoje é aniversário de uma amiga de infância e vamos comer pizza lá na casa dos meninos.

Daisy assentiu voltando a sua atenção para a revista e eu me perguntei se ela não iria sair com os seus amigos de sempre. A julgar pelo pijama que vestia, a resposta era negativa. Tamborilei meus dedos em minha bolsa, pensando nas minhas opções. Podia matar dois coelhos com uma cajadada. Daisy veria com seus olhos que o que eu tinha era um relacionamento comum, enquanto Ellie podia usar seus superpoderes de psicóloga para tentar desvendar o que ela tanto escondia.

Arrumei-me em silêncio, esperando para ver se os planos dela realmente se limitariam a ficar o sábado na cama lendo uma revista de moda. Abotoei minha blusa branca e sentei-me na beirada da cama para colocar as botas de cano baixo, tentando parecer o mais descontraída possível.

— Pensei que você iria a uma festa hoje. — comentei.

Daisy deu um pequeno sorriso e balançou a cabeça.

— Até as pessoas mais baladeiras merecem um descanso. — apontou para mim e eu arqueei minhas sobrancelhas pensando em onde eu me encaixava naquela sua lógica. — E as mais caseiras merecem curtir.

Esfreguei as mãos juntas.

— Na verdade, eu ia te convidar para ir comigo ao aniversário de minha amiga. — convidei e vi seus olhos azuis brilhando empolgados. Isso me deu mais firmeza para continuar. — Retribuir o convite que me fez na última semana, só que para um evento menor.

Por um segundo cogitei a hipótese de que ela negaria ou simplesmente me encheria de perguntas sobre o aniversário de Ellie – o que não tinha muito para dizer. No entanto, assim que percebeu que era um convite sério e possivelmente tinha pouco tempo para aceitar e se arrumar, deu um pulo da cama e puxou as primeiras roupas que entraram em seu caminho, correndo para o banheiro para se trocar.

Cruzei os tornozelos, esperando que Calum ou Jesse chegasse para nos buscar. Mandei uma mensagem para Ellie questionando se atrapalharia os seus planos a presença de mais uma pessoa. Sua resposta fez com que eu corasse: Quem se contenta com dois é a senhorita. Eu quero mesmo que venha mais gente.

Esse espírito galanteador e conquistador de Ellie não era uma novidade para mim, afinal foi exatamente assim que ela conseguiu arrebatar o coração de Calum no ensino médio. No entanto, o modo como ela estava usando atualmente que me deixava preocupada. Seu último romance não tinha saído como planejado, o que frustrou muito as suas expectativas e a levou para um outro extremo: o que não queria se apegar a ninguém. Eu sentia a dor de minha amiga e evitava ao máximo tocar no assunto, salvo o dia que ela anunciou que não tinha mais ninguém em seus planos futuros.