Nous - Capítulo 7

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O gosto azedo em minha boca foi a primeira coisa que me alertou que os eventos da noite anterior não tinha sido um pesadelo e minha cabeça latejou com a enxurrada de memórias que me atingiram de uma vez. Abri os olhos de supetão, encarando o teto bege familiar, porém que não pertencia ao meu dormitório. Calor irradiava nas palmas de minhas mãos, fazendo-me perceber que não estava desacompanhada. Calum tinha o corpo encolhido virado para mim, um dos braços dobrados debaixo de sua cabeça servindo de travesseiro ou encosto – como se ele tivesse me vigiado durante toda a noite – e a outra mão fechada ao redor da minha.

Lentamente virei minha cabeça e meu estômago revirou ao perceber que Jesse estava mais distante, com o braço livre pressionado em seus olhos, evitando olhar na minha direção. Talvez estivesse com raiva por não ter escutado o seu conselho, por mais que sua outra mão não abandonasse a minha. Em um movimento súbito, puxei minhas mãos para o meu corpo, pressionando-as em meu estômago revirado, massageando a área e esperando que aquela sensação incapacitante passasse.

Calum deu um pulo e se inclinou na minha direção, tirando os cabelos de meu rosto.

— Você está bem, Panda? — perguntou preocupado. — Está machucada ou...?

Balancei a cabeça.

— Não estou machucada. — também não estava bem. Pelo canto de olho vi Jesse se levantando sem dizer uma palavra e saindo do quarto. Claro que ele estava com raiva. Eu mesma estava com raiva de mim, mas ele podia tentar conversar, pelo menos. Vê-lo sair daquela maneira fez com que meu estômago apertasse novamente e saltei da cama. — Tenho que vomitar. — anunciei.

Corri para o banheiro com a mão na boca e puxei a tampa do vaso para cima antes de me ajoelhar, vomitando um líquido azedo. Meu corpo tremia e meus olhos se encheram de lágrimas tanto pelo esforço quanto pela culpa. Escutei passos suaves vindo em minha direção e alguém se abaixou atrás de mim, puxando meu cabelo em um rabo de cavalo e acariciando as minhas costas.

— Está tudo bem. — Calum garantiu continuando seu carinho em minhas costas. Balancei a cabeça, negando que estava bem. — Pode vomitar, Panda.

Apertei a descarga e o encarei com as lágrimas descendo por minhas bochechas. Calum franziu o cenho preocupado e tirou a mão que estava em minhas costas para limpar meu rosto.

— Sinto muito por ontem. — sussurrei com a garganta seca e o gosto azedo na boca. — Se eu não tivesse bebido tanto aquele cara não teria dado em cima de mim.

Calum pressionou o indicador em minha boca, insinuando que não precisava dizer nada. Seus grandes olhos castanhos suaves me fizeram ficar menos apreensivas, esperando que iria ser desculpada com mais facilidade.

— A culpa não é sua. — ele afirmou e sorriu. — Não precisa se desculpar, Panda.

Funguei.

— Mas Jesse está com raiva...

Uma movimentação na porta do banheiro me fez encarar Jesse parado com um copo de água e uma aspirina em cada mão. Era isso que ele tinha ido pegar quando se levantou da cama? Sua expressão estava suave, diferente do que eu esperava. Se abaixou ao meu lado e me ofereceu a aspirina. Abri a boca e ele a pôs em minha boca, entregando-me o copo de água em seguida.

— Não estou com raiva de você, Vega, pare de pensar isso toda vez que algo não dá certo. — ele pediu e eu assenti, sentindo o dorso de sua mão tocando suavemente minha bochecha. — A única pessoa que estou com raiva e que é a culpada é aquele idiota do bar. Quase não consegui dormir com vontade voltar lá e socar ele.

Bebi a água fazendo uma careta.

— Você me disse para não beber demais...

Ele sorriu.

TroisWhere stories live. Discover now