09 de fevereiro de 1979

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Na terça feira dos 06 de fevereiro de 1979, me encontrei com Júpiter por acaso em uma lanchonete na qual fui almoçar na hora em que eu saia do trabalho – 13 horas em ponto. Ele estava finalizando seu pedido quando cheguei. E no dia seguinte estive lá novamente e ele estava lá, então por acaso criamos um hábito amigável de se encontrar ali.
Na sexta feira daquela semana nos sentamos, como de costume, na mesma mesa. Eu sempre pedia um misto quente, mas resolvi inovar:

— Vou querer o cachorro quente. — Disse olhando para Júpiter com um olhar que o desafiava.

As vezes eu acho que aprendemos a ter uma linguagem corporal muito boa. Ele percebeu que eu estava sendo ousado, desta vez ele percebeu.
Mas por que não percebeu das outras?

— Vou no X- Salada. — Disse ele deixando seu velho x-burguer de lado de lado.

Ele vestia seu uniforme de trabalho.
Ele almoçava e retomava ao trabalho e eu iria para a casa. As vezes não falávamos muito, só o necessário pois isso era o suficiente, eu gostava apenas de sua companhia.
Nos sentamos cordialmente de frente um ao outro, eu ainda evitava olhares diretos a ele, pelo mesmo motivo que evitava querer ser olhado por aquele par de olhos verdes.

O garçom colocou em nossas mesas nossos pratos com os lanches perfeitos depois de alguns minutos. Por um momento eu quis assistir a cena, perdi o interesse o cachorro quente e me interessei pelo x-salada de Júpiter, o modo como ele segurava o pão, com suas duas mãos apertando ainda mais o lanche e o deixando afundar ao sentir seus dedos seguraram sem muita delicadeza. Ele mordeu aquele pedaço, como eu queria ser devorado da mesma forma pelos mesmo dentes perolados.

— Você quer um pedaço?

Talvez ele tenha percebido o modo como eu olhava com anseio e desejo em apenas ser e não em querer o seu lanche, mas ser ele. Fiz que sim, pois mal ele sabia que ao me oferecer seu lanche ele também oferecia para mim a si mesmo, o modo com delicadeza como qual morderia seu pescoço, seu ombro, seu bíceps ou sua bunda.
E após a mordida novamente ele passa seu dedão sob o canto da minha boca, limpando. Desta vez não me retrai, deixei ele terminar o que começou, queria ser tocado daquela e de outras formas pois queria que aquele seu dedo estivesse em outro local.

Depois daquela viagem erótica pelo simples fato de almoçar junto a ele, lhe ofereci um pedaço do meu cachorro quente, e ele aceitou.
Talvez estivéssemos nos oferecendo um para o outro em códigos, e isso me fazia imaginar em diversas formas como aquilo parecia sexy e casual de mais.
Ele mordeu o lanche e me olhou por debaixo do chapéu dizendo “eu queria estar te mordendo” sim, eu sabia agora ler seus olhares. Ou talvez eu estivesse tão obcecado por Júpiter, tão quanto sou pelo o universo, seus planetas, suas orbitas e seus planets que estivesse fantasiando tudo aquilo.
Mas se Júpiter estava me fazendo fantasiar daquele modo então ele era o homem mais cruel que eu conhecia, e isso ele sabia, pois algo em mim dizia que ele sabia brincar com minha mente. Na verdade Júpiter sabia brincar com a mente de qualquer um que o olhasse.

Seu bigode sujou de molho após morder meu cachorro quente, eu pensei em limpar, mas eu não tinha a mesma audácia de Júpiter,  que lambia o polegar e depois passava ele sutilmente em alguma parte do lábio. Será que lhe era uma mania? Se sim ela fazia isso em todos.

— Podemos fazer algo amanhã — sugeri

— Amanhã não dá Luís.

— Não?

— Não, vou me encontrar com ex-colegas da escola em que estudei, uma pequena confraternização

Por alguma razão ouvir aquilo me fez ficar enciumado, pois ele tinha outros amigos além de mim, algo óbvio, que eu já sabia, mas eu não imaginava que eu deixaria de ser importante. Se no final de semana fui com seus colegas de trabalho ao lago, por que não poderia conhecer esses também?
Isso me deixou frustrado, e automaticamente me senti trocado.

— Podemos nos ver no domingo.

— No domingo não dá. — Falei rapidamente.

— Não dá...?

— Não, não dá.

— E o que fará no domingo Luís?

Eu tinha que pensar em algo, mas levei muito tempo, então ele deu uma risadinha.
Eu odiava na mesma intensidade que amava essas risadas, pois toda vezes que ele tossia um riso, o apenas ria com aquele sorriso torto para o lado quase que perfeito eu sabia que ele havia lido minha mente, e sabia que ele sabia todas minhas verdades.
Dei um riso sem mostrar os dentes acanhado encolhendo os ombros feito uma criancinha de três anos.

— Podemos ir ao clube o que acha? — Ele deu uma pausa pequena — Ou ao lago, aposto que vai estar vazio. Até mesmo dar uma volta pela cidade no meu carro...

— Tanto faz.

Falei. Eu não queria parecer um rapaz ciumento com minhas amizades mas creio que talvez isso não tenha ficado claro. Júpiter coçou a nuca.

— Bom eu sei que você não curte lugares cheios.

— Gosto sim — eu estava querendo implicar com ele.

— E fica longe por quê?

— Gosto de criar teorias sobre as pessoas.

— Quais? — ele perguntou mordendo seu lanche.

— Tipo... Esta vendo aquela mulher ali... — aponto — Ela deve ser uma ladra de calças.

Ele deu um riso tapando a boca cheia em seguida.
Ficou vermelho e até mesmo se engasgou.
Eu ri da situação toda.

— Mas ela está de vestido — ele disse ainda rindo após recuperar o fôlego e engolir seu pedaço de lanche à seco.

— É só um disfarce. Tuchê! — falei rindo.

— É isso o que faz quando esta longe observando?

— Sim, é o que eu faço.

— Deixe-me tentar... Ç

— Voilà!

Ele deu uma olhada rápida.

— O velho da porta, mexendo na xicara de café.

Observei.
Quem toma café no horário de almoço?
O homem está sentado e engravatado, usa um chapéu clássico como uma cartola.
As vezes esqueço com essa cidade é antiquada, tanto nas coisas quanto nas pessoas que parecem parada nos anos 50.
Ele me parecia triste. Sem expressão mexendo a o café em um desânimo.

— Esta triste pois pegou a mulher com outro. Se olhar bem em sua mão, vai ver a marca da aliança.

— Muito detalhe.

Júpiter reparou em algo que eu não repararia a não ser que fosse nele mesmo. E Júpiter tinha uma pequena marca esbranquiçada tal como o tom verdadeiro de sua pele sem aquela cor bronzeada natural no dedo.

— Você também tem marca de aliança, significa o mesmo?

Sua expressão endureceu ao ouvir o que eu havia dito. Parecia ter ficado sem graça, sem expressão tanto quanto o senhor e sua xícara de café.

— Me perdoe, falei algo errado?

— Não. — ele respondeu seco e ríspido.

Ficou um silêncio tenebroso.

— Ela faleceu, tirou a própria vida estávamos noivos... Mas já vivíamos juntos.

Eu acreditava que Júpiter não tinha uma historia, não uma trágica, presumo que ele fosse o tipo de cara forte e que não passa por perrengues da vida. Agora vejo o contrario.

— As vezes as pessoas se cansam Luís. Cansam da vida que tem, por não ser aquilo que elas projetaram, e não sabem lidar com as dificuldades. Viver é se arriscar. Me culpei durante anos e talvez acho que ela quisesse fazer com que eu me sentisse culpado já que nosso relacionamento estava dando com burro nas aguas.

— Entendo.

— Não, eu não entendo. Não há dor maior do que se achar responsável por tirar a vida de alguém, mesmo que isso fosse verdade, as vezes nós lidamos com a dificuldade de lidar com problemas, mas se envenenar é algo que está fora de cogitação em minha mente.

O Universo Tem Nome Where stories live. Discover now