26 de fevereiro de 1979

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Na semana que se seguiu, eu havia apagado Júpiter de minha mente, eu realmente apaguei Júpiter de minha mente, como se ele houvesse sumido. Agora eu pegava o primeiro ônibus ao sair do trabalho, almoçava em casa. Tinha tempo para pensar em mim.
Era o que realmente eu queria que acontecesse, mas eu me sentia morto por dentro, como se algo houvesse machucado minha alma, eu sentia falta dele, falta de seu sorriso, mas agora quem estava evitando ele era eu, pois eu sentia tanta falta que não queria sentir a sensação de ter, para então sentir perder novamente.

No meu aniversario, no dia 26 de fevereiro de 1979 ganhei uma folga, e por fim era semana de festejar. Não me importava não saia de casa nos meus aniversários quem dirá em feriados carnavalescos.
Estava deitado em minha cama, observado o teto como eu sempre fazia quando estava muito entediado, sem pensar em nada.
Minha mãe deu leves batidas na porta.

— Terra chamando Luís — Ela disse como se estivesse fazendo um sinal telefônico com as mãos.

— Luís na escuta câmbio — falei fazendo sinal radinho com uma das mãos a olhando.

Ela entrou.
Usava um vestido, sempre de vestido.
Era moda. Minha mãe adorava a moda.

— Parece tristinho, estou notando isso há uma semana. Aconteceu algo filho?

— Não mãe. Nada — e eu queria dizer a ela que fui traído e trocado pelo meu novo amigo.

Ela me olhou com um olhar duvidoso.
Então tirou uma caixinha das mãos, a onde ela estava escondendo aquilo? Se sentou ao meu lado na cama e eu me sentei no meio da cama após levantar meu corpo.

— Feliz aniversário amor — ela disse me dando a caixinha.

A caixinha macia de veludo azul clarinho, abri a mesma e era uma corrente de prata, com um pingente bem pequeno de um foguete achatado. Eu havia amado.
Logo imaginei o que meu pai sentiria ao ver eu usando aquilo.
Mas eu estava cansado de ser um Luís de mentirinha.
Por mais infantil que fosse, eu ser fanático pelo universo, aquilo fazia parte de quem eu era, um amante do universo e dos planetas, das magnitudes desconhecidas.
Eu certamente era o homem que Júpiter dizia quem eu era, o cara que gosta de bagunçar o correto.
Coloquei a corrente.
E abracei minha mãe por um longo tempo. Queria poder dizer o quão ela era incrível, mas era difícil expressar esse tipo de emoção. Dizer que ama alguém quando já sabem que amamos parece difícil.

— Eu sei que não gosta de festas. Então não sei o que poderia de fato tornar seu dia especial. — disse ela.

Eu sei mãe. E sei que parece estranho mas é um homem.
Um outro homem, um homem que sinto falta, que tem os cabelos castanhos tão claros que parecem louros, os olhos verdes como musgo, e o sorriso torto que prende e arrebata todos que o merece.
Eu sei o que pode tornar hoje especial e o resto da minha vida também.

— Está tudo bem mãe, já está sendo especial.

A verdade é que os dias de aniversários são feitos para você esperar o inesperado que nunca acontece e isso nós chateia.

Meu pai me presenteou com um bolo, e fiz daquele meu melhor aniversario, afinal os dois amores da minha vida estavam presentes. Meu pai, minha mãe. Meu irmão me ligou horas mais tarde para me parabenizar, ele e a mulher dele a Amanda.

A semana se seguiu, e eu já estava quase aprendendo a lidar com a ausência do Júpiter. Eu evitava andar pelo Centro da cidade,  antes de conhece-lo eu nunca havia o visto em nenhum lugar, mas depois de conhecer, Júpiter estava em todos os cantos. Em todos os lugares.
Eu o idolatrava, como idolatrava o universo, como idolatrava os planetas, e as estrelas. Sentia falta dele todos os dias.

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